Baixa umidade continua em SP; veja como aliviar sintomas do tempo seco

Estiagem é semelhante à de 2017; El Niño deve retornar em dezembro

Vista de São Paulo do bairro de Santana nesta terça (17), onde é possível ver a faixa de poluição

Vista de São Paulo do bairro de Santana nesta terça (17), onde é possível ver a faixa de poluição Bruno Santos/Folhapress

Paulo Gomes
São Paulo

​A sequência de dias com baixa umidade relativa do ar pela qual São Paulo passa, comum para essa época do ano, deve continuar pelas próximas semanas. Já são 34 dias sem chuva na capital paulista, segundo o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências, da prefeitura).

De acordo com a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de SP), a qualidade do ar atingiu o pior índice dos últimos dez dias na região metropolitana de São Paulo. Nas estações de monitoramento Guarulhos-Pimenta, Itaim Paulista e Osasco os índices foram considerados muito ruins. A grande concentração de poluentes foi ocasionada pela baixa umidade do ar e a presença de muita poeira na atmosfera.

O inverno atual está semelhante ao de 2017. "A última chuva foi em 13 de junho, mesmo dia do ano passado, quando tivemos uma sequência de 50 dias sem chuva —até 2 de agosto. Não se vê expectativa de mudança", afirma Adilson Nazário, técnico em meteorologia do CGE. Ou seja, não deve chover tão logo.

A baixa umidade é normal para o período. Desde sexta (13), quando o nível voltou a baixar, foram dois os dias com umidade relativa do ar abaixo de 20% —a própria sexta, com 17%, e segunda (16), com 18%—, o que configura estado de alerta de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde). ​

Entre 20% e 30% é considerado estado de atenção. Segundo dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), nos anos  de 2016, 2017 e 2018, até 17 de julho, a cidade de São Paulo teve umidade relativa do ar abaixo ou igual a 30%, às 15 horas em 31 dias: 10 em 2016, 17 em 2017 e 4 dias, até agora, em 2018.

Entre 12% e 19% é determinado estado de alerta, e abaixo de 12%, de emergência (confira mais abaixo cuidados a serem tomados). O estado de emergência só foi atingido neste século uma vez, em 14 de agosto de 2009, com 10%.

Esta terça (17) seguiu a tendência dos últimos dias, com os níveis de umidade caindo sobretudo no período da tarde. ​ Às 16h, o Inmet registrou 21%. ​A secura deve continuar pelas próximas semanas. ​

Segundo Elton Almeida, meteorologista do CPTec (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, do Ministério da Ciência), não há nada de anormal. "Não tem nada interferindo de forma significativa. São valores baixos [de umidade], preocupantes em termos de saúde pública, mas é esperado para o período."

Ernesto Alvin, meteorologista do Inmet, explica que as nuvens não chegam a São Paulo por causa de um sistema de alta pressão atmosférica, que bloqueia as frentes frias.

"[A frente fria] chega até o Rio Grande do Sul e sai para o oceano. Então você tem dias de baixa umidade, com céu claro e bastante amplitude térmica, quando a temperatura aumenta bastante durante o dia e cai bastante durante a noite. É normal em áreas tropicais", conta Alvin.​

Na segunda, segundo o CGE, a mínima foi de 12°C e a máxima de 29ºC, uma variação de 17°C que ilustra a amplitude da época.

Alvin chama atenção para o aumento do risco de queimadas, e dos níveis de poluição no período. "Quem tem mais sensibilidade tem que tomar cuidados" (confira recomendações abaixo).

El Niño vem aí

Nazário, do CGE, afirma que tem aumentado a expectativa da ocorrência do fenômeno El Niño no verão, do final deste ano até março. Com ele, deve haver chuvas de maior intensidade nas regiões Sul e Sudeste, o que tende a favorecer o abastecimento de reservatórios de água.

 
Os três maiores reservatórios de água da Grande São Paulo (Cantareira, Alto Tietê e Guarapiranga) estão com, respectivamente, 54,8%, 54,5% e 66,3% de sua capacidade. Os três apresentam ligeira queda em relação ao início do mês, quando eram de 56,5%, 56,5% e 71,6%.
 
