Restaurado, solar tombado dá lugar a 'museu do sorvete' na Bahia

Abandonado desde 1993, Solar Amado Bahia reabriu as portas em 2019 para dar lugar ao museu

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Salvador

Em frente a um mar apinhado de lanchas e saveiros na Baía de Todos-os-Santos, o casarão ergue-se imponente na orla da Ribeira, em Salvador. 

Erguido em 1904, tombado em 1981 e abandonado desde 1993, o Solar Amado Bahia reabriu as portas em 2019 para dar lugar a uma sorveteria, um espaço cultural e um museu dedicado ao sorvete. 

Por trás da empreitada está o empresário Natanael Couto, 44. Autodidata, ele começou a vida vendendo picolés nas ruas de Salvador até montar a sua própria fábrica, a Sorvetes Real, hoje uma das maiores da Bahia

Fincada na região da Cidade Baixa, a Ribeira tem um clima bucólico e ares de cidade de interior. Ganhou status de ponto turístico ao se firmar como uma espécie de corredor do sorvete na capital baiana

É lá que fica a Sorveteria da Ribeira, icônico estabelecimento fundado em 1931, famoso por seus sorvetes de frutas. No seu entorno, surgiram pelo menos outras quatro sorveterias, que atendem uma alta demanda de público nos fins de semana.

Pela tradição sorveteira do bairro, Natanael escolheu a Ribeira para abrir a primeira loja própria da sua marca. Mas o anúncio de um leilão que recebeu em uma mensagem no celular o fez dar um salto ainda mais audacioso. 

Em outubro de 2017, o empresário arrematou por R$ 1,5 milhão o solar que pertenceu ao comerciante de carnes Francisco Amado Bahia e que foi inaugurado em 1904 para o casamento de duas de suas filhas. 

Com dois pavimentos e um sótão, o casarão tem piso de mármore Carrara e é cercado por gradis de ferro fundido importados da Inglaterra no início do século 20. Seu interior tem amplos salões e quartos com espelhos fabricados na França, além de um oratório em estilo neoclássico. 

Em 1949, com a morte do patriarca da família, a casarão foi doado à associação de empregados do comércio para que o local se tornasse um hospital. O plano não foi para frente e a casa virou escola, sede de sindicato, brechó e serralheria, até ser ocupada de famílias do movimento sem-teto.

O resultado desta sucessão de usos foi o desgaste da estrutura e o saque de parte das peças que compunham o seu mobiliário: “Quando eu cheguei na casa, estava tudo acabado. O imóvel estava muito maltratado”, lembra Natanael. 

Sob supervisão do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), ele iniciou o restauro  do casarão. A empreitada durou dois anos e custou R$ 700 mil. 

O trabalho foi minucioso. Ao todo, a casa tem 18 cômodos. As dezenas de portas foram emendadas e restauradas uma a uma. O principal desafio, contudo, foi reproduzir a pintura das paredes que foram originalmente feitas com a técnica de escaiola, na qual o acabamento imita mármore polido.

Com o avançar da obra, Natanael tomou a decisão de transformar o solar em um museu dedicado ao sorvete, produto a quem deve a sua ascensão nos negócios. A sorveteria, plano original, foi construída numa área dos fundos do casarão. 

“A casa parece que foi feita para contar a história do sorvete mesmo. É uma casa colorida, alegre, cada sala de uma cor diferente”, diz o empresário. 

A empreitada ainda está em curso: o empresário percorreu antiquários, comprou réplicas de máquinas nos Estados Unidos e entrou em contato com fabricantes de maquinário para sorvete do Brasil e da Itália.

Instalou no andar térreo do casarão as peças que já conseguiu. Para completar o acervo, mandou fabricar peças de sorvete em fibra de vidro para criar um ambiente lúdico dentro do museu. 

No piso superior, manteve os móveis que pertenceram à família Amado Bahia, recriando o ambiente de uma casa do início do século 20. O ingresso para visita custa R$ 10, mas crianças não pagam. 

Com um mês em funcionamento, o retorno tem sido positivo. Nos fins de semana, o museu chega a receber até mil pessoas por dia, muitas delas moradoras da região da Cidade Baixa que conheciam a casa apenas por fora. 

Natanael, que tinha como como plano B transformar a casa em um cerimonial, se diz surpreso com a acolhida do museu: “É surpreendente. A gente não sabia que as pessoas tinham tanto carinho por essa casa.” 

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