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Marcos Augusto Gonçalves

Relembre Rock in Rio de 1985 com Queen, Cazuza e Tancredo Neves eleito

Primeiro evento, com show do Paralamas e Waly Salomão nos bastidores, deixou memórias nem sempre narráveis

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Começou sacudido o ano de 1985. No dia 11 de janeiro, este jornal reservou o principal destaque de sua primeira página ao Rock in Rio, que estreava naquela noite. Fotografia e chamada sobre a primeira edição do festival vinham no alto, logo abaixo da manchete, que versava sobre um "trem da alegria" no Senado.

Vista de multidão durante show do Rock in Rio de 1985 - U. Dettmar/Folhapress

Naquela sexta coube a Ney Matogrosso abrir o esquenta de brasileiros para as atrações internacionais. Erasmo Carlos, Pepeu Gomes e Baby Consuelo completavam a entrada antes do prato principal, o rock pesado de White Snake, Iron Maiden e Queen.

O "evento mais importante do calendário musical" daquele ano durou dez dias e coincidiu com a eleição de Tancredo Neves para presidente da República, pelo voto indireto do Colégio Eleitoral, pondo fim a mais de 20 anos de governos militares ditatoriais.

No dia 15, quando Tancredo foi eleito, a programação seguia com as bandas AC/DC, Scorpions, Barão Vermelho e Kid Abelha —e o cantor Eduardo Dusek. Pouco antes da abertura dos portões soubemos que o Brasil teria, enfim, um governante civil, ainda que eleito pelo voto indireto.

Capa da Folha do dia 11 de janeiro de 1985, destacando o Rock in Rio
Capa da Folha do dia 11 de janeiro de 1985, destacando o Rock in Rio - Acervo Folha

Artistas e plateia se deixaram contaminar pela novidade. Cazuza mandou um "pro Brasil nascer feliz" ao cantar um dos sucessos do Barão Vermelho e até mesmo o Kid Abelha, que era considerado um grupo meio alienado, levou ao palco uma bandeira brasileira —naquela época o pavilhão nacional não tinha sido capturado pelos bolsonaristas e podia ser usado à esquerda ou à direita, além de acenado em jogos da seleção.

No dia seguinte, no fim da tarde, os Paralamas, que ainda não tinham atingido o sucesso, fizeram um show arrasador de power trio. Herbert Vianna falou sobre a situação política antes de a banda atacar o hit "Inútil" do Ultraje a Rigor. Também naquela época Roger, o líder do Ultraje, não era visto como uma figura tóxica de direita.

Paralelamente ao Rock in Rio se organizou uma festa política mais para a MPB no Circo Voador, que contou com a presença de Chico Buarque e Caetano Veloso.

Estive lá no festival roqueiro com a equipe da Folha (Norma Couri, Matinas Suzuki Júnior, Alfredo Ribeiro, Pepe Escobar e a repórter fotográfica Renata Falzoni, entre outros) e vivi boas aventuras, nem sempre narráveis. Algumas recordações ainda estão na memória após todos esses anos.

Eu me lembro bem, por exemplo, do poeta Waly Salomão ao meu lado, no backstage, adorando ver Freddie Mercury, vocalista do Queen, e também de Fernando Gabeira chegando animado para o show do Yes. Não esqueço a apresentação gloriosa do B-52's com a Tina Weymouth, baixista dos Talking Heads.

E a chuva que caiu naqueles dias e enlameou tudo, mas deu ao evento aquele ar de festival raiz, heavy metal, que não era para fracos e fracas.

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