Descrição de chapéu Obituário Dom Moacyr Grechi (1936 - 2019)

Mortes: Fundador da Pastoral da Terra, bispo atuou ao lado de Chico Mendes e Marina Silva

Dom Moacyr Grechi foi um dos nomes mais importantes da Igreja Católica no Brasil das últimas décadas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Manaus

Depois de ouvir de um médico que iria morrer, uma jovem e debilitada Marina Silva se arrastou até a diocese de Rio Branco para pedir ajuda ao bispo Moacyr Grechi. O religioso, que via a seringueira pela primeira vez, conseguiu uma vaga no hospital São Camilo, em São Paulo. O tratamento de três meses salvou a sua vida. 

Histórias de solidariedade e dedicação aos mais pobres rodeiam dom Moacyr, que tinha como lema “O último de todos e o servo de todos”. 

O bispo dom Moacyr Grechi
O bispo dom Moacyr Grechi - Rede Amazônica/Reprodução

Catarinense de Turvo, chegou à Amazônia no início dos anos 1970 e nunca mais saiu. Foi bispo no Acre por 27 anos, até ser nomeado arcebispo de Porto Velho (RO), em 1998, onde morreu nesta segunda-feira (17), aos 83 anos.

Um dos nomes mais importantes da Igreja Católica no Brasil das últimas décadas, ele participou da criação do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e da CPT (Comissão Pastoral da Terra), da qual foi o primeiro presidente, conduzindo-a por oito anos, até 1983.

No início, o religioso conta que nutria preconceito pela população amazônica, que resistia à chegada das migrações do sul e sudeste, em busca de terras para agropecuária. Mas logo descobriu “que o povo não mentia nem exagerava quando falava do que sofria da parte dos ‘paulistas’ com total conivência das autoridades”, disse, em entrevista à revista Neo Mundo. “Atrás de tudo isso eu vejo, agora, a mão de Deus tentando me converter.”

No Acre, se destacou por se aliar à luta de seringueiros encabeçada por Chico Mendes. Em 2009, prestou depoimento contra o deputado cassado Hildebrando Pascoal, ajudando na condenação por liderar um grupo de extermínio no Acre. Mesmo assim, não deixou de apertar a mão do réu ao final da audiência. 

Defensor de causas socioambientais, dom Moacyr dizia que o mundo precisava de um estilo de vida mais sóbrio: “As necessidades humanas são inesgotáveis, mas as fontes são limitadas”.

“A madeira de lei das terras indígenas é roubada vergonhosamente sem que ninguém seja punido, pelo contrário; depois, temos a problemática dos rios contaminados pelo mercúrio; temos o problema da criação extensiva de gado, e com isso é a floresta que cai; tem a soja, câncer da nossa região, que está subindo, e a mata cai e o ambiente se vai”, afirmou, entrevista ao site IHU On-Line, em 2009.

A sua atuação corajosa rendeu ameaças de morte, e o bispo teve de andar por um tempo com escolta policial, inclusive em missas. Brincalhão, chamava os agentes de “coroinhas” e dizia que, “se alguém quiser me matar, é fácil: sou grande e distraído”.

Internado, o bispo emérito de Porto Velho morreu após sofrer duas paradas cardiorrespiratórias.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missas​​

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.