Esquadrão antibomba da PM-SP faz 30 anos quase 'invicto' em operações

Conhecido como Gate, grupo acumula só uma morte entre os integrantes

Carlos Bozzo Junior
São Paulo

O Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) da Polícia Militar de São Paulo completa 30 anos neste ano. Em todo o período de atuação, o grupo contabiliza uma única morte entre os integrantes de seu esquadrão antibombas.

A unidade foi criada em 1988 para atuar em ações especiais, como as que envolvem a presença de artefatos explosivos, negociações e invasões táticas, em apoio a unidades territoriais. São 120 policiais na equipe, sendo 30 deles especialistas em explosivos.

O capitão Gustavo Packer Mercadante, 42, é o que mais entende de bombas na cidade e virou comandante de uma das companhias do Gate, acionada em ocorrências que envolvem artefatos explosivos.

Em entrevista à Folha, na base do Gate, na Vila Maria (zona norte), o experiente policial, há dez anos no grupo especial da PM, diz ser um “explosivista”, como são conhecidos os policiais capacitados a manusear, desativar e deixar a bomba em condições de segurança.

Quando uma ocorrência envolve artefatos explosivos, é designado ao grupo a varredura, ou seja, a operação de desarmá-las, removê-las ou detoná-las, além de, em perícia, identificar os materiais utilizados em sua fabricação.

Há um lema no grupo: “Com explosivos só se erra uma vez”.

Foi durante uma perícia, em 2006, que ocorreu a morte do sargento Alberto Mini, 43, enquanto ele periciava e desarmava uma bomba lançada contra a sede do Ministério Público do Estado de São Paulo durante a onda de ataques do crime organizado contra policiais na capital.

O artefato foi aprendido e removido para a base do Gate.

“Infelizmente, no nosso histórico de 30 anos, mexendo o tempo todo com bombas, contabilizamos esse óbito, além de mais dois acidentes que ocasionaram lesões nas mãos de dois policiais”, diz o capitão, sobre um integrante que perdeu um dedo, e o outro, a mão, em destruição e perícia de fogos de artifícios.
O esquadrão antibombas do Gate atende pedidos de unidades das polícias Civil, Militar e Federal.

“Atendemos também a solicitações da Justiça, do Ministério Público e advogados, para esclarecimentos em processos que envolvam a ocorrência de bombas”, falou o policial, complementando que a apreensão, perícia e destruição de fogos de artifícios estão entre as ocorrências mais “chatas” de lidar.

“Internacionalmente e aqui no Brasil, fogos de artifícios são responsáveis pelo maior índice de acidentes com relação a material explosivos”, disse o capitão. Segundo ele, turmas de baloeiros, torcidas organizadas e pessoas que trabalham em lojas clandestinas de fogos de artifício integram o maior número de vítimas.

A maior parte de ocorrências com foco criminal envolve emulsão (explosivo à base de nitrato de amônia), usado em mineração e construção civil para desmonte de rochas e na abertura de caminhos e túneis. Além de comum e barato, esse explosivo é de fácil acesso para os criminosos.

“Bombas que trazem a emulsão como explosivo principal são as que mais temos. Os casos de furto e roubo desse material são frequentes.”

Já no caso da dinamite e de outros explosivos comerciais, é possível rastrear a origem do material, uma vez que os lotes produzidos têm números de série, o que facilita o controle. “Mas é preciso lembrar que é possível produzir um artefato improvisado, a partir de materiais de fogos de artifício ou pólvora, por exemplo, e aí não tem como rastrear ou saber a origem.”

Atualmente, o maior número de ocorrências com explosivos acontece em furtos e roubos de caixas eletrônicos.

O capitão Mercadante, do Grupo de Ações Táticas Especiais
O capitão Mercadante, do Grupo de Ações Táticas Especiais - Diego Padgurschi/Folhapress

A maior dificuldade que o Gate encontra ao atender uma ocorrência, segundo o capitão Mercadante, tem um caráter comportamental.

“Temos muita dificuldade com o isolamento do local, em afastar as pessoas. Nos países em que há cultura de segurança pública mais aprofundada, que têm atentados terroristas e sofrem com isso, a população sabe que, se há uma ameaça de bomba, tem que se afastar”, afirma.

“No Brasil, se eu disser que há uma bomba, todo mundo vai na janela olhar e isso aumenta muito o risco, pois a maior parte das lesões ocasionadas por explosões acontecem em decorrência da fragmentação do vidro.”

Atuando como “explosivista” há dez anos no Gate, o capitão Mercadante observa uma evolução no processo de fabricação das bombas encontradas nas ocorrências. “A partir de 2014, temos visto bombas mais sofisticadas. Isso mostra que houve um aprendizado no processo de produção desse tipo de artefato.”

Some-se a isso a maior facilidade no acesso a explosivos e a acessórios industrializados, como cartuchos de emulsão, que já podem ser encontrados nas mãos de criminosos.

Há algum tipo de preparo especial do grupo para o período das eleições este ano?

“Nossa preparação é continua. Há períodos e situações especiais, como durante a Copa do Mundo ou em outros grandes eventos, em que realizamos ações de varredura. Para o período das eleições este ano não temos nenhuma ação especial, embora elas possam acontecer, pois dependemos de solicitações de outros órgãos.”

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