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Esta coluna é uma parceria da Folha com o Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getúlio Vargas (FGV Cepesp).

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Deus e o Diabo na Terra do Sol?

Evangélicos, mais assíduos nos cultos, ficam mais expostos às mensagens políticas dos seus líderes

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Claudia Cerqueira

É doutora em Administração Pública e Governo (FGV/EAESP) e pesquisadora no FGV CEPESP

Depois da "polarização", um dos temas mais quentes quando falamos de eleições são os evangélicos —um ator importante e, cada vez mais, tido como decisivo nas eleições.

O Brasil tem vivido dois fenômenos: o primeiro é a transição religiosa, marcada pela queda no número de fiéis da Igreja Católica e pelo aumento vertiginoso dos grupos evangélicos nas últimas décadas. Enquanto o Censo não vem, pesquisa Datafolha aponta que 50% dos brasileiros se declaram católicos, enquanto 31% se dizem evangélicos. Nesse ritmo, é possível que, em 10 anos, eles ultrapassem os católicos.

O segundo fenômeno, decorrente do primeiro, trata da crescente presença dos evangélicos na arena política —cuja participação já parece consolidada e tem como símbolo a bancada evangélica (que aumenta a cada legislatura) e a influência de líderes religiosos no debate público.

Urna eletrônica que será usada nas eleições deste ano - Rubens Cavallari - 22.ago.22/Folhapress

Para entender a participação desse grupo nas eleições, destacamos três pontos já documentados pela Ciência Política: ao contrário do que se pode supor, a adoção de alguma denominação religiosa no nome de urna (as chamadas "pistas eleitorais") não é uma tática eficaz —ou seja, um candidato cuja única estratégia é adotar "Pastor João" tem pouca chance de ser eleito.

Isso porque, ao longo das últimas décadas, o desempenho eleitoral desses políticos evangélicos deixou de estar ancorado em candidaturas avulsas associadas à vinculação religiosa e passou a depender do apoio da igreja —que pode, na prática, operar como um partido político.

Por fim, assim como ocorre no mercado religioso, as igrejas também competem entre si na arena política —disputando eleitores, em vez de fiéis, descartando a ideia de uma atuação conjunta entre igrejas evangélicas de diferentes denominações.

Se, por um lado, já temos conhecimento consolidado sobre os candidatos, por outro, ainda sabemos pouco sobre os eleitores evangélicos. O que, em seu comportamento, os diferencia dos outros eleitores?

Os evangélicos frequentam mais a igreja, na média, do que adeptos de qualquer outra religião presente no Brasil. Logo, sua presença assídua aos cultos os torna mais expostos às mensagens políticas dos seus líderes religiosos – prática proibida pelo TSE, mas bastante difundida em época de eleição.

Quando perguntados sobre suas preferências ideológicas, ou seja, se simpatizam mais com a direita ou com a esquerda, os evangélicos, na média, não diferem muito dos outros grupos religiosos. Fenômeno curioso, contudo, pode ser observado na rodada Lapop (pesquisa realizada pela Universidade de Vanderbilt em 18 países da América Latina) de 2018, ano da eleição mais polarizada no Brasil desde a redemocratização.

Nela, os evangélicos aparecem com tendências "mais à direita", com destaque para a radicalização dos neopentecostais (possivelmente motivadas pelas declarações de apoio a Bolsonaro pelos seus líderes religiosos).

Além disso, outro fato que chama a atenção quanto às preferências dos evangélicos é a diminuição da "simpatia" pelo PT a partir de 2012 – antecipando um movimento antipetista que só ocorreu com mais força para o eleitorado em geral de 2016 em diante.

Essa análise exploratória nos dá pistas sobre o perfil deste eleitorado, sob que aspectos ele se diferencia dos adeptos das demais religiões e, principalmente, sobre que estratégias os candidatos, de olho neste grupo, precisam adotar para conquistar o tal do "voto evangélico".

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