Mesmo reunindo-se com frequência, a família de Giolanda Mantovani Berrocoso tinha uma data, considerada sagrada pela matriarca, em que todos deveriam estar presentes: o almoço de Natal.
Além dos inúmeros quitutes, os filhos, noras e netos tinham certeza de que encontrariam no cardápio dois pernis assados e muito bem temperados —um para petisco e outro para o almoço. Era uma tradição.
Natural do interior paulista, a mulher de origem italiana chegou aos cem anos e dedicou grande parte da vida ao bem estar da família.
Firme e exigente, Giolanda também transbordava alegria e bom humor. Ela brincava até com a história de seu nome, que foi criado por um erro de percurso. O pai queria que a filha se chamasse Iolanda, mas ao pronunciar o nome com o sotaque carregado, fez o escrivão entender que havia uma letra g.
Foi na fazenda da família em Santo Anastácio (SP) que ela conheceu o futuro marido e pai de seus cinco filhos. Funcionário da família, o rapaz não era o partido desejado pelos pais. Ela, no entanto, rejeitou as outras indicações e casou com quem amava.
Nicolino, como chamava um de seus pretendentes da época, virou no máximo o nome do cachorro de estimação do neto —com o aval de Giolanda, que sempre ria da situação.
Ela também não dispensava um aperitivo e mantinha o hábito de tomar um cálice de vinho tinto no almoço e no jantar. Quando ia ao médico e recebia a orientação de um novo remédio, logo perguntava: “Doutor, mas posso beber?”.
A vaidade era outra marca registrada. Mesmo acamada, a primeira coisa que fazia quando precisava levantar era arrumar os cabelos com as mãos e pedir para ser penteada. Em 2018, apagou as velinhas do bolo de seus cem anos do mesmo modo tranquilo e sereno com o qual encerrou sua jornada no dia 31 de outubro. Deixa filhos, netos e bisnetos.
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