Mortes: A primeira dama da gastronomia brasileira

Benê Ricardo foi a primeira mulher a se formar cozinheiro no Senac de São Paulo

Antonio Mammi
São Paulo

A ausência de hífen no título é proposital, já que Benê Ricardo não precisou de consorte para ficar marcada. Ao contrário, assim como Dona Ivone Lara no samba, o aposto de Benê se deve a uma conquista pessoal num ambiente machista: foi a primeira mulher a se diplomar cozinheira no pioneiro curso de gastronomia do Senac de São Paulo.

Neta de uma quituteira, sua primeira professora, Benê mudou-se de São José do Mato Dentro (MG) para a capital paulista aos 17 anos. Trabalhou 18 na casa de uma família alemã, que logo atinou para o dom e passou a investir na sua formação. Pagou-lhe cursos técnicos e uma temporada na Alemanha para aprender a culinária local.

Benedita Ricardo de Oliveira (1943-2018)
Benedita Ricardo de Oliveira (1943-2018) - Reprodução

Em 1978, inscreveu-se num concurso da revista Claudia. Venceu, credenciou-se banqueteira e começou a ter o nome ventilado nas famílias da alta sociedade paulistana.

E foi na recepção na casa de um industrial que o chucrute de Benê cativou o mais poderoso dos comensais: o general -presidente Ernesto Geisel. Atento à saciedade presidencial, João Papa Jr., chefe da Fiesp à época e presente no jantar, tratou de rasgar o retrógrado protocolo do Senac e garantiu uma vaga à cozinheira no curso da instituição.

Dali para frente é história. Benê virou comandante de cozinhas estreladas (uma delas, a do hotel Maksoud), bateu ponto em programas de TV e batizou linhas de produtos em empórios requintados. "Era uma tradicionalista, mostrava o melhor da cozinha brasileira sem mimimi", afirma o chef Carlos Ribeiro, seu amigo.

Morreu no dia 31, aos 74 anos, de câncer no pâncreas.


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