Esta porcentagem no Cantareira (considerando o volume morto) configura estado de atenção, o primeiro nível em que se adota algum tipo de restrição. Neste caso, é reduzida a retirada de água.

POR QUE É RUIM?

Baixos níveis de umidade relativa do ar são especialmente preocupantes em grandes centros urbanos como São Paulo. Aliada à poluição, a secura torna mais críticas doenças respiratórias como asma, sinusite e alergias, e facilita também a disseminação de doenças do tipo.

É comum também que as mucosas fiquem secas, podendo ocorrer sangramentos no nariz e lábios ressecados e irritação dos olhos. "A mucosa mais seca não reage tanto aos micro-organismos", explica a meteorologista do Inmet.

QUAIS OS CUIDADOS NECESSÁRIOS?

É preciso atenção à hidratação, mais do que o comum. O consumo de água deve ser à vontade. Melhor ainda se aliado à ingestão de bebidas que repõem sais minerais, como água de coco e sucos de frutas que contêm bastante água, como melancia, melão e pera.

Em casa, recomenda-se manter o ambiente úmido, com toalhas molhadas, recipientes com água ou umidificadores.

Quem estiver sentindo incômodo, como narinas ressecadas, pode recorrer a procedimentos de inalação.

Outra opção é o uso de máscaras cirúrgicas descartáveis, à venda em farmácias e comum nesta situação em metrópoles orientais.

"Na China já avisam a população para usar a máscara [quando se chega a baixos níveis de umidade]", diz Balbino. "Ela impede que o poluente chegue às vias aéreas e retém a umidade do ar dentro dela."

É importante ainda manter crianças hidratadas e evitar aglomerações. 

POSSO FAZER ATIVIDADES FÍSICAS?

Seja no chamado estado de alerta (12% a 20%) como no estado de atenção (20% a 30%), a recomendação é de que se evite exercícios físicos ou trabalhos que exijam esforço físico no período do final da manhã até o final da tarde (entre 10h e 18h).

FREQUENTAR PARQUES AJUDA?

Quem procura parques para obter um ar de melhor qualidade nestas condições comete um equívoco. Ainda que a concentração de árvores em um ambiente como esse ofereça mais umidade, o fato de ela ser uma "ilha" em meio à poluição traz consequências indesejadas, como grande concentração de ozônio, o que vai irritar ainda mais as mucosas.

Fazer atividades físicas em parques, sendo assim, não é uma solução para dias de baixa umidade. O mesmo vale para ambientes com ar condicionado, como academias, que deixam o ar ressecado e frio.

O ideal mesmo é evitar essa faixa de horário em que o ar está pior. Pode-se recorrer a lavar o nariz com soro fisiológico antes e depois dos exercícios para controlar o ressecamento nasal.

TENDÊNCIA PARA OS PRÓXIMOS DIAS

A qualidade do ar melhora gradativamente em São Paulo nesta semana, mas ainda inspira cuidados. Um sistema de alta pressão que atua sobre quase todo o país nesta semana impede a formação de nuvens —por isso o céu limpo—​ e só deve chover nos próximos dias ​no Norte, no Rio Grande do Sul e em parte de Santa Catarina.

Com o sol predominante durante os dias e a baixa umidade, a queda de temperatura à noite é brusca, podendo haver variação de mais de 10°C, para menos assim que ele se põe.

Nesta terça (17), a madrugada e a manhã devem ter bons índices de umidade, em torno de 50%. A tarde, porém, terá níveis parecidos com o desta segunda, ao redor de 20%.

Na quarta (18) à tarde há uma ligeira melhora, a 30%, com a boa notícia de que a manhã deve ter uma névoa úmida, com até 95% de umidade, o que fará a dispersão dos poluentes. A quinta (19) não tem névoa, mas a umidade vai de 70% no início do dia a até 30% à tarde. 

Os níveis ficam melhores na sexta, com variação prevista de entre 55% e 90%, segundo o Inmet.

Não é demais lembrar, todo cuidado com áreas de vegetação é pouco, já que o fogo se espalha muito rápido quando a vegetação está muito seca.​

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.