Professores voltam a protestar contra reforma da previdência de SP

PM diz que 35 mil compareceram; ato se une à manifestação na av. Paulista contra morte de vereadora

Servidores municipais durante passeata em São Paulo
Servidores municipais durante passeata em São Paulo - Diego Padgurschi / Folhapress
Guilherme Seto
São Paulo

Um dia após confronto que terminou com professores feridos na Câmara Municipal de São Paulo, milhares de servidores públicos voltaram a se aglomerar à frente da Casa nesta quinta-feira (15) para protestar contra o projeto de reforma da Previdência da gestão João Doria (PSDB).

Em número muito maior que nesta quarta-feira (14) (a prefeitura usou drone e calculou cerca de 25 mil presentes; os sindicatos dos professores contaram 80 mil; estimativa interna da PM à qual a Folha teve acesso, por sua vez, indicou 35 mil manifestantes), eles ocuparam todo o viaduto Jacareí, no centro da cidade, enquanto ocorria audiência pública para discussão do projeto de lei. Os docentes pedem que o projeto, que prevê aumento na contribuição dos servidores de 11% para 14%, seja retirado. 

Durante a audiência pública, dezenas de representantes de categorias como Educação e Saúde queixaram-se de falta de diálogo e de transparência por parte da prefeitura. Eles dizem que não houve discussão detalhada com os funcionários públicos para que o projeto seja votado —a gestão Doria quer que o projeto passe por votação em primeiro turno na próxima semana.

Os vereadores João Jorge (PSDB), líder do governo na Câmara, Caio Miranda (PSB), relator do projeto, e Fernando Holiday (DEM) foram muito vaiados e xingados pelos servidores públicos presentes.

As falas dos secretários da gestão Doria e dos vereadores foram todas encobertas por gritos de “se votar não volta” (dizendo que os vereadores não serão reeleitos), “não tem arrego” e “retira”.

“Eles não ofereceram sugestões ao projeto [na audiência pública]. Há somente radicalismo, manifestantes mais agressivos criticando politicamente o projeto. Estamos esperando que contribuam (…) O projeto foi apresentado em 2016, pelo prefeito Fernando Haddad (PT). A discussão acontece desde então”, diz João Jorge.

“A proposta procura fazer reforma estrutural do regime de Previdência e capitalizar gradativamente os aposentados anteriores. Os que quiserem podem migrar para o sistema novo, e os novos servidores também vão para o novo sistema. Os novos servidores não vão contribuir com a aposentadoria dos atuais aposentados. Então precisamos de um aumento de alíquota de 11% para 14% para financiar essa transição de um regime desequilibrado para um equilibrado”, detalha Caio Megale, secretário de Finanças.

Diferentemente do que aconteceu na quarta, não houve incidentes de violência ou feridos. Os momentos mais tensos aconteceram quando o vereador Adilson Amadeu (PTB) ficou irritado após uma servidora dizer que os parlamentares estavam recebendo “malas de dinheiro” para votar o projeto; e quando Fernando Holiday (DEM) fez discurso em que disse que votaria pela aprovação do projeto de lei.

O vereador Cláudio Fonseca (PPS), presidente do Sindpeem (Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo), critica a falta de diálogo do governo com a categoria.

“O governo nega. Fez duas ou três audiências, entregou o projeto… Se as pessoas estão reclamando que não estão convencidos e de que há falhas de constitucionalidade, então estão faltando dados. As pessoas acompanham e sabem todos os escândalos que envolvem os recursos públicos. Como aceitar bancar o déficit da Previdência quando há tantos desvios públicos?”, disse.

No final da tarde, os manifestantes deixaram a Câmara em direção à avenida Paulista, onde se juntariam ao protesto contra a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada no Rio de Janeiro nesta terça-feira (14).

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