Zeca Camargo

Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”.

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Zeca Camargo

O mundo, 15 anos antes

Redes sociais tornam repetição de viagem feita em 2004 mais interessante

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Em termos cósmicos, 15 anos somam muito pouco. Aliás, nada. Numa escala humana, no entanto, quanta diferença!

Tenho pensado bastante nisso por conta de uma releitura que eu estou fazendo da volta ao mundo que dei 15 anos atrás. 

Maíra Mendes

Decidi fazer novamente o trajeto dessa aventura ousada, mas usando uma ferramenta que em 2004 apenas engatinhava: as redes sociais. E tudo parece tão distinto. É quase como se fosse outra volta ao mundo. Ou ainda, uma revolta!

O projeto começou, como você talvez se lembre, como um quadro do Fantástico, o programa que eu apresentava então. Abusando da interatividade, grande sensação televisiva de outrora, tive a ideia de convidar as pessoas para escolherem, entre duas opções, qual deveria ser meu destino a cada semana.

Uma insanidade, muitos dirão. Eu mesmo, ao anunciar várias decisões, era o primeiro a puxar o coro. 

Mas mesmo com todas as dificuldades que determinada escolha me trazia —pense na “facilidade” que era pegar um visto para as Filipinas em Bancoc!— eu sempre digo que faria tudo de novo. E, de certa maneira, é exatamente isso que estou fazendo no meu Instagram.

Mesmo com destinos já definidos, estou pedindo para que as pessoas que me acompanham votem a cada semana em duas opções —para ter pelo menos uma ideia de para onde o imaginário do turista de 2019 quer viajar. 

E, ainda que virtualmente, alcanço o que era o objetivo original daquela jornada: trazer as pessoas junto comigo.

Se antes elas acompanhavam pela televisão, agora posso trazer todos ainda mais perto nessa coisa maravilhosa que é a internet. 

Inesperadamente, sinto que todos estão mais próximos de mim desta vez —seja pela imediata reação toda vez que publico uma nova foto ou um novo vídeo, ou pela própria intimidade que esse tipo de comunicação nos permite, ainda que como uma ilusão.

Sinto que estou falando diretamente com as pessoas, ainda mais do que em 2004. 

Na última escala daquela viagem, ao encontrar um grupo de turistas brasileiras no aeroporto de Lisboa, ouvi de uma delas: “Mudamos nosso roteiro para ir naquele lugar que você mandou, Meteora”. Levei um certo susto, uma vez que, claro, não tinha mandado ninguém ir a lugar algum. Mas entendi o recado.

O que ela quis dizer é que, com minha reportagem nessa pequena cidade da Grécia, eu tinha inspirado ela e suas amigas a fazerem um desvio no seu percurso. É exatamente isso que está acontecendo agora também, e sinto isso de uma maneira ainda mais direta.

Nas minhas redes existem sempre dois tipos de comentários que me recompensam. O primeiro é do tipo: “Já anotei essa dica para quando eu passar por aí”. 

É um sinal lindo de que consegui provocar uma curiosidade, ainda que platônica, em alguém que sonha em viajar.

O segundo surge quando alguém marca outra pessoa e escreve: “Olha, ele foi naquele restaurante/museu/parque que a gente também amou!”. Essa interação me deixa ainda mais feliz porque me conecta não só com a expectativa de uma viagem, mas com a própria experiência dela. 

A sensação de que estamos unidos nessas descobertas é a coisa que mais distingue essa “revolta” de 2019 da “volta” de 2004. Faz com que eu me sinta um turista ainda mais poderoso, conectado, coletivo. Que é como a gente deve viajar sempre.

Claro que a superficialidade das redes traz desvantagens. Fico ainda perplexo com quem, sem ler as legendas —ou lendo sem captá-las de verdade—, crê que estou mesmo naqueles lugares agora. Isso sem se dar conta de que estou claramente mais jovem nas imagens que posto: aquele rosto de um jovem de 41 anos...

Detalhes menores diante do enorme presente que é viajar com centenas de milhares de seguidores de quem você vê o rosto. Não são os milhões que a audiência de TV trouxe na viagem original. Mas são rostos de verdade, turistas de alma, gente que interage e deixa, assim, o mundo mais interessante.

Numa escala humana e talvez até cósmica.

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