Com Doria, Covas vende privatizações e enfrenta desconfiança em NY

Prefeito encontra resistência de investidores ao apresentar plano de SP

Nova York

No telão, brilhava uma imagem da avenida Paulista como pano de fundo de uma montanha de números. Investidores e advogados, entre sonolentos e céticos, levantaram cedo e encheram uma série de cafés da manhã no Upper East Side nova-iorquino e no miolo de Manhattan para saber mais sobre uma “mina de ouro” chamada São Paulo –a maior cidade das Américas estava à venda no coração financeiro do planeta. 

Nos últimos dias, o prefeito tucano Bruno Covas, ainda se acostumando com o nome do cargo sem o vice na frente depois que João Doria se candidatou ao governo paulista, zanzou por toda Nova York com parte de seu gabinete anunciando os planos de privatização e concessão da prefeitura como grande negócio. “São os ativos mais valiosos que a cidade tem a oferecer”, anunciava Juan Quirós, presidente da SP Negócios, a uma plateia do Council of the Americas, influente centro de estudos de Manhattan, lembrando que o Anhembi, Interlagos, o parque Ibirapuera e uma série de outros pontos valiam o equivalente a R$ 5,5 bilhões.

Bruno Covas falando para investidores internacionais em NY
Bruno Covas falando para investidores internacionais em NY - Reprodução/Instagram

E, confiante, pediu que levantasse a mão ali quem tinha interesse em arrematar propriedades ou disputar concessões em São Paulo –ninguém se prontificou, mas mais tarde Quirós disse que fez contato com mais de 250 investidores e marcou umas 30 reuniões na cidade nos próximos dias e que haveria outra etapa dessa turnê em Londres em junho.

O grande temor de investidores, advogados e gestores de grandes fortunas que se abalaram até os encontros com Covas, na verdade, tem a ver com uma mudança no comando paulistano que viram como repentina demais, lembrando a saída de Doria, que acabam de conhecer, e a chegada de um jovem sucessor.

Doria, o atual candidato tucano ao Palácio dos Bandeirantes, esteve numa das reuniões e se esforçou para reverter a noção de instabilidade. “Eu fico tranquilo porque deixo à frente da prefeitura um jovem que manteve toda a estrutura funcionando”, disse o ex-prefeito. “Sendo eleito, teremos dois prefeitos. O Bruno como prefeito e eu como o governador, que terei obrigação de apoiar a cidade e dar continuidade a todos os programas que estamos desenvolvendo.”

Noutro esforço para distanciar a venda de ativos de qualquer escândalo de corrupção –a licitação para o serviço de varrição pública da gestão atual foi questionada na Justiça–, a equipe do prefeito frisou que o dinheiro de privatizações e concessões deve ser destinado a investimentos em saúde, educação, moradia popular e na mobilidade urbana.

Wilson Poit, o secretário municipal de Desestatização, repetiu uma série de vezes a ideia de cofres separados, um para despesas e outro para investimentos, onde entrariam os recursos do leilão de ativos, e que as dúvidas em relação ao processo é “o preço que a cidade paga pelo pioneirismo”.

Mas os empresários americanos ali estavam inquietos. Uma mulher, que afirmava ter uma extensa rede de contatos no Oriente Médio, diz que ninguém confia num país que muda as regras todos os dias, e outra levantou dúvidas sobre como seria possível passar tanta coisa para mãos de particulares sem aumentar os custos para o cidadão comum.“Não adianta dizer que eu ou João Doria vamos acabar com a corrupção no Brasil, mas ao fazer todo esse processo da maneira mais transparente possível a gente tenta evitar que ela ocorra”, disse Covas.

“Os contratos também trazem garantias para o cidadão. Quem administrar o parque Ibirapuera não vai poder cobrar entrada, por exemplo. Vamos ter um patamar de cobranças e de expectativas.”Já foi lançado, aliás, o edital de licitação –rodeado de polêmicas— para a concessão do maior parque da cidade, que deve ocorrer em agosto.

No mesmo mês, a prefeitura deve ofertar o Anhembi, outro negócio prioritário de um pacote de itens que vão de semáforos e wi-fi público a limpeza urbana e serviços funerários. “Todos acreditamos que o Brasil precisa reduzir o peso do estado na economia. Em São Paulo, fizemos o máximo para cortar os gastos públicos desnecessários”, disse Covas, elogiando a atual “equipe econômica sólida” do governo federal. “O Brasil precisa de menos burocracia e mais estruturas para agilizar a gestão.”

 
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