Descrição de chapéu Obituário CLEMENTE HUNGRIA (1921 - 2018)

Mortes: Criminalista, defendeu presos políticos com o pai

Durante a ditadura, Clemente ajudou a libertar figuras célebres

Fernanda Canofre
São Paulo

Pé ante pé era como Clemente, nos seus 20 anos, chegava em casa após as noitadas na virada dos anos 1930 para 1940, no Rio de Janeiro. A ideia era não ser visto pelo pai, que amanhecia o dia estudando, com cenho vincado.

Nelson Hungria fazia parte do seleto grupo encarregado de revisar o novo Código Penal Brasileiro, que seria sancionado por Getúlio Vargas.

De tanto assisti-lo, o mais novo dos quatro filhos, apelidado de Clementin, decidiu seguir os mesmos passos. Após o golpe militar, em 1964, os dois trabalharam juntos no habeas corpus do ex-governador de Sergipe, Seixas Dória, que havia sido jogado na prisão por criticar os militares.

Depois, com mais dois colegas, conseguiram outro para o escritor e jornalista Carlos Heitor Cony, enquadrado na Lei de Segurança por causa de textos críticos ao governo.

O amigo René Ariel Dotti lembra que, quando o "doutor" Nelson morreu, em 1969, o filho virou seu "memorizador". Em rodas de conversa, contava com orgulho sobre os casos do pai. Como ele, era sensível, de fina ironia, mas forte na argumentação. E tratava todos da mesma maneira.

Em 1955, Clemente abriu a porta de uma casa na avenida Lins de Vasconcelos, em São Paulo, e se apaixonou. Do outro lado estava Evany, uma jovem de 17 anos, filha de um médico que ele havia defendido no Supremo Tribunal Federal. A mulher seria sua companheira pelos próximos 62 anos e mãe de suas duas filhas. Nesta quinta (27), fariam 60 anos de casados.

Foi segurando a mão dela que ele morreu em 1º de setembro, na cama do hospital, no dia em que completou 97 anos. "Ele foi muito contrariado, porque queria morrer com 100 anos", diz ela. "Vai fazer uma falta monstruosa na minha vida, que começou, eu com 17 anos, ele na minha frente."


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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