Israel cancela acordo com ONU que evitava deportação de imigrantes

Destino de 35 mil africanos ilegais fica indefinido

Requerentes de asilo protestam contra proposta de deportação do governo israelense, em Tel Aviv - Ariel Schalit - 24.fev.2018/Associated Press
Daniela Kresch
Tel Aviv | Reuters e AFP

Quase 24 horas depois de anunciar a assinatura de um acordo com a ONU para solucionar a questão dos 36 mil imigrantes africanos ilegais em Israel, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu cancelou de vez o acordo.

"Nas últimas 24 horas, realizei muitas consultas (...) com profissionais e representantes de moradores do sul de Tel Aviv. Como resultado, e depois de avaliar vantagens e desvantagens, decidi cancelar o acordo", escreveu Netanyahu nesta terça-feira (3).

O zigue-zague confundiu principalmente aos imigrantes, chamados de infiltrados" pelo governo e de pedintes de asilo ou refugiados por ONGs de direitos humanos. Ativistas contra e favor da deportação e a ONU não sabem mais o que acontecerá.

"Temos esperança de que Netanyahu mantenha o acordo", disse William Spindler, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).

De manhã, Netanyahu se encontrou com moradores dos bairros pobres do sul de Tel Aviv, onde mora a maioria dos imigrantes e que reclamam do aumento da violência e da aglomeração na região desde a chegada da nova leva de estrangeiros.

"A mensagem do encontro foi a de que esse acordo, que tanto nos preocupou, foi cancelado e não vai mais sair do papel. Não queremos que metade dos infiltrados fiquem aqui e não ficou claro quando a outra metade partiria", disse a ativista May Golan.

Mas centenas de pessoas saíram às ruas para manifestar apoio aos imigrantes.

"É muito claro que o primeiro-ministro pensa só em seu futuro político e não no bem do país. Por causa de críticas na internet e de alguns ministros, Netanyahu renegou um ótimo acordo", disse Assaf Weitzen, da ONG Hotline for Refugees and Migrants

O vai-e-vem começou na segunda (2), quando surpreendeu a todos ao fechar o acordo. Segundo o plano, 16.250 imigrantes seriam enviados a países ocidentais. Outros 16.250 receberiam status de residentes temporários em Israel por cinco anos.

O acordo substituiria o plano anterior, anunciado em fevereiro, pelo qual o governo planejava deportar 33 mil dos 36 mil africanos —a maioria da Eritreia e do Sudão que entraram no país clandestinamente de 2006 a 2016. 

A expulsão em massa (com exceção de mulheres, crianças e refugiados) deveria começar neste domingo (1º).

Aos imigrantes caberia escolher deixar Israel com destino a dois países africanos, Ruanda ou Uganda, ou ser preso. Mas Ruanda voltou atrás da intenção de absorver —em troca de compensação— milhares de imigrantes. 

Netanyahu tenta, agora, encontrar outro país que aceite recebê-los. "Falta de liderança, covardia, fuga de responsabilidade, incitação ao público, slogans vazios, incapacidade de tomar decisões e desempenho zero", atacou Avi Gabbai, líder do Partido Trabalhista.

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