Descrição de chapéu Obituário Vicente Ribeiro de Gouveia (1932 - 2018)

Mortes: Laborioso pioneiro do interior mato-grossense

Rezava o terço todo dia, presenteava as pessoas com adesivos de Fátima e adorava pescar

Paulo Gomes
São Paulo

Devoto de Aparecida e de Fátima, seu Vicente rezava o terço todos os dias e assistia a duas missas em TVs católicas. Um de seus hábitos era presentear pessoas próximas com adesivos de Fátima.

Filho de agricultores do interior paulista e do Paraná, chegou a ser taxista, ter um armazém e uma sorveteria. Aos 40, vendeu tudo o que tinha e foi para Tangará da Serra, então vilarejo em Mato Grosso. 

Lá, fez de tudo. Sua lanchonete-mercearia virou ponto de referência, servindo como rodoviária e correio —o endereço de todas as cartas para moradores era o seu bar.

Jogos da loteria esportiva também eram feitos, informalmente, na mercearia. A pessoa jogava e os bilhetes ficavam por lá, sob responsabilidade do dono. Uma vez, conferindo os resultados, viu que um senhor de Apucarana (PR) tinha ganhado. Vicente teve que mandar um funcionário viajar mais de 1.700 km para entregar o bilhete ao dono.

Até as hóstias da igreja local eram feitas na sua casa, uma das poucas que tinha motor. Ajudou na emancipação como município, em 1976, e seguiu como um prestador. Quando interrompia a transmissão de sinal das TVs, Vicente ia até o morro no município vizinho e subia na torre repetidora para trocar a bateria e garantir a novela para a comunidade.

Ainda que laborioso, aproveitava o tempo livre. Adorava pescar. No último dia 22, ia com o genro. "Guizinho, coloque o cinto. Por favor", apelou seu Vicente ao motorista. Falou, uma, duas, três vezes, até que Guizinho obedecesse. Na estrada, um veículo atingiu o carro no lado do passageiro. O genro foi salvo pelo cinto.

Vicente morreu no acidente, aos 86. O vidro se estilhaçou, mas o adesivo de Nossa Senhora de Fátima que tanto distribuía foi encontrado pelo filho bem no banco onde estava seu Vicente. 

"Ele cumpriu a missão dele", diz o filho Renato, hoje vice-prefeito de Tangará. Deixa a mulher Georgina, com quem ficou por 56 anos, e também os filhos Rubens, Regiane Benedita e Rinaldo, quatro netos e quatro irmãos. 


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