Estamos a poucos dias da abertura da Copa do Mundo de 2022, no Qatar. Mas onde está o entusiasmo?
Apesar das propagandas forçadas, principalmente aquela com a música do meu saudoso amigo Gonzaguinha, "Vamos à Luta", desta vez a Copa está mais forte do lado comercial do que na paixão da torcida brasileira.
Comentários nada espontâneos denunciam que parece ser obrigatório dizer que a seleção é a grande favorita e é proibido falar que não gosta do time. Quem critica é chamado de pé frio.
A grande maioria desses jogadores não foi à luta quando o povo brasileiro mais precisava que os ídolos do futebol falassem algo. Não falo de partido nem de político, mas das dificuldades que a nossa sociedade vem enfrentando.
Como fazer um clipe com o verso "Eu acredito na rapaziada", se essa rapaziada não acredita na gente?
Os meios de comunicação esportivos dão a ideia de que a população está unida num só pensamento, torcendo pela seleção, como naquela música da Copa de 70: "Todos juntos vamos, Pra frente Brasil, Salve a seleção".
O nosso momento não é de todos juntos, muito menos de salve a seleção.
Temos ainda a radicalização dos que perderam as eleições, que pedem intervenção militar. A camisa amarela, que sempre vestimos em época de Copa, foi usurpada por golpistas espalhados pelas ruas.
A estreia do Brasil será no dia 24, contra a Sérvia, em menos de uma semana, e parece que nada está acontecendo. Tem sido um fracasso a venda das camisas amarelas, tanto é que a marca esportiva oficial e a CBF estão tentando desconectar a camisa da seleção dos bolsonaristas. Mas como, se a própria CBF promoveu uma camisa com o número 22? Tenho amigos donos de lojas que devolveram a camisa amarela. Só há azuis e pretas.
Essa situação não é só obra do momento político, mas também pela Copa ser num país que vive em ditadura, sem respeitar os direitos humanos, e por ser no final do ano, o que nunca aconteceu.
A Fifa não respeitou os apaixonados por futebol e Copa, e cedeu aos petrodólares do Qatar, país sem nenhuma tradição no futebol e que trata trabalhadores imigrantes, principalmente da Índia e do Nepal, como escravos.
Um lugar onde as mulheres são tratadas como seres inferiores e totalmente homofóbico, como deixa claro o documentário "Esquemas da FIFA", da Netflix.
Embaixador da Copa do Qatar, o ex-jogador Khalid Salman disse numa entrevista que ser homossexual é um haram, ou seja, um pecado para o Islã. "É um dano mental".
Pelo mundo afora, torcedores e atletas estão protestando, em vez de se entusiasmarem com a Copa.
Algumas seleções já estão por lá, como a favorita Argentina, mas parte da torcida já mostrou sua cara, com cantos racistas e homofóbicos. Será triste ver esse repertório sendo aceito, pois chancelado pelas leis do país.
A Fifa também está fazendo esse jogo, ao proibir a seleção dinamarquesa de treinar com a mensagem "Direitos para todos" em suas camisas.
Mesmo assim, é o principal torneio de futebol e o mais esperado no mundo, por ocorrer a cada quatro anos. E espero que continue assim, porque há um movimento para se fazer o Mundial a cada dois anos, o que para mim seria um grande erro.
Outra bola fora será o jogo de abertura, o menos atraente de todas as Copas: Qatar x Equador. A abertura deveria ter alguma seleção favorita em campo. Eu voltaria a fazer o jogo inaugural com a última campeã. Pelo menos não haveria o risco de se ter um jogo sem peso.
Enfim, vai começar a Copa, pessoal. E enquanto a seleção joga, mais de 30 milhões de brasileiros passam fome. "Pra frente, Brasil."
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