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Políticas para drogas têm foco excessivo em internações e abstinência

Em vários países já se discute como garantir a dignidade dos dependentes químicos sem exigir que abandonem uso de substâncias

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São Paulo

O desenho das políticas nacional e paulistana para as drogas e seu foco nas internações, voluntárias ou não, mostram que o entendimento sobre a dependência química ainda pode avançar no Brasil.

Moradores de rua dormem na praça Princesa Isabel, próximo à região da cracolândia
Moradores de rua dormem na praça Princesa Isabel, próximo à região da cracolândia - Nelson Almeida/AFP

As histórias de recuperação que se vê nos programas de televisão e nas igrejas são de dependentes químicos que se trataram, com internação voluntária ou não, em hospital psiquiátrico ou comunidade terapêutica, largaram a droga de uma vez por todas e retomaram uma vida convencional.

Mas a experiência mostra que uma parte dos usuários de drogas não seguirá esse caminho, não importa quantas vezes sejam internados. 

Há aqueles que jamais deixarão as substâncias; e há aqueles que seguirão um caminho de sobriedade com altos e baixos, marcado por períodos “limpos”, recaídas e percalços pelo resto da vida.

Quando se fala em redução de danos, deve-se entender que isso abarca não só medidas mais práticas como troca de seringas e salas de uso assistido de drogas, ainda que elas sejam importantes.

Em vários países, já se discute como garantir a saúde, a dignidade, o trabalho e a moradia dos dependentes químicos sem exigir deles necessariamente que abandonem por completo o uso de substâncias. 

A ideia é permitir que o usuário possa ter o máximo de autonomia e contribuição à sociedade possível.
Isso pode passar por restringir o uso de substâncias a determinados locais e situações, ou ainda a troca de uma droga por outra –com o tempo, alguns podem chegar a atingir a abstinência completa, outros não.

Para que a discussão de política pública chegue a esse ponto, porém, é necessário um entendimento de que o uso em drogas em si não é inerentemente ruim, e sim que é danoso na medida que prejudica a saúde, as relações sociais e a vida em sociedade do dependente.

Assim, a internação é só um possível passo dentro de uma caminhada que deveria incluir tratar as doenças físicas e psíquicas do usuário de drogas; garantir que ele ou ela tenha acesso a moradia, trabalho, dignidade e direitos; e reintegrá-lo à família e ao círculo social.

Enquanto a internação for vista como o único ou o principal pilar da política de drogas, dificilmente avançaremos em extinguir cenas como as que vemos diariamente na cracolândia paulistana.

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