Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu PIB

Delírio de grandeza e culto da personalidade inventam o PIBão do Lula

Bom resultado de 2023 estimula onda de propaganda enganosa e de ignorância

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A economia cresceu bem em 2023. Para a propaganda oficial, foi o "PIBão do Lula".

Os replicantes da militância disseminaram o slogan e saíram à caça mesmo de quem apenas discutia o que é preciso fazer para que o crescimento seja maior. Tentavam linchar quem recorresse a um "foi bom, mas..." na conversa. Tem de haver rendição incondicional ao grande líder.

Se a besteira não tivesse consequências práticas, seria cômica.

Um terço do crescimento de 2023 veio diretamente da agropecuária. No mundo Mad Max oligofrênico das redes sociais, a gente lia que o agro foi muito bem em 2023 porque Lula fez o "maior Plano Safra da história". Mas o plano para a safra que inflou o PIB de 2023 fora o de 2022, no governo das trevas.

Mais crédito não resulta necessariamente em safra maior. A de 2024 será menor. Deve tirar pontos do PIB deste ano, por causa de tempo ruim. Embora o lulismo-petismo acredite que Lula faça chover e ventar, a safra não terá diminuído por causa do presidente.

O "PIBão do Lula" cresceu 2,9% em 2023. Em 2022, sob Jair Bolsonaro, cresceu 3%. Foi o "PIBão do Bozo"?

Nesses termos, a conversa é idiota. Um governante até pode anabolizar o PIB de um ano, se não exagerar na dose (pois o tiro sairia pela culatra). Mas logo efeitos colaterais aparecem. No curtíssimo prazo, um ano, influências internacionais, acasos, momento do ciclo econômico e estrutura da economia vão ter mais impacto em resultados positivos do que a ação governamental naquele momento. Boa parte do efeito duradouro de um bom governo em geral aparece depois que um presidente deixou o cargo.

Máquina agrícola é usada em lavoura de milho em Maringá (PR); agro ajudou PIB em 2023 - Rodolfo Buhrer - 13.jul.2022/Reuters

Militantes e crentes também faziam troça dos erros de previsão dos economistas, a maioria ligada à finança, no caso. Até aí, tudo bem, pois o vexame foi grande. Mas o crítico, que não sabe o que é PIB, investimento ou aritmética, atribui o erro à conspiração de "o mercado" contra Lula (de quem não gostam mesmo).

Pois bem. Para o ano do "PIBão do Bozo", crescimento de 3%, "o mercado" previa alta de 0,36%. Para o ano do "PIBão do Lula", de crescimento de 2,9%, "o mercado" previa alta de 0,8%. Erraram mais com Bolsonaro. Conspiraram contra o "mito" deles?

O Brasil voltou a ser a "9ª economia do mundo", com "Lula bom de serviço" (era a 11ª em 2022), comemora a propaganda. Esse ranking do PIB em dólares correntes é baseado em dados do FMI, alguns deles ainda estimativas. Note-se que, em PIB por poder de compra, o Brasil continua em 8º lugar.

É fácil perceber que a variação do PIB em dólares depende das variações de taxa de câmbio e PIB. O PIB do Brasil em reais cresceu em 2012, 2013 e 2014, mas nesses anos foi menor em dólar do que em 2011. Teria sido por culpa de "Dilmãe" Rousseff?

Quanto ao PIB per capita (corrente), uma medida de padrão de vida, o Brasil está em 82º lugar, uma pobreza triste. O ano de 2010, sob Lula 2, foi o melhor desde 1980. O Brasil ficou em 60º lugar.

Quanto a PIB, o Brasil logo deve passar a Itália (8ª, que não cresce faz décadas). A fim de ultrapassar a França (7ª) seria preciso haver uma composição de desvalorização do euro e alta relativa do PIB do Brasil de mais de 43% —está longe. E daí? Nada. Isso é conversa bananeira, "Brasil Grande".

Desde 2011, com Dilma, com tudo, o Brasil encolhe, relativamente. O PIB per capita é apenas 14% do americano, 79% do chinês, 64% do chileno, 19% do povo das "economias avançadas".

Mas a gente acha que o dedo de ouro de um "painho" presidente é que resolve, metendo a mão em empresas, gastando de modo ineficaz etc. A gente não discute aumento de produtividade (que eleva o padrão médio de vida) e investimento; detesta escola, ciência e educação infantil de criança pobre. A gente tem delírio de grandeza e cultua líder.

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