Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Na república do chilique, ministro leva faca no pescoço e governo se afoba

Lira quer a cabeça de articulador político de Lula, PT e centrão querem a Saúde

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Arthur Lira (PP-AL) é presidente da Câmara, premiê do semipresidencialismo de avacalhação que governa o Brasil e sultão de todos os centrões. Ou achava que era. Sentiu uma ameaça precoce ao seu poder, que em tese terminaria apenas no final do ano. Também está fulo com a inadimplência das dívidas políticas de Lula 3 (emendas, cargos, favores para empresas etc.).

A Câmara manteve na prisão do STF esse deputado Chiquinho Brazão, acusado de mandar matar Marielle e Anderson. Lira jogou mal, desta vez, e perdeu, opinião difundida na fofoca de Brasília. Lira acha que o governo plantou essa história.

Sentindo-se ameaçado, Lira encostou uma faca no pescoço de Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais de Luiz Inácio Lula da Silva, chefe de articulação política. Como se sabe, disse agora em público que Padilha é seu "desafeto pessoal" e "incompetente".

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira - Pedro Ladeira/Folhapress

E daí? O que importa mais essa conversa de Brasília, a república do chilique? Na semana passada, o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) disse também em público, em outros termos, que o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, é um desafeto incompetente.

Prates escapou vivo da facada, se arrastou sangrando até Brasília, pediu ajuda a senadores e ganhou um esparadrapo de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, entre outras bandagens. Por ora, em repouso, vai ficando no cargo.

A ministra Nísia Trindade (Saúde) está na mira faz meses. Não levou facada, mas está sendo envenenada. O centrão quer a cabeça dela, faz muitos meses; o PT quer manter o controle dos cargos no ministério. As cenas da disputa envenenada são públicas, agora até com nomes de substitutos plantados nos jornais.

O clima no Congresso está ruim desde o início do ano, também porque a Fazenda quis reaver, de modo destrambelhado, dinheiros de concessões tributárias a empresas e prefeituras, graça dos parlamentares.

Há mais avanços contra o Tesouro: de ministros, de parlamentares, de empresas e de estados, que querem perdões de dívida, com apoio de Pacheco, do Senado.

É fácil perceber, pelo sumário anedótico, que a baderna é grande. Pode piorar, com o veto de Luiz Inácio Lula da Silva ao fim das "saidinhas" de presidiários.

Não bastasse tal desordem, um governo exageradamente preocupado com a baixa de popularidade, até pequena, começa a procurar "medidas" em série a fim de turbinar a economia ou de fazer graças demagógicas, o que bagunça também políticas racionais.

Silveira veio com esse desconto da conta de luz que não vai dar certo. Apenas um dia depois da medida provisória, o governo faz uma reunião a fim de ouvir de especialistas o que fazer do setor elétrico. Haddad (Fazenda) diz que não há dinheiro para o reajuste dos servidores públicos —Lula diz que pode haver. Lula quer intervir na Petrobras, mas não sabe como, o motivo de "Silveira vs Prates". Etc.

Lula quer mais crédito na economia. Vaza que a Fazenda teria um projeto de liberar os bancos a dar mais empréstimos e de criar um mercado de securitização de dívidas imobiliárias. Isto é, que bancos possam vender seus empréstimos imobiliários a quem queira ficar com o risco de receber as prestações desses financiamentos (assim, podem emprestar mais). Mas o governo quer que uma empresa estatal compre esses títulos, essas dívidas imobiliárias.

Um mercado de securitização até pode ser boa coisa. Pode ser coisa muito ruim: bancos desovando na praça empréstimos ruins, sujeitos a calote, talvez em uma empresa estatal, a Podrebrás, a mãe dos micos.

A ansiedade pode dar em medidas afobadas, ineptas, perigosas ou em gambiarra demagógica aberta. A desordem da coordenação do governo engrossa e envenena ainda mais esse caldo.

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