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Covas recua, muda plano de frota e põe em xeque queda de custo de ônibus

Redução da frota era um dos eixos da licitação que será lançada nesta terça

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Ônibus circula pela região de Santo Amaro, na zona sul de São Paulo
Ônibus circula pela região de Santo Amaro, na zona sul de São Paulo - Eduardo Knapp - 26.mar.18/ Folhapress
São Paulo

A gestão Bruno Covas (PSDB) fará uma redução da frota de ônibus em São Paulo mais branda do que vinha sendo planejado pelo antecessor. A decisão põe em xeque os planos de corte de custos previstos no edital de licitação dos serviços, que foi lançado nesta terça-feira (24).

Os contratos atuais de transporte estão vigentes desde 2003. A prefeitura vai selecionar os próximos operadores por 20 anos, num montante estimado em mais R$ 66 bilhões. Haverá mudança no modelo do sistema de ônibus, com alterações nas linhas e na forma de remuneração das viações.

A gestão João Doria (PSDB) havia estabelecido uma redução considerável do número de ônibus com os novos contratos. Caso o plano de Doria fosse seguido, a frota cairia de 13.600 para 12.667. A mudança havia sido planejada principalmente para diminuir gastos municipais com os ônibus (que em 2017 demandaram subsídios de quase R$ 3 bilhões) e eliminar sobreposições (de linhas que fazem rotas semelhantes).

Com a reorganização dos trajetos e a presença de ônibus maiores, dizia a gestão Doria, os passageiros não seriam prejudicados, e os tempos de viagem cairiam em 5%.Com a saída do ex-prefeito tucano para se candidatar ao governo paulista, a gestão Covas decidiu rever os planos e manter uma frota mais próxima da atual. 

O edital anunciado nesta terça (24) prevê frota de referência de 12.945 veículos, cerca de 300 a mais do que o planejado por Doria. Por um lado a medida pode facilitar a oferta de ônibus nas vias, mas, por outro, pode engessar os cofres municipais.

O patamar de subsídios para custear a diferença entre a arrecadação com a tarifa paga pelos usuários e os gastos do sistema de transporte foi no ano passado mais de 50% superior ao montante de gastos da prefeitura paulistana com investimentos em todas as áreas —R$ 1,9 bilhão.

Com um diagnóstico diferente do feito sob Doria, a gestão Covas avaliou que a infraestrutura atual para uma diminuição significativa da frota de ônibus não é suficiente. A administração tucana apresentou como meta implementar 72 km de corredores de ônibus até 2020, mas entregou só 3,3 km. Além disso, já remanejou pelo menos R$ 716 milhões do que era previsto em construção de corredores.

USUÁRIOS PARADOS

Francisco Christovam, presidente do SP Urbanuss (sindicato das empresas de ônibus), defende a tese de que seria possível “tirar mil ônibus e mesmo assim ganhar agilidade”.“Não é a quantidade de veículos que define a qualidade. Com mais ônibus e sem corredores, por exemplo, as pessoas apenas vão ficar paradas dentro dos ônibus”, afirma.

Na avaliação de Rafael Calabria, pesquisador em mobilidade urbana do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), a desistência em reduzir a frota de maneira significativa poderá ser positiva.“Caso eles mantenham a decisão de apostar em um sistema de linhas mais curtas e em veículos maiores e com mais assentos, a quantidade maior de ônibus na frota poderia significar um aumento da frequência dos veículos, que é uma das principais demandas das pessoas. 

Aumentar os custos por um lado, mas por outro lado também aumentar a frequência, poderia ser benéfico para a sociedade”, afirma. A decisão da gestão Covas atende também a uma demanda do sindicato dos motoristas —que estimou perda de 5.000 empregos caso a frota fosse diminuída na proporção planejada inicialmente.

Em nota, a Secretaria de Transportes diz que a licitação “prevê a modernização da frota, a melhora na redistribuição das linhas e a diminuição de sobreposições”. “Esse trabalho, que deve resultar em uma redução gradual da frota, prevê aumento da oferta de assentos, uma vez que haverá a substituição de veículos menores por outros maiores e com mais capacidade.”

Ao menos 25% das atuais 1.336 linhas deverão mudar. As alterações devem ocorrer de 6 a 30 meses depois da assinatura dos novos contratos. Hoje a cidade tem dois sistemas de ônibus. O primeiro (local) visa trajetos dentro dos bairros. O segundo (estrutural) abrange distâncias maiores entre regiões diferentes. A nova organização deve incluir um terceiro sistema intermediário. Ele coletará passageiros nos bairros e os conectará com ônibus que cumprem distâncias maiores.

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