Zeca Camargo

Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”.

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Zeca Camargo

Uma cidade que começa com Bang!

Na Tailândia, capital é marcada por surpresas

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Foi preciso eu ir pela terceira vez num dos meus restaurantes favoritos em Paris, um tailandês mais moderno, para me dar conta de que seu nome é uma homenagem a uma das minhas cinco cidades top no mundo.

Tenda de comida em mercado de Bangkok, na Tailândia
Tenda de comida em mercado de Bangkok, na Tailândia - Higor de Pádua

O restaurante chama-se BangBang e em inúmeros textos eu certamente já elogiei suas ostras com pimenta e maracujá; seus croquetes de tofu; e mais recentemente seu pão malawach frito. Mas nunca tinha me dado conta de que...

Bem, "Bang" é a primeira parte da grafia de Bancoc em muitos idiomas! Duas vezes! No começo do ano, ao sentar-me em torno de uma de suas mesas de fórmica e encontrar uma família de brasileiros que estava lá justamente por minha recomendação, foi que percebi a conexão.

E, mais importante: a força que uma sílaba só empresta a uma cidade que o mundo todo chama mais ou menos pelo mesmo nome –nossos patrícios de Portugal escrevem Banguecoque, mas é tudo o mesmo som.

Percebi ainda que a capital da Tailândia só poderia se chamar Bancoc. Com um bang! –bem marcado. Aliás, maiúsculas: BANG! Como se ela não fizesse sentido sem esse som.

Aterrissei desta vez na cidade no fim da tarde, quando o trânsito, notoriamente difícil, está mais crítico. Apenas em um dos viadutos que dão acesso a Sathon, onde me hospedo, fiquei parado 25 minutos!

Mas, ciente que estava voltando para um lugar que é mais ou menos como São Paulo com esteroides, nem reclamei. Do conforto do ar condicionado do táxi que me levava, pesquisei novos lugares para comer.

Primeira descoberta –bang! Uma cantina chamada Err, na região de Thonglor, filhote de um templo gastronômico que fechou na pandemia, o Bo.lam. Pedi sete pratos no balcão do Err. E sim, estava sozinho...

Comecei pela pele de frango (inteira!) frita, oca como uma carcaça –bang! Depois espetinho de porco –bang! E segui por mais cinco delícias: bang, bang, bang, bang, bang!

Saí de lá com preguiça de voltar de skytrain, mesmo lembrando que passaria pela estação chamada Nana, anunciada nos vagões como um pequeno orgasmo... Peguei um tuktuk enlouquecido (um pleonasmo, admito) depois da meia-noite e... Bang!

No dia seguinte fui ao supermercado, comprar especiarias. Tudo delicioso, mas aí você descobre o pó da folha de limão kaffir –bang! Pasta de camarão seco triturado, bem apimentado –chili bang!

De noite, cansado, fui a um rooftop perto do meu hotel e me dei mal: era noite de karaokê. Mas aí eu vi a cidade do alto iluminada –bang!

Cortei o cabelo na melhor barbearia do mundo em Sukhumvit –bang! Fui comprar raridades em vinil na Bungkumhouse Records –bang!

Vi um sol denso se pondo vermelho sobre o rio Chao Phraya –bang! E encontrei no River City, um shopping só de galerias de arte, uma bata de bebê antiga decorada com orações, típica do norte da Tailândia: bang direto para minha coleção!

Templo Wat Phrakaew, em Bancoc, na Tailândia
Templo Wat Phrakaew, em Bancoc, na Tailândia - Jorge Kameda

Visitei novamente o Batman, o Homem-Aranha e o Che Guevara que enfeitam o templo Pariwat –bang! Ganhei massagem no pescoço do melhor vendedor de óleos e ceras ao lado do Buda deitado –bang e... oooooom!

Os espíritos guardiões de Erawan –bang! Os shoppings decorados para o ano chinês do dragão que começa agora –bang bang! O suco de laranja –bang! O cheiro de capim-limão: respira fundo e solta... bang!

Nos sete dias que passei lá agora em janeiro, era como se eu ouvisse o som dessa palavra vindo dos objetos mais diversos: de um grande gongo a um delicado sino de porcelana.

No fim, era uma sinfonia de bang! Que, longe de provocar desconforto, me lembrava o porquê de eu querer sempre voltar para Bangcoc.

E para um certo restaurante em Belleville, Paris...

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