Ver o pai vender carros era a diversão de menino. Beto aprendeu cedo a dirigir —e a pegar os automóveis escondidos para dar umas voltas, naqueles idos anos 1950 de menos rigor nas leis de trânsito. “Com sete anos eu já dirigia”, se gabava, para risada geral da família.
O apego que tinha por carros ninguém duvidava. Filho único, herdaria a profissão. Diferente do patriarca, porém, pôde se especializar na área. Formado em engenharia mecânica, fluente em inglês e alemão, Beto trabalharia na luxuosa Mercedes e, mais tarde, na multinacional de peças automotivas BorgWarner.
A filha Fabiana perdeu a conta de quantos Volkswagen Karmann-Ghia ele teve. Foram três ou quatro? Beto também guardaria a vida toda o Fusca 1970 vermelho do pai —item de colecionador, que se recusava a vender e cuidava com esmero todos os dias.
Seu outro fascínio era a dança. Quando novo, todos paravam para vê-lo na pista dos bailes. As meninas formavam fila para ser seu par, dizia, sem modéstia. O pé de valsa era grande fã de Elvis Presley, Ray Conniff, Roupa Nova, Roberto Carlos e de canções italianas —seus avós vieram da Itália e da Alemanha.
Em 1965, num dos bailes, dançou com uma moça dez anos mais nova, de quem não largou mais. Amor à primeira vista, diriam Beto e Hariete depois de cinco décadas juntos. Foi, sem dúvidas, sua maior paixão. “Você sempre será minha menina”, não se furtava de dizer. Era só elogios.
No último Natal, reuniu tudo o que mais amava: viajou de carro até Campos do Jordão (SP), encontrou toda a família, brincou com os netos, dançou com a mulher. Já estavam todos cansados, mas Beto continuava lá na pista —a música? Dessas atuais, eletrônicas. Não importava.
Só um infarto conseguiu parar o ritmo de José Roberto Flores no dia 25 de agosto, aos 79 anos, em São Bernardo do Campo (SP). Deixou a mulher, Hariete, os três filhos, Roberto, Patricia, Fabiana, e quatro netos.
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