Polícia identifica mentor de roubo como 'Professor' e diz que havia mais 51 kg de ouro

Francisco Teotônio da Silva Pasqualini foi condenado e preso por roubo a carros fortes nos anos 80

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São Paulo

A polícia de São Paulo identificou o mentor do roubo do ouro do terminal cargas do aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP), no fim do mês passado. O suspeito é Francisco Teotônio da Silva Pasqualini, conhecido como "Velho", condenado e preso por roubo a carros fortes desde o início dos anos 1980.

Na investigação, Pasqualini, 55, está sendo chamado pelos policiais de “Professor”, em alusão ao personagem que lidera um bando de ladrões na série "Casa de Papel", da Netflix, desenvolvendo o plano e treinando a gangue sem precisar entrar nos locais onde os assaltos acontecem. 

3x4 de homem careca, branco, com cerca de 50 anos
Francisco Teotônio da Silva Pasqualini, apontado como mentor do roubo de 770 kg de ouro em Cumbica - divulgação

“É uma boa comparação [com o professor de "A Casa de Papel"]. Tanto é que ele não participa da ação. Ele ficou na casa do funcionário com a família”, disse o delegado Pedro Ivo Corrêa, titular da delegacia de roubo a bancos, referindo-se à família de um dos participantes, mantida como refém.

De acordo com a polícia, foi o “professor” Pasqualini quem teve a ideia do roubo. Ele, que já teve a prisão preventiva decretada pela Justiça, é procurado pela polícia. 

Pasqualini seria cunhado de Peterson Brasil, um dos funcionários do terminal de cargas presos pela polícia. Brasil é suspeito de ter cooptado outro Peterson —Peterson Patrício, o funcionário que primeiro alegou ter tido a família mantida refém para que desse informações sobre o ouro no terminal, e, uma vez desmascarado pela polícia, confessou integrar o bando. Os dois Petersons são amigos de infância.

De acordo com o Corrêa,  as investigações apontam que a família de Patrício foi realmente feita refém pelos criminosos para forçá-lo a facilitar o roubo após o suspeito se mostrar hesitante.

"Ele [Patrício] concordou em participar, participou do planejamento, e, no final, começou a criar obstáculos. Foi aí que o pessoal da organização findou em sequestrar a família dele para estimulá-lo, vamos dizer assim, a participar mais efusivamente", afirmou o policial. "A família não sabia disso."

A polícia diz que esse fato não reduz a participação do funcionário no crime. Não foi apurado, ainda quanto Patrício receberia pela participação no crime. "Seria uma fração do que foi roubado."

A polícia ainda deu outros detalhes do crime na tarde desta terça (6) e analisa se um quilo de ouro encontrado nesta semana com um comerciante chinês é parte da carga roubada.

A principal hipótese, conforme a Folha antecipou, é que o ouro esteja sendo enviado a conta-gotas para a China, onde o preço do produto é 67% maior. Estima-se que a carga roubada valesse cerca de R$ 120 milhões no Brasil —e R$ 200 milhões na China.

O montante roubado também foi recalculado pela polícia: seriam 770 quilos. Foram mapeados mais 51 quilos, além de 15 quilos de esmeraldas brutas. A polícia estima que as pedras valham US$ 25 mil (R$ 100 mil). Havia também 18 relógios e um colar, estimados em R$ 94 mil.

O roubo consumiu R$ 1 milhão dos assaltantes —a polícia estima um total de 14 pessoas envolvidas— e longo planejamento. A ação no aeroporto durou dois minutos e meio e foi captada pelas câmeras de segurança.

Ao menos duas pessoas envolvidas (os Petersons) eram funcionários do terminal e facilitaram o acesso do restante do bando, que usou viaturas da Polícia Federal clonadas para entrar no terminal, posteriormente trocadas por outros veículo.

Até agora, exceto possivelmente pelo quilo de ouro cuja origem está sendo verificada, a polícia não conseguiu achar a carga roubada.

Segundo a polícia, toda a operação do transporte do ouro era legal. Havia registro da origem, "meio", e destino final. A carga seria levada por avião para os Estados Unidos (a maior parte) e para o Canadá. 

Os quase 720 quilos de ouro inicialmente citados pertenciam a Kinross Paracatu e a Asai, ambos grupos canadenses. Os 51 quilos apurados depois pertenciam a um grupo de Dubai, JBG.

Ainda citando o seriado do Netflix, a polícia vê um correlato ao personagem “Berlim” —que comanda a ação criminosa em campo: Marcelo Ferraz, o Capim, preso no litoral paulista durante as investigações e também reincidente. 

“Francisco buscou o líder da parte operacional, um criminoso que tinha armamento e conhecimento para arregimentar os demais. Apesar de ter sido rápido, e não ter disparo de nenhum tiro, os criminosos foram para tudo ou nada até com armamento antiaéreo”, disse o delegado.

Ferraz teria contratado homens que participaram de outros crimes, como um roubo à sede da Protege no Paraguai, em 2017.

Uma das peças mais importantes do plano teria ficado a cargo de Joselito de Souza, foragido, que transformou caminhonetes comprados pelo grupo nas falsas viaturas da Polícia Federal usadas no roubo.

Não há, por ora, indicativo de participação de mulher no crime.

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