Temporal deixa ao menos quatro mortos e espalha caos no Rio

Duas pessoas morreram soterradas e uma terceira foi atingida por árvore

Martha Alves Nicola Pamplona
São Paulo e Rio de Janeiro | UOL

Um temporal recorde no Rio, acompanhado de fortes ventos, deixou pelo menos quatro mortos e estragos espalhados pela cidade entre a noite de quarta (14) e a madrugada desta quinta (15).

Além de ruas alagadas, árvores caídas, problemas no transporte e regiões sem luz, uma obra simbólica erguida para ser legado da Olimpíada de 2016 desabou pela segunda vez em dois anos.

Após um deslizamento de terra, parte da ciclovia Tim Maia, na zona sul, caiu.

Embora não tenha deixado feridos, a queda voltou a colocar em xeque a segurança da pista —derrubada pelas fortes ondas em 2016, quando houve dois mortos.

Para agravar a desconfiança, a prefeitura ainda demorou cerca de duas horas para interditá-la por completo, enquanto usuários se arriscavam (leia texto ao lado).

O temporal ocorreu num momento em que Marcelo Crivella (PRB), prefeito do Rio, está em viagem à Europa. Ele disse em rede social estar “acompanhando a situação”.

Outra autoridade importante em momento de crise, Guilherme Sangineto, chefe executivo do Centro de Operações Rio, também está com Crivella na viagem iniciada no domingo (11) para “identificar novas tecnologias no setor de segurança”, segundo sua assessoria de imprensa.

O prefeito embarcaria de volta ao Rio nesta quinta. 

MORTES

Um menino, que não teve seu nome nem idade divulgados, morreu em Cascadura, zona norte, após sua casa desabar parcialmente. A vítima já chegou morta ao hospital.

Um homem e uma mulher também morreram soterrados por volta das 2h40. Marcos Garcia, 59, e Judina Magalhães, 62, não resistiram aos ferimentos causados por um deslizamento de terra no bairro de Quintino, na zona norte da capital fluminense.

No local, Alamir Cesar, 90, também chegou a ter parte do corpo soterrado, mas foi resgatado pelos bombeiros e levado para um hospital.

O policial militar Nilcimar dos Santos, 48, atingido por uma árvore em Realengo, também na zona oeste, foi a quarta vítima morta.

Segundo a Secretaria de Assistência Social, 350 famílias estão desalojadas, num total de 2.000 pessoas.

HISTÓRICO

Das 22h de quarta (14) às 16h50 de quinta, a Defesa Civil recebeu 631 chamados para vistorias em edificações.

No fim da tarde de quinta, 182 ocorrências emergenciais haviam sido atendidas. 

Técnicos interditaram 51 imóveis, sendo 41 no Complexo do Alemão, conjunto de favelas na zona norte, e 10 em Cascadura. As zonas norte e oeste foram as mais afetadas pelo temporal. 

O Alerta Rio, da prefeitura, diz que em uma hora foram registrados 123,6 mm de chuva na estação Barra/Riocentro —maior volume de chuva registrado, no período de uma hora, na série histórica.

O órgão armazena os dados de chuva do município desde 1997. O recorde anterior de chuva em uma hora havia sido de 116,2 mm, em Campo Grande, em março de 2000.

De madrugada, a cidade ficou cinco horas em estado de crise —terceiro nível em uma escala de três para alagamentos e deslizamentos. 

O Centro de Operações informou que equipes da prefeitura foram acionadas para a retirada de 13 árvores que caíram em razão da chuva.

No aeroporto internacional do Galeão, a Polícia Federal suspendeu os serviços de emissão de passaporte agendados para esta quinta.

Fernanda Precioso, 48, que mora no bairro do Engenho de Dentro, na zona norte, teve seu apartamento invadido pela chuva e ficou sem água e sem gás. “Fui dormir quando a chuva começou. A princípio, não dei importância. De repente, comecei a ouvir vozes. Saí para a janela e vi os carros debaixo d’água. A água tinha subido pelo ralo da varanda e invadiu a sala, entrou pelo ar-condicionado.”

Dez hospitais municipais ficaram sem energia e funcionaram com geradores. 

DEMORA

A Prefeitura do Rio demorou cerca de duas horas para interditar por completo a ciclovia Tim Maia depois de ter ciência do desabamento de um trecho da estrutura construída para ser um legado dos Jogos Olímpicos.

A ciclovia, que liga as regiões do Leblon, na zona sul, à Barra, na zona oeste, já havia sofrido um outro desabamento, que deixou dois mortos há menos de dois anos.

A pista, que margeia a orla e tem amplo trecho suspenso ao lado do mar, também enfrenta questionamentos do Ministério Público Federal, que já movia uma ação pedindo a interdição da ciclovia até que dúvidas quanto sua segurança fossem totalmente superadas.

Com 7 km de extensão, ela custou R$ 44,7 milhões.

O trecho de 30 metros da ciclovia que desabou na manhã desta quinta (15) após as chuvas foi em São Conrado, sem que houvesse feridos.

A demora na interdição ficou evidente quando analisados os horários de alertas enviados pelo Centro de Operações da Prefeitura. Pouco antes das 7h, ele já divulgava que um trecho da ciclovia havia desabado e que equipes estariam a caminho. 

Só às 8h42 a ciclovia teve toda sua extensão fechada. Nesse intervalo, ciclistas chegaram a circular em partes da pista que ficaram de pé.

O desabamento anterior da ciclovia, em abril de 2016, ocorreu menos de três meses após a sua inauguração.

O trecho que caiu na ocasião fica perto da av. Niemeyer. Duas pessoas caminhavam no local quando a estrutura desabou. Fortes ondas provocadas por uma ressaca atingiram a ciclovia de baixo para cima, fazendo com que a pista se descolasse da estrutura de sustentação.

Perícia na época mostrou que a pista não estava aparafusada corretamente na estrutura, que não aguentou os impactos das ondas. 

Devido ao desastre, a ciclovia ficou interditada e não pôde ser utilizada no período da Olimpíada no Rio.

Na época, a Justiça do Rio aceitou denúncia contra 14 pessoas acusadas de homicídio culposo (sem intenção).

Os denunciados eram funcionários da empresa Concremat/Concrejato, responsável pelas obras da ciclovia.

Na mesma ação, a Justiça arquivou denúncia contra agentes públicos envolvidos na fiscalização da obra.

Hoje, os processos estão na fase de ouvir testemunhas.

A ciclovia ficou interditada 17 meses e foi reaberta por completo em setembro passado. Isso só foi possível depois de laudos do Crea (Conselho Regional de Engenharia) que diziam que as obras de recuperação e a parte restante estavam seguras.

O equipamento ganhou o nome de Tim Maia porque o projeto original pretendia ligar a orla do Leme (Copacabana) ao Pontal (Recreio dos Bandeirantes), como a célebre música do cantor.

(Nicola Pamplona, Martha Alves, Lucas Vettorazzo e Luiza Franco)

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