Desabastecimento atinge de mercado a posto de combustível com greve

SP pode ficar sem gasolina nesta sexta; supermercado raciona venda a cliente

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Problemas de abastecimento causados pela greve dos caminhoneiros deixaram prateleiras de supermercados vazias em Porto Alegre
Problemas de abastecimento causados pela greve dos caminhoneiros deixaram prateleiras de supermercados vazias em Porto Alegre - Davi Magalhães/Futura Press/Folhapress
São Paulo

Em postos de combustível, longas filas, que chegavam a congestionar ruas e avenidas, e motoristas dispostos a esperar horas para abastecer nos que dispunham de gasolina e de álcool —apesar de preços muitas vezes exorbitantes. Em alguns supermercados, faltaram produtos, e houve quem decidisse racionar a venda.

Esse cenário de desabastecimento foi sentido por moradores de grandes cidades, como São Paulo, no 4º dia de paralisação dos caminhoneiros.

A preocupação com a falta de produtos nos próximos dias se estendia até à disponibilidade de dinheiro, devido à dificuldade de transporte.

Em carta à Febraban (federação dos bancos), a associação brasileira das empresas de transporte de valores alertou nesta quinta (24) sobre os riscos de atrasos e cancelamentos de entrega de dinheiro.
Unidades de saúde também já eram afetadas por falta de entrega de insumos hospitalares —e havia preocupação com a chegada de oxigênio.

Na capital paulista, a previsão do Sincopetro (sindicato de postos de combustível) era que os estoques dos estabelecimentos poderiam amanhecer esgotados nesta sexta (25). 

“Já é o quinto posto que venho porque os outros não tinham mais gasolina”, disse o representante comercial Francisco Assis, 56, após conseguir encher o tanque na zona leste.

“O primeiro produto que está acabando é o etanol, que é o primeiro que o motorista pede, porque está mais barato”, disse José Alberto Paiva Gouveia, presidente do Sincopetro. Segundo ele, “como o consumidor ficou desesperado”, houve aumento de consumo. No Rio, 90% dos postos relatavam escassez de combustível.

Houve reajuste de preço em postos pelo país —alguns cobraram mais de R$ 5 pelo litro de gasolina. O Procon-SP afirma que a prática pode ser abusiva e deve ser denunciada.

Em supermercados paulistas, os itens mais afetados eram frutas, legumes e verduras, por serem perecíveis e de abastecimento diário —e que têm estragado nas estradas.

Segundo a Apas (associação dos supermercados), carnes, leite e derivados, panificação congelada e produtos industrializados que levam proteínas no processo de fabricação já estavam com as entregas comprometidas pelos atrasos no reabastecimento.

Alguns estabelecimentos passaram a limitar a quantidade de venda a cada cliente.

A rede Carrefour, por exemplo, chegou a limitar em algumas unidades cinco unidades de cada item por consumidor —para que “todos os clientes consigam preços e ofertas”.

No Vale do Paraíba, uma rede só permitia 15 kg de arroz, 5 kg de feijão, 5 unidades de óleo, 6 litros de leite e 15 kg de açúcar para cada consumidor.

“Vimos pessoas apavoradas, lotando carrinhos. Se continuasse assim, não teríamos nada”, disse Josaf Edson de Oliveira, gerente do supermercado Produtor, de Queluz.

Houve desabastecimento de frutas e legumes no Ceagesp, de São Paulo, Ceasa, do Rio de Janeiro e de Curitiba, e Feira de São Joaquim, em Salvador.

No Ceagesp, alimentos tiveram alta significativa de preços. A batata lavada subiu em média 95%, diz a companhia.

“Na segunda, eu vendi o saco de batata entre R$ 70 e R$ 100, dependendo da qualidade. Agora está entre R$ 120 e R$ 200. A gente precisa implorar para o transportador mandar, aí eles sobem o preço”, afirma Rita Barbosa, sócia de um box do local.

Associações de supermercados da região Sul também falaram em estoques comprometidos —exceto para itens de mercearia, higiene e limpeza, que costumam ser armazenados por até 15 dias.

No Mercado Central de Belo Horizonte, um dos símbolos da capital mineira, começou a faltar outro ícone do estado: o queijo canastra

Na loja de Kris Julião, a bandeja de morango passou de R$ 4 para R$ 7. “E já acabou”, diz. O comerciante encomendou 20 caixas e veio metade.

Os produtos estavam viajando camuflados em veículos de menor porte para driblar bloqueios nas estradas.

CIRURGIAS CANCELADAS

Hospitais privados e filantrópicos de Santa Catarina cancelaram cirurgias eletivas. Segundo a associação de hospitais, alguns não recebiam com regularidade remédios, alimentos e materiais.

Yussif Ali Mere Júnior, presidente do Sindicato e da Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo, diz que o principal temor é os estoques de oxigênio a partir desta sexta (25). Os hospitais trabalham com reservas para até três dias.

“A situação é extremamente preocupante”, afirmou Ali Mere, que encaminhou email à Presidência da República e ao Congresso alertando para a emergência da situação.

“Todo hospital consome muito oxigênio. São cirurgias, doentes na UTI, pacientes fazendo inalação nos pronto-socorros”, afirma Francisco Balestrin, presidente da Anahp  (Associação Nacional dos Hospitais Privados).

Em hospitais como Albert Einstein e Sírio Libanês, os planos de contingência já estão a postos. “Temos o nosso próprio transporte fretado para buscar funcionários. E a empresa tem postos de gasolina próprios”, disse Sidney Klajner, presidente do Einstein.

Em Santos, a prefeitura cancelou a vacinação contra a gripe que seria realizada na casa de pacientes acamados ou com restrição de mobilidade. A Baixada Santista inteira não recebeu o lote do estado com cerca de cem mil doses da vacina em razão dos bloqueios.

No Rio, a Cedae pediu que moradores economizem água em razão de possível redução na produção. O estoque de produtos químicos usados no tratamento estava caindo.

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