Por algumas horas da última terça-feira (9), Aaliyah Cristina, 16, sentou-se na cadeira do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), e falou sobre igualdade de gênero e direitos das meninas.
Moradora do Capão Redondo, na zona sul da cidade, e estudante da rede pública, Aaliyah nunca tinha estado no prédio da prefeitura. Oriunda da periferia, acredita que sua voz nem sempre é respeitada.
Naquela tarde, porém, a gestão municipal parou para ouvir o que ela e Kailany, 15, tinham a dizer. “Por sermos de periferia, temos medo, nem sempre temos coragem [de falar o que pensamos]. Não tenho palavras para descrever a sensação. Foi muito gratificante.”
A ação, chamada Meninas Ocupam, é fruto de um projeto que leva meninas a ocupar espaços de liderança por um dia no setor público e em empresas privadas. Organizada pela ONG Plan Internacional, acontece em diversas cidades do mundo e está no Brasil desde 2016.
O objetivo é chamar a atenção para o Dia Internacional das Meninas, comemorado neste 11 de outubro. A data foi criada em 2011 pela ONU para alertar para os direitos das meninas e para a necessidade de prevenir o casamento infantil.
Segundo dados do Banco Mundial e da ONU, o Brasil é o quarto país do mundo em número absoluto de casamentos infantis, com 3 milhões de uniões precoces.
Em 2006, 36% das mulheres de 20 a 24 que estavam casadas haviam se juntado a seus parceiros antes dos 18 anos. “Uma a cada cinco meninas deixa a escola em virtude de gravidez. Isso é preocupante”, afirma Cynthia Betti, diretora-presidente da Plan Brasil.
Para ela, um resultado importante do projeto é mostrar para as participantes, geralmente estudantes de escolas públicas e moradoras de comunidades pobres, que elas podem ocupar espaços de líder. Para isso, é importante que sejam incentivadas a estudar e a se desenvolver.
“A ideia é inaugurar espaços para que essas meninas possam ampliar a visão de mundo delas e a visão de onde elas podem ir. É uma oportunidade de elas pensarem: ‘Eu posso um dia ocupar esse espaço. Por que não'?”, diz.
Neste ano, 13 cidades brasileiras receberão ações do projeto até o fim do mês. Em São Luís, ocuparão cadeiras no Ministério Público e, em Teresina, na Defensoria do estado. Em São Paulo, estarão no lugar da cônsul-geral Adjunta do Reino Unido e acompanharão a gravação de um programa de TV. Em Salvador, farão uma sessão na Câmara Municipal.
Moradora da capital baiana, Caroline Vitória, 15, participou no último dia 2 de uma reunião com o conselho tutelar da região onde mora. Na ocasião, falou sobre a importância da atuação do órgão nas escolas.
Estudante do 9º ano do ensino fundamental, Caroline pensa em estudar direito ou psicologia quando acabar o ensino médio. “Nossa ideia é preparar essas meninas para que a gente possa ter mais mulheres ocupando espaços de liderança em um futuro próximo”, diz Cynthia, da Plan.
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