Diariamente, Joaquim viajava 24 km até o centro de Morada Nova (CE) para escambar os produtos do sítio de sua família. Já a cabeça andava mais longe quando pegava num livro ou numa revista.
Um dia, na espera do barbeiro, leu sobre as propriedades dos cata-ventos e tratou de replicar a engenhoca no poço de sua lavoura —era capaz de bombear água, diziam as páginas, e assim Joaquim irrigou seu pedaço de sertão.
Às vezes o corpo acompanhava a cabeça, e foi desse jeito que comprou uma passagem de navio para o Rio, ansioso em seguir viagem para São Paulo. Lera uma reportagem sobre uma hidrelétrica em Cubatão (SP), e se animou com a pujança propagandeada pelo texto.
A escala durou mais do que planejava. Encontrou um conhecido em frente à Igreja da Candelária, no caminho do porto para a Central do Brasil. Joaquim queria ver a missa, mas titubeava na escadaria: achava seu terno mequetrefe.
Do encontro fortuito surgiu um convite de hospedagem por uma semana na casa do colega, para se habituar ao ritmo da cidade grande. Ficou dois anos no Rio.
De lá foi para MG, onde sossegou por um tempo. Depois, passou anos vivendo o sonho de ser caixeiro-viajante .
Firmou base em Bauru, em 1965, com a Ceará Magazine, especializada em artigos de cama, mesa e banho. Trabalhou até o mês passado.
"Ajudou todos os parentes próximos a migrar e prosperar", diz Ajax, filho do homem que viajou e fez viajar.
Morreu no domingo (1º), de causas naturais aos 93 anos. Deixa a mulher, três filhos, oito netos e um bisneto.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.