Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Bairro mais caro do país, Leblon tem pior praia da faixa turística do Rio

Água do mar na região esteve imprópria para banho por um terço do tempo nos últimos três anos

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Canal do Jardim de Alah é uma das fontes de poluição da praia do Leblon (zona sul do Rio), com relatos de despejo de esgoto clandestino
Canal do Jardim de Alah é uma das fontes de poluição da praia do Leblon (zona sul do Rio), com relatos de despejo de esgoto clandestino - Júlia Barbon/Folhapress
Rio de Janeiro

​Quando vai à praia no Leblon, no Rio de Janeiro, Carlos Ferreira, 83, já tem seu lugar preferido. Bem no meio dos dois canais que desembocam nas areias do bairro mais caro do país. “Esse trecho é melhor, é difícil ver coisa estranha aqui”, diz.

Ele explica: “Ali tem muito cocô”, apontando para a extremidade da praia onde fica um desses canais, na avenida Visconde de Albuquerque.

São essas vias as responsáveis por fazer as águas do Leblon acumularem a pior qualidade do trecho turístico da zona sul carioca, considerando também as superturísticas Ipanema, Copacabana e Leme.

Os três pontos de medição da balneabilidade no bairro oscilaram entre regular e ruim de 2016 a 2018, período em que a Folha fez um levantamento em todo o litoral brasileiro. 

São 7.491 km de praias, com 1.188 pontos com qualidade da água medida nos últimos anos e, como a Folha mostrou na última semana, só 283 estiveram com a água sempre própria em todas as semanas de 2016, 2017 e 2018.

O Leblon não foi um deles. Nesses três anos, a região ficou imprópria para banho em cerca de 4 a cada 12 meses, de acordo com o levantamento.

Os dados contrariam uma promessa feita em 2012 pelo então secretário estadual do Ambiente, o hoje deputado estadual Carlos Minc (PSB), ao lançar um programa de despoluição das praias da região. “O objetivo é em dois anos essas praias estarem próprias para o banho em mais de 90% das vezes”, disse ele à época.

O objetivo de Minc, que também é ex-ministro do Meio Ambiente, não se concretizou, e os sinais disso às vezes são notáveis.

“Na semana passada achei bem ruim, tinha muita espuma na água perto do canal do Jardim de Alah [na divisa entre Leblon e Ipanema]”, reclama o estudante Thiago Silva, 21.

“Hoje mesmo a praia está com um cheiro estranho, de podre”, afirma a aposentada Carmen de Souza, 57. 
Cariocas como eles até sabem que o mar no bairro não é dos mais limpos, mas isso normalmente não abala a ânsia de se refrescar num verão que chega a 40°C. 

Os turistas, que muitas vezes “se iludem” com a cor cristalina da água, também parecem não se importar muito. “Eu sou de Belo Horizonte, então qualquer praia para mim tá ótimo”, brinca o advogado Pedro José da Silveira, 64, molhado após um mergulho.

A poluição vem principalmente do lançamento irregular de esgoto na rede pluvial, que além da água da chuva acaba carregando esses detritos. Eles então caem nos dois canais, que os levam à praia, explica Paulo Rosman, professor de engenharia costeira da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

“Há 26 anos eu coordenei um projeto para, entre outras coisas, melhorar a qualidade da lagoa Rodrigo de Freitas [que tem ligação com o mar pelo canal do Jardim de Alah], o que também melhoraria a qualidade da praia. Mas não foi para frente”, diz ele.

O Leblon foi uma das seis praias alvos do Sena Limpa, programa de despoluição iniciado há seis anos em parceria do estado e da prefeitura, que incluía obras de saneamento, estações de tratamento, coleta de lixo, limpeza de galerias e fiscalização do esgoto.

A Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) afirma que atende normalmente toda a área formal da zona sul carioca e que já implantou entre os bairros do Leblon e Ipanema um sistema de captação que impede o despejo de esgoto por ligações clandestinas no canal do Jardim de Alah quando não chove.

Já a Fundação Rio-Águas afirma que mantém uma equipe 24 horas por dia para monitorar e desassorear esse canal quando necessário.

De acordo com a fundação, essa equipe também faz limpezas regulares no outro canal que desemboca no Leblon.

Para Evelyn Rosenzweig, presidente da associação de moradores AmaLeblon, porém, o problema é “crítico, crônico e progressivo”. 

“As reclamações de moradores só aumentam”, afirma. “Eu não piso na praia há 30 anos, porque quando tive salão de cabeleireiro comecei a ver as micoses de praia das minhas clientes. Eu ia direto, hoje sou branca igual a um papel.”

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