No sítio do avô, nos arredores de Aquiraz, no Ceará, a pequena Fernanda coletava dos chãos pedras, plantas e até areia. Ficava tão entretida que, certo dia, desapareceu em meio às carnaúbas, preocupando os familiares, que iniciaram uma busca. Passado um tempo, a garota, na época com cinco, seis anos, foi encontrada de cócoras com aqueles “brinquedos” que a fascinavam. Nem havia percebido que estava sozinha.
A menina cresceu, mas sua atração pelas pedras, plantas e areia continuou. Não à toa, escolheu a geologia como profissão e foi trabalhar na Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará. Foram 35 anos atuando em projetos como a construção do Açude Castanhão e o da limpeza da orla de Fortaleza. Arrumou algumas brigas com moradores e comerciantes no processo, mas adorava o que fazia.
Foi a geologia também que fez Fernanda encontrar o marido, Pedro. O professor conquistou a aluna dedicada e ficaram casados por 33 anos.
Determinada e exigente com ela mesma, Fernanda tinha poucos momentos longe da geologia, quando aproveitava para ler e cuidar de suas plantas e aves. Apesar de caseira, não dispensava as saídas com os amigos. “Era uma amiga engraçada depois de umas duas cervejas”, brinca a irmã, Fabíola.
Com o mestrado concluído recentemente, Fernanda se preparava agora para uma nova jornada: dar aulas. Projeto interrompido no dia 22, quando morreu após um ataque do coração, aos 61 anos. Deixa o marido, dois irmãos, cinco sobrinhos e o cão Rashid, que quase um mês depois ainda a aguarda na porta de casa.
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