Descrição de chapéu Tragédia em Brumadinho

Famílias chamam Vale de 'assassina' em ato que lembra os seis meses de Brumadinho

Lama rompida de barragem matou 270 pessoas; ainda restam 22 vítimas desaparecidas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brumadinho (MG)

Vinte e duas mini-jangadas feitas de bambu e carregadas com rosas brancas foram soltas no rio Paraopeba para marcar os seis meses do rompimento da barragem B1, da Vale, em Brumadinho (MG).

A quantidade de jangadas lançadas na manhã desta quinta-feira (25) nas águas do rio atingido pela lama de rejeitos simboliza cada uma das 22 vítimas ainda não encontradas.

Famílias de vítimas da tragédia de Brumadinho fizeram ato ecumênico nesta quinta (25)
Famílias de vítimas da tragédia de Brumadinho fizeram ato ecumênico nesta quinta (25) - Fernanda Canofre/Folhapress

O ato, realizado sobre uma ponte, reuniu gente de todas as crenças. De um lado, índios pataxó cantavam em sua língua. De outro, fiéis do candomblé saudavam Oxum (orixá dos rios e das cachoeiras) ao lado de cristãos que oravam pela memória das 270 vítimas —248 delas localizadas. 

O ato também contou com a participação de um funcionário da Vale, que homenageou os amigos mortos pelo rompimento da barragem, na mina do Feijão, com música. A percepção é de que a cerimônia desta vez reuniu mais gente do que as manifestações realizadas em outros meses.

Da ponte, as famílias das vítimas afetadas pela tragédia ambiental fizeram uma caminhada até o letreiro com o nome da cidade. Em uníssono repetiam: "o lucro não vale a vida", "Vale assassina" e "Justiça".

A conversa entre si e o canto cessaram pontualmente às 12h28. Foi nesse horário que a barragem se rompeu. Ali, fizeram um minuto de silêncio. O ato silencioso também foi repetido entre os funcionários de todas as minas da Vale, a pedido das famílias. 

JUSTIÇA

O que mais se ouviu foram clamores por Justiça. Josiane Melo perdeu a irmã, Eliane. Para ela, o sossego só virá quando todos os responsáveis pela tragédia forem responsabilizados. 

“Justiça é punição: cadeia para os responsáveis e punição financeira. Pelas provas que estão sendo apresentadas na CPI [da ALMG], eles sabiam que a barragem ia romper. Sabiam que tinha o risco”, disse.

A família teve que esperar 70 dias para enterrar Eliane, que trabalhava em uma empresa terceirizada. Ela foi encontrada dentro de um carro, com o corpo intacto. Aos 39, estava grávida da primeira filha e já tinha escolhido nome para ela: Maria.

Para a família de Juliana Creizimar de Resende Silva, a espera ainda não terminou. Ela e o marido, Dennis Augusto da Silva, que começaram a namorar trabalhando na Vale, deixaram filhos gêmeos. O corpo de Dennis já foi encontrado. 

Fiéis do candomblé fazem ato em Brumadinho (MG)
Fiéis do candomblé fazem ato em Brumadinho (MG) - Fernanda Canofre/Folhapress

Os meninos têm agora um ano e quatro meses. Quando alguém mostra uma foto dos pais, eles batem os dedinhos nelas, reconhecendo quem são, conta Josiana Resende, irmã de Juliana. 

“É uma angústia sem fim, esse pesadelo parece que não vai acabar. A notícia mais triste que alguém que ama pode receber é a única que gente espera agora”, diz ela. 

Algumas das famílias estavam vestidos com camisetas personalizadas que estampavam fotos de quem perderam com um texto adaptado do “Poema da Despedida”, de Frei Betto. Um dos versos, diz: “Você pode derramar lágrimas porque ela se foi/Ou pode se alegrar por ela ter vivido”. 

O governador Romeu Zema (Novo) chegou a Brumadinho por volta das 13h20 e fez um sobrevoo da área coberta pela lama. Familiares de vítimas disseram à Folha que ele foi convidado para o ato. No entanto, a assessoria de imprensa do governador disse que ele não recebeu nenhum convite.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.