Zeca Camargo

Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”.

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Zeca Camargo
Descrição de chapéu férias

Londres, como da primeira vez

Por ser um terreno tão familiar, resolvi explorar a capital britânica como nunca tinha feito

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Torre Elizabeth, onde fica o sino Big Ben, em Londres
Torre Elizabeth, onde fica o sino Big Ben, em Londres - Matt Dunham/AP Photo

Depois de Paris, Londres é a cidade que mais visitei na minha vida. Contribuem para isso algumas "distorções" do meu trabalho, como o ano em que, em um único mês, visitei a capital inglesa três vezes, sempre por conta de entrevistas com artistas do show business que escolhiam a cidade como cenário. A última vez que falei com Madonna, por exemplo, foi lá.

Por isso mesmo, por ser um terreno tão familiar, na última visita a Londres, nesta semana, resolvi fazer diferente. Não apenas me hospedar, mas explorar um espaço da cidade que era praticamente desconhecido por mim.

Decidi ficar em Shoreditch, um local meio afastado, por onde eu havia passado apenas esporadicamente: um brunch casual com meu irmão que durante um tempo morou lá; uma entrevista com Jamie  Oliver no restaurante que o lançou internacionalmente (Fifteen); uma exposição de um artista menos conhecido, mas cujo trabalho me deixa sempre curioso, numa galeria quase obscura.

Foram visitas pontuais, que raramente inspiravam explorações mais profundas. Nos últimos anos, raras eram as reportagens sobre o "renascimento cultural londrino" que não citassem a "ferveção" de Shoreditch –quando a vizinhança não era justamente o único foco do artigo. Para mim esses eram apelos distantes: na hora de escolher onde ficar, eu sempre acabava em Bloomsbury, Mayfair, Covent Garden.

A única vez que me arrisquei num endereço mais alternativo foi quando dormi no Mondrian à beira do Tâmisa, que fica, claro, do lado "errado" do rio. Não me arrependi, mas para ir por onde eu costumava andar, tudo era meio longe. O problema não era o hotel, claro, mas o meu roteiro, esse mesmo que eu insistia sempre em repetir. Mas e se eu fizesse tudo diferente?

Minha única obrigação dessa viagem era um pequeno compromisso profissional. De resto eu podia fazer o que quisesse com meu tempo.

 

Fora duas exposições altamente desejadas –Giacometti, na Tate Modern, e Andreas Gursky, na recém-reinaugurada Hayward Gallery–, não me sentia na obrigação de visitar mais nada. Havia uma certa hesitação (quase uma superstição) de não ir "nos lugares de sempre". Mas e se eu decidisse "quebrar com esses rituais", o que eu sairia ganhando?

Bem, uma cidade totalmente nova! Fui às duas mostras que mencionei e, de resto, resolvi me concentrar em Shoreditch. E foi a melhor coisa que fiz, pois eu tive de novo aquela sensação, vivida décadas atrás, de estar em terreno desconhecido, de encarar Londres como uma esfinge a te propor mistérios. E, claro, abraçar cada um deles com o prazer de uma descoberta.

Sim, estava longe do Big Ben, que, por sinal, está "fechado para reforma". Só vi a roda-gigante (London  Eye), voltando de táxi uma noite para o hotel na Shoreditch High  Street. Comi em restaurantes locais, dispensando até meu querido Busaba do Soho. Nem sequer fui ao Harvey Nichols ou a qualquer outra loja que para mim sempre foram paradas obrigatórias. Em compensação...

Provei delícias que eu nem esperava degustar; descobri artistas cujos trabalhos ficaram registrados na minha memória mais tempo que seus nomes; andei por ruas que não sabia onde iam dar; entrei num pub qualquer para uma Guinness sem frescura; comprei bobagens em lojas que nem sequer devem durar até o verão; e até uma loja de discos (lembra, discos?) eu achei. O que me fez esquecer do arrependimento de não ter ao menos visto a vitrine da Sounds of the Universe, meu templo musical no Soho.

Mais que tudo, circulei por uma Londres que eu mesmo não vivenciava desde aquelas tardes frias e escuras no inverno de 1980, quando pisei nessas calçadas pela primeira vez...

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