Descrição de chapéu greve dos caminhoneiros

Sorte ou azar, mercado pode ter caviar ou falta de papel higiênico em SP

Após paralisação de caminhoneiros, tipo de produto esgotado varia em cada lugar

Ivan Finotti
São Paulo

Sorte ou azar. Seu supermercado preferido ou aquele do lado da sua casa pode não ser o melhor para fazer compras nesses dias de paralisação de caminhoneiros. Ou pode. Questão de sorte ou azar.

Sorte. Você se dirige ao Santa Luzia, meca gourmet nos Jardins, na zona oeste de São Paulo. Está quase tudo lá. Alimentos kosher, geleias St. Dalfour, patês Roger Vidal, Bottarga, Green Label, caviar.

Falta mamão formosa e patinho, veja só. O super estava lotado nesta terça-feira (29) e os clientes podiam comprar perecíveis como alface e tomates orgânicos e não orgânicos, em bandejas com legumes e verduras lavadas ou não lavadas. 

Azar. O Pão de Açúcar da rua Maranhão, em Higienópolis, região central, estava uma tristeza. Nem um litro de leite (os funcionários mesmo tomaram apenas café puro no lanche). Uma dúzia de saquinhos de arroz escondidos no fundo de uma prateleira.

Só tem patinho, coxão mole e contra-filé. Na verdade, o açougueiro corrige, há filé de marcas premium, mas não o da casa. Pois a peça do Angus vai a R$ 102,63. A da picanha Hereford, a R$ 104,59. E pedação de bife de chorizo argentino Pico, que parece não depender de caminhões (via aérea, estampa a embalagem), custa R$ 111,10.

E não havia papel higiênico, céus! Havia, pelo menos, papel toalha para emergências. Uma empregada doméstica uniformizada, fazendo compras para a patroa, contou ter dado falta de outro produto: não há mais Silvo, limpador de pratarias, em Higienópolis.

Sorte. A poucas quadras dali, no entanto, o popular e enorme Sonda (ocupa um quarteirão na Barra Funda) exibe estoque musculoso. Há uma montanha de papel higiênico do Alfredo, e em oferta (aquela do leve 16 e pague 15). 

Falta laranja-pera, alface e cenoura, mas há dúzias de frutas e verduras. E tem filé e picanha, essa a R$ 32,22 a peça de 700 gramas (não se discute aqui a qualidade com a vendida no Pão de Açúcar).

Azar. No Pastorinho, na Vila Mariana, na zona sul, as coisas começam a rarear. O mamão formosa (olha ele aí de novo) está em falta. O limão, a mandioquinha, a cenoura, a batata, a laranja pera, o alface. 

"Muitas carnes faltando", diz um funcionário. Um cliente comemora: "Queria fazer um chá de limão e consegui os dois últimos". Exibe orgulhoso o saquinho com o par de frutinhas feias. 

 

Sorte. Há todo tipo de carne (chegaram na terça mesmo) e orquídeas de todas as cores no St. Marche do Itaim Bibi, na zona oeste.

Faltam alguns perecíveis e falta presunto. Ah, e falta também o mamão formosa, que parece o maior inimigo dos caminhoneiros desse Brasilzão.

Azar. O mercadinho KL, na Consolação (centro), está sofrendo às pampas nessa crise. O dono, Kim Chen, chinês há dez anos no país, conta que há mais de uma semana não encosta um mísero caminhão de entrega em sua porta. E o que está faltando aqui? "Pão de forma, arroz, farinha, ovo, frutas, verduras, legumes, leite, tudo, falta tudo. Nem precisa anotar. Falta tudo!"

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