Zeca Camargo

Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”.

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Zeca Camargo

Quem tem medo de comida de rua?

Eu encaro tudo, mas uma vez, em Nova Déli, tive que pedir ajuda

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Você desembarca na estação Sala Daeng, em Bancoc, e seus olhos são sequestrados pelo caos. Sem saber direito em que focar, um curioso objeto chama a sua atenção de tanto que ele aparece à sua frente: um saquinho de comida.

A capital tailandesa tem a fama de ter a comida de rua mais deliciosa do mundo. E isso não é exagero. Desde o dia em que experimentei um desses saquinhos, me apaixonei, seduzido pelo cheiro primeiro, depois pelo sabor.


Viajantes mais melindrados talvez evitem experimentar algo num país estranho, no meio da rua. Eu mesmo acho que levei um tempo antes de criar essa coragem. Mas quando comecei a degustar pelas calçadas do mundo não parei mais.

Já perdi a conta de quantos restaurantes recomendei aqui neste espaço, em cidades tão diversas quanto Lima, Lisboa, Tiradentes, Johanesburgo, Kyoto, Maceió, Florença. Mas há um toque extra de aventura quando você decide sair da rotina e simplesmente se arriscar a pedir algo que o vendedor mal consegue explicar o que é, pelo menos não numa língua que você consiga entender.

São escolhas muitas vezes em cima do que o nariz registra: cheiro de castanhas assando numa tarde de inverno; o bacon fritando numa chapa; um caldo que lembra o aroma de um curry; a presença forte de um alecrim.

Raramente errei. Mesmo quando fui mais ousado, como numa noite em Rangun, Myanmar, quando, diante de uma seleção de espetinhos eu escolhi um cuja descrição do churrasqueiro era clara: cloaca de galinha.

Não, não era ruim. E não, eu não passei mal. Não repetiria, mas isso eu posso afirmar também em relação a boa parte dos pratos que experimentei em restaurantes recomendadíssimos em Londres...

Onde, aliás, existe também uma excelente comida de rua, como um passeio por Brick Lane numa manhã de domingo pode comprovar. Nova York é outra cidade grande que tem ambulantes de alta gastronomia, como se vê pelas filas da hora do almoço nas travessas da Quinta avenida.


Mas claro que há um charme especial em provar comida local de um lugar fora do circuito convencional, mesmo correndo riscos. Sim, eu encaro tudo, mas uma vez em Nova Déli, tive que pedir ajuda.

Passeando com Tuli, um grande amigo indiano, pelo bairro de Velha Déli, ele me sugeriu: "Só coma o que eu te entregar na sua mão". Nunca um conselho foi tão precioso.

Provei quase de tudo naquele calor tórrido da capital indiana. Mas tinha um cara que, agachado num balcão azulejado, quebrava uma casca como a de um biju com sua mão duvidosamente limpa e a mergulhava num caldeirão com um líquido doce e, talvez, apodrecido...

Mesmo com essa descrição terrível, fiquei tentado a degustar a iguaria, mas Tuli me proibiu de tocá-la. Só que ele mesmo comeu umas três porções. E está aí, forte até hoje!

Barraca de comida em rua de Bancoc, Tailândia - Lillian Suwanrumpha/AFP


Voltando a Bancoc, para convencer quem ainda tem receio de comer algo nas ruas da cidade, os grandes shoppings resolveram levar as barracas de comida para dentro deles. E ninguém fez isso melhor que o Icon Siam.

Na infinita competição para ser o endereço mais luxuoso da cidade, esse relativamente novo complexo comercial foi ainda mais ambicioso: reproduziu uma vila urbana no seu subsolo! Tipo Disney...

A sensação é mesma de estar do lado de fora, mas você está no conforto do ar condicionado do shopping. E as comidas... tão saborosas como se eu estivesse ao ar livre em Sala Daeng. Enlouqueci lá e comi de tudo!

Passei mal. Não porque comi algo estragado, mas porque coloquei para dentro mais comida do que tinha ingerido em todos os outros dias das minhas férias.

Arrependimento? Nenhum...

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