Zeca Camargo

Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”.

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Zeca Camargo
Descrição de chapéu

Nada tira a minha alegria de estar em Ubud, na Indonésia

Escrevo de uma varanda olhando uma mata vertiginosa, um Iguaçu de verde

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Brasil? Pelé! Rivellino! Zico! Essa era a inevitável reação que eu recebia quando comecei a visitar o Oriente, nos anos 1980. Na década seguinte, a resposta era diferente: Romário!

Nos anos 2000, inevitavelmente, os nomes que as pessoas que encontrava na Índia, Indonésia ou Tailândia citavam eram outros: Ronaldo, Ronaldinho. Hoje em dia, claro: Neymar, mas já com um duvidoso levantar de sobrancelhas.

Hotel Ritz-Carlton Reserve Mandapa, em Ubud, Bali
Hotel Ritz-Carlton Reserve Mandapa, em Ubud, Bali - Divulgação

Viajando para longe do Brasil, sobretudo para países onde os nativos sabem localizar nossa terra no mapa tanto quando a maioria dos brasileiros consegue localizar a pátria deles (pense no Laos), os ídolos do nosso futebol sempre foram uma referência.

O que muda, claro, é a geração desses craques.

Reflito sobre isso ao chegar mais uma vez em Bali, um dos destinos das minhas férias atuais. Ou, como expressei na nossa última coluna, férias radicais. Este texto de hoje é uma preciosa concessão à minha desconexão geral.

Escrevo de uma varanda olhando uma mata vertiginosa, um Iguaçu de verde. Sem exageros, daqui do alto sequer enxergo a base dessas palmeiras nem das belíssimas sete copas.

Da porta do hotel para fora, a relativamente pacata cidade de Ubud me espera para mais um passeio de reconhecimento. Desde 1986, minha primeira vez aqui, gosto de sair para mapear as redondezas.

Assim como nossos jogadores famosos, o desenho de Ubud mudou demais. Quase 40 anos atrás, ela ainda poderia ser chamada de vilarejo. Uma comunidade de artesãos, foi como me apresentaram a região.

E de fato, naquele mês que passei inicialmente aqui, numa cabana de palha em frente a um pequeno rio, me senti distante de tudo. De década em década, Ubud foi crescendo e hoje, ainda longe de ser superpopulosa, já é uma pequena cidade de verdade.

Caixas automáticos, lojas de conveniência, hotéis de luxo e vendinhas de frango satay se amontoam pelas calçadas. Mas bastam uns dez minutos andando para fora da rua principal para você se reconectar com a natureza desconcertante daqui.

Ainda que num lugar como esse que estou agora, que eu descrevo como um casamento entre Paulo Mendes da Rocha e a mata virgem.

Reconheço vários cantos de Ubud, como a primeira cantina onde comi gado gado ou o ateliê de um artista incrível chamado Fachrudin Malik, que traz na vitrine o recado: "Aberto todos os dias, se eu não estiver cansado".

Ponte em Ubud, na Indonésia
Ponte em Ubud, na Indonésia - Eliane trindade/Folhapress

(Precisei ir três vezes a Bali para encontrar seu estúdio aberto e, mesmo assim, quando entrei, encontrei Malik dormindo atrás do balcão –e aí sim consegui comprar seu trabalho!).

Mas as mudanças são gritantes. Batiks artesanais são raros, os vagabundos abundam –bem como os artesanatos feitos em série. Carros de luxo dividem as ruas estreitas com motos precárias com três na garupa.

Nada disso, porém, tira minha alegria de estar mais uma vez em Ubud. Toda vez que chego, o fantasma de um déjà vu parece quere vir me assombrar. Inutilmente.

Tem algo nesses caminhos que traço aqui, que mesmo nessa modesta balbúrdia, me traz tranquilidade. É como se eu pudesse ouvir o roçar dos sarongues nas minhas pernas. E esquecer de tudo.

Nos próximos dias, certamente vou explorar outros cantos de Bali. Vulcões, lagos, arrozais –como perder tudo isso? Mas Ubud, seja em qualquer versão, será sempre meu eixo.

Me conecto com esse destino como os apaixonados pelo nosso futebol com os gênios que colocaram nosso esporte no mapa mundial. É pura paixão.

Ainda que cada vez que eu volte para cá eu olhe toda essa beleza, toda essa verdura, toda essa paz e não resista a soltar uma duvidosa levantada de sobrancelha.

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