Walter Casagrande Jr.

Comentarista e ex-jogador. É autor, com Gilvan Ribeiro, de "Casagrande e seus Demônios", "Sócrates e Casagrande - Uma História de Amor" e "Travessia"

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Walter Casagrande Jr.
Descrição de chapéu Copa do Mundo 2022

Momento do Brasil não é de todos juntos, muito menos de salve a seleção

A grande maioria dos jogadores não foi à luta quando o povo mais precisava

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Estamos a poucos dias da abertura da Copa do Mundo de 2022, no Qatar. Mas onde está o entusiasmo?

Apesar das propagandas forçadas, principalmente aquela com a música do meu saudoso amigo Gonzaguinha, "Vamos à Luta", desta vez a Copa está mais forte do lado comercial do que na paixão da torcida brasileira.

Comentários nada espontâneos denunciam que parece ser obrigatório dizer que a seleção é a grande favorita e é proibido falar que não gosta do time. Quem critica é chamado de pé frio.

A grande maioria desses jogadores não foi à luta quando o povo brasileiro mais precisava que os ídolos do futebol falassem algo. Não falo de partido nem de político, mas das dificuldades que a nossa sociedade vem enfrentando.

Como fazer um clipe com o verso "Eu acredito na rapaziada", se essa rapaziada não acredita na gente?
Os meios de comunicação esportivos dão a ideia de que a população está unida num só pensamento, torcendo pela seleção, como naquela música da Copa de 70: "Todos juntos vamos, Pra frente Brasil, Salve a seleção".

O nosso momento não é de todos juntos, muito menos de salve a seleção.

Temos ainda a radicalização dos que perderam as eleições, que pedem intervenção militar. A camisa amarela, que sempre vestimos em época de Copa, foi usurpada por golpistas espalhados pelas ruas.

A estreia do Brasil será no dia 24, contra a Sérvia, em menos de uma semana, e parece que nada está acontecendo. Tem sido um fracasso a venda das camisas amarelas, tanto é que a marca esportiva oficial e a CBF estão tentando desconectar a camisa da seleção dos bolsonaristas. Mas como, se a própria CBF promoveu uma camisa com o número 22? Tenho amigos donos de lojas que devolveram a camisa amarela. Só há azuis e pretas.

Jogadores posam com Bolsonaro, que segura o troféu
Jogadores da seleção brasileira comemoram a conquista da Copa América de 2019 ao lado do presidente Jair Bolsonaro - Carl de Souza - 7.jul.19/AFP

Essa situação não é só obra do momento político, mas também pela Copa ser num país que vive em ditadura, sem respeitar os direitos humanos, e por ser no final do ano, o que nunca aconteceu.

A Fifa não respeitou os apaixonados por futebol e Copa, e cedeu aos petrodólares do Qatar, país sem nenhuma tradição no futebol e que trata trabalhadores imigrantes, principalmente da Índia e do Nepal, como escravos.

Um lugar onde as mulheres são tratadas como seres inferiores e totalmente homofóbico, como deixa claro o documentário "Esquemas da FIFA", da Netflix.

Embaixador da Copa do Qatar, o ex-jogador Khalid Salman disse numa entrevista que ser homossexual é um haram, ou seja, um pecado para o Islã. "É um dano mental".

Pelo mundo afora, torcedores e atletas estão protestando, em vez de se entusiasmarem com a Copa.
Algumas seleções já estão por lá, como a favorita Argentina, mas parte da torcida já mostrou sua cara, com cantos racistas e homofóbicos. Será triste ver esse repertório sendo aceito, pois chancelado pelas leis do país.

A Fifa também está fazendo esse jogo, ao proibir a seleção dinamarquesa de treinar com a mensagem "Direitos para todos" em suas camisas.

Mesmo assim, é o principal torneio de futebol e o mais esperado no mundo, por ocorrer a cada quatro anos. E espero que continue assim, porque há um movimento para se fazer o Mundial a cada dois anos, o que para mim seria um grande erro.

Outra bola fora será o jogo de abertura, o menos atraente de todas as Copas: Qatar x Equador. A abertura deveria ter alguma seleção favorita em campo. Eu voltaria a fazer o jogo inaugural com a última campeã. Pelo menos não haveria o risco de se ter um jogo sem peso.

Enfim, vai começar a Copa, pessoal. E enquanto a seleção joga, mais de 30 milhões de brasileiros passam fome. "Pra frente, Brasil."

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