'Ou o TCM muda ou será extinto', diz presidente da Câmara Municipal de SP

Vereadores cobram fim dos privilégios do Tribunal de Contas do Município

Artur Rodrigues Guilherme Seto
São Paulo

O presidente da Câmara Municipal de São Paulo projeta duas alternativas ao Tribunal de Contas do Município: a transformação ou o fim.

Em entrevista à Folha, o vereador Milton Leite (DEM), principal aliado do prefeito João Doria (PSDB) no Legislativo, diz que a "sociedade cobra" que a Câmara tome uma atitude sobre o TCM e fala em aposentar os atuais cinco conselheiros do órgão.


Milton Leite (DEM), presidente da Câmara Municipal
Milton Leite (DEM), presidente da Câmara Municipal - Danilo Verpa/Folhapress

RAIO-X

Nome
Milton Leite

Nascimento
27.jan.1956 (62 anos), São Paulo (SP)

Profissão
Empresário

Cargos
Vereador (DEM) (sexto mandato) e presidente 
da Câmara Municipal de São Paulo desde 2017 (segundo mandato); já ocupou três vezes o cargo de prefeito em exercício


Outra possibilidade seria a extinção do tribunal como um todo a partir de votação de um projeto de emenda à Lei Orgânica do Município. A aprovação precisaria ser mediante maioria qualificada --ou seja, 37 de 55 vereadores. Caso semelhante aconteceu no Ceará, onde o TCM local foi extinto após votação na Assembleia Legislativa.

O vereador Fernando Holiday (DEM) protocolou na Câmara projeto que pede a extinção do TCM, e Leite alerta: o apoio dos vereadores tem crescido progressivamente.

 

Folha - Na última eleição, o senhor foi um dos principais cabos eleitorais do João Doria na periferia...
Milton Leite - Não sou cabo eleitoral. Somos aliados, fizemos uma coligação. É diferente. Fizemos uma aliança em que coube a nós, do Democratas, cumprir um papel na campanha.

Como avalia a gestão Doria?
Um ano e dois meses de governo, por aquilo que foi prometido, o Doria está muito bem. Está cumprindo o que foi proposto. Obviamente que, quando deixar, se ele vier a deixar a prefeitura [em abril, para ser candidato ao governo], terá deixado com a parte dele até aqui cumprida. Pelo meu entendimento, o Bruno [Covas, o vice] venceu as eleições em conjunto com a gente. Prefeitos, vereadores que se propuseram e partidos coligados vão ter que cumprir a proposta de campanha. Se não, estariam tapeando o eleitor, e eu não concordo. 

Os dois projetos de privatização que poderiam trazer mais verba para a cidade, o do Anhembi e Interlagos, precisam passar pela Câmara por questão de zoneamento. É possível tirar esses projetos do papel em ano eleitoral?
Pretendo votar [o projeto do] Anhembi neste mês. Interlagos é um pouco mais demorado, porque precisamos rever os conceitos [para aumentar o potencial construtivo e o valor de venda]. Apesar da pressa, a Câmara não pode errar. 

No caso do Anhembi e Interlagos, o sr. defende aumento do potencial construtivo. Uma das críticas a isso seria que o objetivo do sr. seria deixar construir vários 'paliteiros' nesses locais. É uma crítica justa?
Uma das maiores demandas da cidade é habitação. Estamos favelados, faltando habitação. Tomara que o mercado imobiliário compre e invista mesmo. Na medida em que aumentar a oferta de habitação, vai ter uma queda de custo. Temos que verticalizar e não impermeabilizar o solo [devido a construções mais horizontalizadas]. Aqueles críticos que não têm visão ambiental têm essa visão deturpada.

 

​​O prefeito previa que, a essa altura, teria algumas das privatizações para mostrar. 
O Pacaembu está para vender [concessão]. Os mercados estão para vender [concessão]. Os parques estão lá para a concessão. Tudo aquilo que chegou em condição de voto foi liberado. Temos que entender que isso [bens municipais] é propriedade pública. Tenho que otimizá-las para me desfazer delas. Eu não posso subfaturar ou subestimar o preço. 

 
Existe uma ação no STF que trata do TCM-SP. Ela está parada após um pedido de vista, mas a votação está em 8 a 0 para que a municipalidade estipule, entre outras coisas, os salários dos conselheiros. Como o senhor vê isso?
Não estou acompanhando. Quando vierem os votos que faltam no STF, a Câmara terá que cumprir seu papel e definir os salários deles [atualmente de R$ 30,4 mil, ante R$ 18,9 mil dos vereadores].

E o senhor definiria como?
Temos que debater no momento oportuno. Há um movimento na Casa de se rever a posição do Tribunal de Contas, há uma discussão muito forte nos bastidores, vários vereadores querem extinguir o TCM, não apenas um. E esse movimento está crescendo.

O TCM barrou alguns projetos importantes da gestão Doria.
Não se trata disso. Pelo menos a forma do TCM pode ser modificada. Ou seja, os conselheiros teriam que ser concursados com mandatos de três anos [atualmente o cargo é vitalício]. Outra forma que se discute é buscar entre os procuradores do município a seleção dos conselheiros e então, a cada três anos, se troca, com aprovação da Câmara.

Para que se deixasse de ter viés político na nomeação de conselheiros?
Aposentaríamos esses [atuais conselheiros, todos com trajetória na política] aí. É uma nova roupagem que está se estudando. Não sabemos se será a extinção... A Câmara está evoluindo. Um desses caminhos ocorrerá.

Prédio do Tribunal de Contas da cidade de São Paulo, na zona sul
Prédio do Tribunal de Contas da cidade de São Paulo, na zona sul - Adriano Vizoni/Folhapress

O TCM parece que não está vivendo no mesmo momento da cidade. Tem muitos funcionários nomeados [175 nomeados contra 168 auditores].
Esse é um dos motivos para que a sociedade cobre e que a Câmara pretende avaliar em conjunto e até ouvir os atuais conselheiros. Espero que se evolua para uma discussão e melhor adequação do TCM. A sociedade está cobrando.

O senhor está colocando duas opções: extinção ou mudança.
Uma nova roupagem, com a possibilidade bem grande da aposentadoria dos conselheiros atuais. Tenho ouvido muito isso. E então partir para procuradores concursados com perfil técnico que poderiam assumir o cargo. O TCM tem bons conselheiros, mas é preciso dar uma nova visão.

Como a Câmara poderia fazer isso? Com lei? A Câmara pode extinguir o TCM?
Pode extingui-lo, remetê-lo ao Tribunal de Contas do Estado, ou modificá-lo. A qualquer momento.

Como estão os votos? O senhor disse que tem muitos a favor da extinção.
Acho que dificilmente o TCM fica como está.

O vereador Fernando Holiday (DEM) é que tem brigado publicamente [ele protocolou projeto para extinguir o TCM].
Ele tem externado. É preciso dar uma nova visão política para o TCM.

O sr. é consultado no setor de transportes, faz indicações. O sr. atuou ou atua nessa área como empresário?
Todos sabem que ajudei as antigas cooperativas [de perueiros] na gestão. Se você perguntar se elas são próximas a mim, digo que são.

O sr. indicou Sérgio Avelleda para o cargo de secretário de Transportes. Ele acerta ao defender o aumento do limite de velocidade nas marginais mesmo com o aumento no número de mortes?
Foi uma proposta que o prefeito, que foi quem escolheu o Avelleda para o cargo, defendeu na campanha. Não temos como certo que o aumento do número de mortes está relacionado ao aumento do limite de velocidade.

 
 
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