Corredor de ônibus de Itapevi a São Paulo, projeto de R$ 445 mi, tem trechos abandonados

Obra começou em 2011 e passa por cinco cidades da região metropolitana até a capital

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Paulo Talarico Ana Beatriz Felicio
São Paulo | Agência Mural

Poucas coisas na rua Nelson Ferreira Ferreira Costa e na avenida João Balhesteiro indicam que ali está um dos principais investimentos em transporte público da Grande São Paulo.

Localizadas entre as cidades de Jandira e Itapevi, elas fazem parte da primeira parte do Corredor Metropolitano Oeste, projeto que promete ligar as linhas de ônibus da região oeste a São Paulo.

Ao todo, estão previstos R$ 445 milhões em 23 km de vias, terminais e viadutos. A previsão divulgada inicialmente foi 2014, mas cinco anos depois, apenas 5 km foram concluídos.

“Nós estamos investindo no coletivo, no corredor de ônibus que é transporte de alta capacidade e qualidade para as pessoas chegarem mais rápido”, afirmou o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), ao inaugurar a primeira fase da obra ano passado.

Ponto de ônibus abandonado em Carapicuíba acabou servindo de abrigo para pessoas em situação de rua
Ponto de ônibus abandonado em Carapicuíba acabou servindo de abrigo para pessoas em situação de rua - Ana Beatriz Felicio/Agência Mural/Folhapress

Porém quem circula por Itapevi e Jandira tem pouca ideia de que é uma ação que visa o transporte público. “Pouquíssimas vezes vi ônibus passando, a gente usa mais para caminhada do que como faixa de ônibus”, afirma a gerente de restaurante Natália Soares, 33, que mora no bairro Rosa Emilia, em Jandira, próximo da estação Sagrado Coração da CPTM.

Duas linhas de ônibus circulam no trecho —a 420DV1 Osasco (Vila Yara) - Cotia e 833TRO Itapevi (Centro) -Santana de Parnaíba (Polo Empresarial Tamboré). Há recuo na calçada das sete "estações", os pontos de ônibus. Porém não há uma faixa exclusiva que caracterize o corredor.

“Não tem essa sinalização, em São Paulo é exclusivo, aqui não”, afirma Natália. A gerente também avalia que não vale tanto tentar substituir os ônibus pelo trem, que passa ao lado da via. Ela conta que tentou fazer esse caminho em um dia em que a linha da CPTM estava com problemas. Demorou 3h30 para conseguir chegar ao Morumbi, zona oeste da capital, onde trabalha. “O trânsito não compensa, é muito semáforo que tem na [Avenida dos] Autonomistas [em Osasco], eu não trocaria o trem pela linha de ônibus.”

Também estava prevista uma ciclovia. Ela existe no trecho final, perto de Itapevi, pintada em cima da calçada, com postes no meio do trajeto.

O trecho Itapevi-Jandira é apenas uma das controvérsias que envolve a obra iniciada em 2011. Promessa antiga para os moradores da região, o corredor pretende ligar à capital as cidades de Barueri, Carapicuíba, Itapevi, Osasco e Jandira, onde vivem 1,7 milhão de habitantes. A expectativa é beneficiar 90 mil passageiros.

Em Barueri, trecho abandonado da obra ao lado da estação do centro da cidade
Em Barueri, trecho abandonado da obra ao lado da estação do centro da cidade - Paulo Talarico/Agência Mural/Folhapress

Houve atrasos em vários trechos e, apesar do primeiro anúncio do governo do estado de concluir o projeto em 2014, não se sabe quando haverá o desfecho. O trecho entre Jandira e Itapevi deveria ficar pronto em 2012, mas após problemas com as empresas contratadas, só foi concluído em março de 2018.

A obra é um dos principais investimentos da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos), que faz a gestão das linhas intermunicipais. Em 2013, a empresa divulgou a estimativa de R$ 218 milhões para a execução do projeto. Agora, aponta R$ 445 milhões —R$ 374 milhões já foram gastos.

“O valor divulgado em 2013 para a construção desse corredor, de R$ 218 milhões, foi uma estimativa”, afirma a EMTU. A empresa diz que apenas o primeiro trecho estava contratado na época e que só foi definido o investimento final após a contratação dos projetos executivos.

Também aponta que a inflação pesou. “Os valores dos insumos nesse setor como cimento, aço e pavimento impactaram significativamente no orçamento do viário do corredor.” 

ESTRUTURAS ABANDONADAS

Entre Jandira, Barueri e Carapicuíba, a empresa afirma que 78% das obras foram concluídas. Quem circula pelas cidades vê no canteiro central da via grandes pontos de ônibus sem uso, que começam a ficar deteriorados. Eles foram entregues, mas como o corredor não foi concluído, os ônibus ainda circulam na faixa da direita e utilizam os pontos antigos.

Enquanto isso, os moradores improvisam usos para os locais. Perto da estação Barueri da CPTM, onde seria uma estação de transferência, o canteiro abandonado já foi ponto de estacionamento. Alguns pontos de ônibus já serviram até de moradia.

“A descontinuidade é o maior prejuízo que pode haver”, afirma o arquiteto e urbanista Flaminio Fishman, consultor em transporte. “Tanto na substituição de materiais, na recontratação de empresas, congestionamento que você gera durante a obra. Há um prejuízo social muito grande. Não pode começar a obra, parar e só um trecho entrega em período de eleição”, completa.

A obra também prevê a construção de alguns terminais. O único concluído é o do km 21, onde passam 52 linhas e houve investimento de R$ 29 milhões. Outro está no centro de Carapicuíba, obra famosa entre moradores da cidade.

O instrutor de treinamento operacional Adson de Jesus Santos, 24, mora a cerca de 2 km dele e usa ônibus todos os dias para ir trabalhar. “A obra atrapalhou o trânsito ali, dificultou muito a passagem, para ir trabalhar, para voltar do trabalho, ali é um inferno. Mas dessa obra específica, que liga Itapevi a São Paulo, nunca ouvi falar”.

A reforma do terminal do centro de Carapicuíba deveria ser concluída em 2016. A última estimativa era o primeiro semestre deste ano, mas ainda está em andamento.

A pedagoga Sueli Camargo de Albuquerque, 50, diz que, além do trânsito, as manobras feitas pelos ônibus devido a construção são motivo de preocupação. “O acesso dos ônibus [municipais] está bem perigoso, porque como a obra fecha a saída, eles precisam usar a ré, e fica bem complicado”.

Em Osasco, cidade com 700 mil habitantes, apenas a obra do terminal da Vila Yara, bairro no limite com São Paulo, começou. Prevista para R$ 24,8 milhões, o gasto na remodelação subiu para R$ 26,1 milhões em maio deste ano. O aditivo também aumentou o tempo de execução da obra de 14 meses para 21 meses —se tudo se confirmar, o terminal estará pronto até o final do ano.

O restante da obra no município ainda traz dúvidas. Ele passará por uma das principais avenidas da cidade, a dos Autonomistas. A via cruza a cidade de leste a oeste, ligando Carapicuíba a São Paulo. No entanto, estão previstos R$ 47 milhões para desapropriações de imóveis. Ainda não se sabe quais serão as áreas desapropriadas.

“Os imóveis a serem desapropriados serão divulgados somente na publicação do Decreto de Utilidade Pública (DUP), procedimento que faz parte do rito de desapropriações para obras públicas. No momento não há data definida para a publicação”, diz a EMTU.

Obra do terminal em Carapicuíba, previsto inicialmente para 2016
Obra do terminal em Carapicuíba, previsto inicialmente para 2016 - Divulgação/Governo do Estado
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