O mais novo dentre dez irmãos, Ângelo entregava marmitas em São Roque (SP) e não tinha perspectivas maiores do que o cargo do garçom a quem auxiliava. Como às vezes sucede aos caçulas, ganhou uma oportunidade financiada pelo suor dos mais velhos: uma vaga numa escola de artes manuais, em internato.
Destacou-se na marcenaria e, aos 19, começou a dar aulas. Dedicou-se à inserção de jovens no mercado de trabalho no interior e, na capital, participou do Curso Vocacional Oswaldo Aranha, voltado à integração entre escola e comunidade considerado subversivo, Ângelo foi preso em 1974 ao lado da mulher Cida, também professora.
Em SP, coordenou um programa de profissionalização de adolescentes do Instituto Dona Paulina, vinculado à antiga Febem. Não tem nada melhor que ver o sorriso de um menino falando do radinho de pilha que comprou com o primeiro salário, dizia.
Voltou à cidade natal em 1987, onde abriu uma fábrica de pentes. Sua missão, porém, não podia ficar de lado.
Notou um alto índice de crianças com problemas escolares. Junto à prefeitura, conseguiu que uma fábrica abandonada fosse adaptada em uma escola do programa de educação integral do governo de SP.
Teve problemas de saúde recentemente, mas nunca abandonou a marcenaria. Fazia maquetes para as festas de aniversário do neto Felipe e construiu uma sericleta (misto de máquina serigráfica e bicicleta), projeto da filha Monica, artista plástica.
Morreu no dia 30, aos 79, de complicações vasculares. Deixa duas filhas e dois netos.
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