Walter Casagrande Jr.

Comentarista e ex-jogador. É autor, com Gilvan Ribeiro, de "Casagrande e seus Demônios", "Sócrates e Casagrande - Uma História de Amor" e "Travessia"

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Walter Casagrande Jr.
Descrição de chapéu Rock in Rio

Minha loucura de Rock in Rio teve AC/DC, Ozzy, Pepeu e Baby

Em 1985, fomos de carro ao Rio, após o treino, viver uma das noites mais incríveis da minha vida

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Chegamos à 9ª edição de um dos festivais mais importantes do universo do pop rock mundial, o Rock in Rio.

A meu ver, o evento perdeu a essência faz tempo, mas essa é a visão de quem é roqueiro desde garoto e tem como base o 1º Rock In Rio, de 1985.

A história desse festival começou em 1981 no Morumbi, com o primeiro grande show de uma banda de peso no Brasil: o Queen.

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O cantor Ozzy Osbourne durante apresentação no Rock in Rio - Renata Falzoni - 16.jan.1985/Folhapress

Como vivíamos numa ditadura militar, o país era fechado para atrações estrangeiras, principalmente do rock, cujo lema era "o rock é atitude". Isso era exatamente o que os generais não queriam da nossa juventude.

Na metade dos anos 70, veio o Alice Cooper no Anhembi e o Rick Wakeman no ginásio da Portuguesa, mas nada igual a um show de uma banda em arena.

Com o sucesso do fabuloso Freddie Mercury em um estádio, surgiu a ideia de um grande festival.

Em 1985, vieram para o Rock in Rio músicos que, na época, a gente jamais imaginaria ver aqui. Foram dez dias sem pausa, durante as férias de verão, algo inacreditável.

Nem tudo foi perfeito, a começar pela ausência absurda de Raul Seixas, em parte compensada por uma homenagem da maravilhosa Rita Lee.

Os mais radicais reclamavam: "Pô, Ney Matogrosso não é rock". Eu me revoltava com isso, porque o Ney surgiu numa das maiores bandas do rock nacional, o Secos & Molhados.

Também diziam: "Moraes Moreira não rock". Só que foi um dos principais nomes dos Novos Baianos, que tocavam de tudo. Um dos rocks psicodélicos que mais amo é "Mistérios do Planeta", na voz do meu amigo Paulinho Boca de Cantor, com um solo de guitarra do gênio Pepeu Gomes.

Alguns realmente não eram do rock, mas eram espetaculares. Com o passar dos anos, o festival foi ficando mais pop do que rock.

Tem muita gente que eu gostaria de ter visto num palco para 200 mil ou 300 mil pessoas, como Deep Purple, Gênesis, Ronnie James Dio e Eric Clapton. Os Rolling Stones, que vieram várias vezes ao Brasil, assim como Paul McCartney, Ringo Star e Kiss, nunca pisaram no Rock In Rio. George Harrison teria tido chance de vir nas duas primeiras edições. E como seria ter ali Ramones e Dead Kennedys?

Voltando a 1985, fui para o Rock in Rio no dia 19 de janeiro com o saudoso Sollitinho, amigo da época de juvenil no futebol, e do lateral direito Ismael, todos do Corinthians.

Era sábado. Treinamos pela pela manhã e saímos umas 14h no meu carro, pela rodovia Dutra. A noite era do heavy metal, começando com Pepeu e Baby. Eu tinha um pôster do Pepeu no meu quarto, do disco dele no Festival de Montreux, de 1980. E Baby, bom, sem palavras.

Vimos ainda Withesnake, Scorpions, Ozzy (sem o Black Sabbath), fechando simplesmente com AC/DC.

Foi uma das noites mais incríveis que passei. Dormimos no carro, na porta da cidade do rock. Acordamos de ressaca, tomamos café na padaria ao lado e voltamos para Sampa, porque na segunda tínhamos treino.

Agora, assisti pela TV ao show da sexta (3), noite do Hard Core e do Heavy Metal. Vi também João Gordo.

A energia do público é contagiante mesmo pela TV. Dá vontade de estar lá gritando e pulando. Mas hoje, meu joelho não me dá trégua. Vi ainda Mattanza Ritual, Sepultura, Surra e Cripta. O que mais mexeu comigo foi a banda Gojira, que levou indígenas ao palco e cantou "Amazônia".

É emocionante quando as bandas gringas alertam para a destruição da floresta e dos povos indígenas cometida pelo governo mentiroso, perverso e covarde de Jair Bolsonaro.

No sábado (4) tivemos Racionais MC’s, do meu amigo Mano Brown. Foi mais uma noite de atitude na cidade do rock.

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