Fabrício Lobel Marcelo Pliger
Santos (SP)

Apoiado na mureta da praia, o santista Cesar Prado, 59, olha para o mar batendo nas pedras e jura que ali um dia já teve praia e uma longa faixa de areia. "Eu jogava bola aqui quando criança. Agora é só pedra e mar", relembra ele, de um ponto agora a quase de 300 metros do primeiro palmo de areia de praia.

A impressão de Cesar é confirmada por especialistas. A Ponta da Praia —última praia de Santos, antes do canal do porto— está perdendo faixa de areia e cedendo espaço ao mar. E mais: com menos areia, as ondas atingem com mais força o muro da orla. Os episódios de ressaca também são mais frequentes e violentos.

Por isso, um projeto-piloto da Prefeitura de Santos e do Departamento de Recursos Hídricos da Unicamp está fixando no chão do mar uma fileira de sacos especiais cheios de areia, os geotubos, criando recifes artificiais submersos.

A técnica será realizada no Brasil pela primeira vez.

A obra chegou a ser suspensa duas vezes a pedido do Ministério Público, que cobrou a licença ambiental que não havia sido emitida. A prefeitura diz que inicialmente nem Ibama (órgão ambiental federal) ou a Cetesb (estadual) assumiram a responsabilidade pela licença. Após disputa judicial, a Cetesb decidiu que a obra dispensava licença, e os trabalhos foram retomados.

A ideia é que a barreira consiga frear, ao menos localmente, o poder das ondas —e que também diminua o "roubo" de areia da praia feito pelo mar. Enquanto isso, a prefeitura disse que irá transferir para a Ponta da Praia a areia que é levada pelo mar até o Canal 2. Esse trabalho já é feito, mas em volume insuficiente.

CULPADOS

Segundo os professores Tiago Gireli e Patrícia Garcia, pesquisadores da Unicamp à frente do projeto, a aceleração do processo de erosão pode ter mais de um culpado. 

Entre eles, a construção dos canais de drenagem da cidade, feitos nas primeiras décadas do século passado, a duplicação da avenida da praia, nos anos 40, e a construção do emissário, nos anos 70. 

Mas, além dessas intervenções, os pesquisadores dizem que são fortes as evidência de que o alargamento e o aprofundamento do canal do porto aumentaram a erosão da praia. Desde 2010, dragagens são feitas para manter o canal maior, sob o argumento de permitir o trânsito de mais navios e com mais cargas.

A própria estatal paulista que administra o porto, a Codesp, admitiu pela primeira vez neste ano que as dragagens causaram impacto nas praias próximas à entrada do porto. A estatal, em um acordo com o Ministério Público Federal, agora se compromete a fazer obras que minimizem esses impactos.

A primeira entidade a denunciar o impacto das dragagens foi o Instituto Maramar. Para o oceanógrafo e diretor da Ong, Fabrício Gandini, para que o projeto-piloto dê certo, deve ser feito um monitoramento profundo, contínuo e amplo de seus efeitos.

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