Governo deve transferir até 18 mil venezuelanos de RR para outros estados

Os primeiros começam a chegar em SP, AM e MT já nesta quinta-feira (5)

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São Paulo

O governo brasileiro planeja transferir até 18 mil refugiados venezuelanos de Roraima para outros estados ainda este ano, no processo chamado de interiorização. A Força Tarefa Humanitária calcula que 52 mil venezuelanos entraram no país até o início de março, por conta da crise humanitária na Venezuela. Por dia, cerca de 400 venezuelanos estão entrando no país, embora alguns voltem para a Venezuela após alguns dias.

Os primeiros venezuelanos transferidos começam a chegar em São Paulo, Manaus, Cuiabá e Campinas a partir desta quinta-feira (5). Cerca de 300 são esperados em São Paulo, onde serão recebidos nos centros de acolhimento para moradores de rua em São Mateus, Santo Amaro, e na Missão Paz. Em uma segunda fase, Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis e Campo Grande também receberão venezuelanos. O objetivo é levar os migrantes para locais onde há maior oferta de emprego. 

A Força Tarefa Humanitária havia anunciado a construção de dois mega-abrigos para os refugiados, em Boa Vista e perto de Pacaraima, mas mudou os planos.

O ministério da Defesa cancelou a construção do abrigo para 1.500 refugiados venezuelanos a 20 quilômetros de Pacaraima, diante da oposição de lideranças indígenas e da sociedade civil. O abrigo ficaria dentro de uma reserva indígena. A solicitação da população local de Pacaraima era que o abrigo ficasse longe da área urbana. Mas, segundo o Coronel Evandro Lupchinski, assessor de imprensa da Força Tarefa Humanitária em Roraima, o local onde seria construído era muito afastado de tudo e não havia necessidade de um local tão grande, porque a maioria dos venezuelanos não fica em Pacaraima.

Paulo Pereira, coordenador da Associação dos Povos Indígenas da Terra São Marcos (APITSM), afirmou que as lideranças indígenas se reuniram com representantes da força-tarefa e não aceitaram a construção do abrigo em suas terras.

“Esse abrigo não daria nenhuma possibilidade para os venezuelanos se integrarem, ia se transformar em um depósito de gente, longe de tudo”, diz Cleyton Abreu, coordenador do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados em Boa Vista. 

Agora, a força-tarefa pretende construir um abrigo para 500 pessoas em Pacaraima, na zona urbana, mas ainda não encontrou um local. Em Boa Vista, em vez de outro-mega abrigo de 1.500 pessoas, serão três para 500 pessoas.

Os abrigos existentes estão superlotados. No final de semana, a prefeitura de Boa Vista cercou com tapumes a praça Simon Bolívar, onde vivem cerca de 600 venezuelanos, e passou a controlar a entrada e a saída. Em nota, informou que os tapumes eram necessários para que fosse feita a manutenção da praça, “para recuperar os danos causados em virtude da ocupação. A praça será recuperada e devolvida à população.”
 
“É preciso salientar que estamos aqui para resolver os problemas dos brasileiros, voltar ao status quo que havia na cidade anteriormente”, diz Kupchinski.

Segundo ele, algumas pessoas querem voltar para Venezuela, mas não têm recursos, então a força tarefa avalia uma maneira de custear a volta dessas pessoas. “Há uma quantidade considerável de pessoas que querem voltar, mas não sabem como”, diz.

“É positivo que o Exército tenha desistido de construir o abrigo em uma região afastada, sem condições de integração, e que poderia violar os direitos dos indígenas do território; mas continuamos preocupados com a falta de informações e a concentração de funções de natureza civil nas mãos das Forças Armadas”, diz Juana Kweitel, diretora-executiva da Conectas Direitos Humanos.

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