Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu Banco Central Selic juros

O que falta para a taxa de juros do BC cair mais rápido

Inflação para 2025 está na meta, na conta do Banco Central, que mantém ritmo de cortes

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A inflação de 2025 deve chegar à meta, segundo as contas do Banco Central. O IPCA do ano que vem seria de 3,2%, um preciosismo acima do objetivo de 3%, segundo o "cenário de referência" do BC, mesma projeção de dezembro.

Qual é a base desse "cenário"? Espera-se que a Selic, a taxa básica de juros, baixe aos poucos até 9% ao ano em setembro e por aí permaneça até dezembro (é a atual mediana das projeções de economistas de "o mercado"). Que os preços de dólar e petróleo se comportem como projeta o BC, embora apenas os céus saibam o que será dessas cotações. Que o preço da eletricidade siga sob "bandeira verde".

Copom faz primeira reunião com nova composição, após chegada de diretores Rodrigo Teixeira (primeiro à esq.) e Paulo Picchetti (terceiro da dir. para esq.) - Raphael Ribeiro/Banco Central do Brasil

Isso quer dizer que a Selic real, descontada a inflação, estaria perto dos 6% no final deste 2024, se ficar estacionada por aí. É horrível e um desestímulo econômico. Para o cotidiano do cidadão comum que pega empréstimos quaisquer, quer dizer que vai ser possível notar diferença maior no arrocho apenas a partir de lá pela metade do ano.

Não houve novidade maior no comunicado em que o BC informou a sua decisão de baixar a Selic de 11,75% ao ano para 11,25%. Nas próximas duas reuniões, afora sacolejos maiores, a Selic cairia no mesmo ritmo, para 10,25%.

No atacadão do mercado de dinheiro, onde, grosso modo, se definem as taxas de empréstimo para o governo, o piso dos juros, a inércia é parecida. As taxas de prazo maior do que dois anos caíram apenas um tico em relação a agosto de 2023, quando o BC começou a diminuir a Selic. A taxa real de juros de um ano está em 6% ao ano na praça do mercado.

Como tem estado óbvio, os donos do dinheiro esperam saber: 1) O que vai ser da taxa de juros nos EUA (que influencia o piso dos juros por aqui); 2) O que vai ser da meta fiscal de Lula e da arrecadação de impostos. Isto é, querem saber se a mexida na meta de "déficit zero" será grande e qual o tamanho do déficit, dadas a disposição (ou não) do governo de conter gastos e a arrecadação federal, que foi mal no ano passado.

O BC reafirmou, bidu, que a manutenção da meta de "déficit zero" é essencial: "...o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas". Uma situação fiscal menos perturbadora deve reduzir expectativas de inflação por aqui, caso não haja confusão nos EUA ou outro acidente.

"O mercado" ainda espera inflação de 3,8% em 2024 e de 3,5% em 2025 (ou ao menos isso é parte do preço que cobra para manter seus ativos em reais e que está na base das contas do custo do dinheiro). Se houver mexida maior na meta fiscal, vai dar besteira.

Em resumo, afora desastres ou milagres, não vamos saber de grande novidade até lá por março. A próxima decisão do BC sobre a Selic ocorre em 20 de março, mas talvez apenas em 8 de maio (na reunião seguinte) a turma se sinta confortável de alterar sua perspectiva.

O BC tem dado ênfase à situação internacional, com uma visão um tico mais otimista. O primeiro parágrafo do comunicado desta quarta-feira trata do "ambiente externo". Isto é, das idas e vindas dos humores dos donos mundiais do dinheiro grosso a respeito do que será da inflação no mundo rico e de quando pode sobrevir um corte de juros nos EUA. Este "...cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes". Mais adiante, lê-se no comunicado que "...a conjuntura, em particular devido ao cenário internacional, segue incerta e exige cautela na condução da política monetária". Dos quatro fatores de risco (de alta ou de baixa da inflação) citados, três dizem respeito à economia internacional.

Para quem acha que isso possa fazer diferença, recorde-se que, agora, quatro dos nove integrantes da direção do BC são nomes indicados por Lula. A decisão desta quarta foi unânime.

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