Doença de Covas complica ainda mais disputa pela prefeitura em 2020

Se tratamento impedir candidatura, políticos especulam se Joice iria para o PSDB

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São Paulo

O anúncio de que o prefeito paulistano, Bruno Covas (PSDB), terá de tratar um câncer com metástase no sistema digestivo complicou ainda mais a já intrincada corrida eleitoral para a prefeitura da capital em 2020.

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), durante entrevista em abril no seu gabinete
O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), durante entrevista em abril no seu gabinete - Eduardo Anizelli - 4.abr.2019/Folhapress

Mesmo aliados próximos de Covas consideram que a complexidade potencial de seu tratamento gera dúvidas sobre as condições do prefeito para a disputa da reeleição.

Naturalmente, nada disso será debatido publicamente até que fiquem estabelecidas a gravidade da doença e a evolução do combate a ela.

É vigente na política um código segundo o qual não se especula abertamente sobre uma candidatura quando há questões de saúde envolvidas, embora desde o domingo (27) não se faça outra coisa entre atores importantes na cidade.

O câncer de Covas recoloca nas mãos do prefeito o controle sobre seu futuro político em 2020.
Pontuando na casa dos 10% em pesquisas internas de partidos, ele enfrentava alas dentro do tucanato que suspeitavam de sua competitividade.

Isso havia amainado após a pressão tornar-se pública. Assim, o PSDB acabou obrigado a apresentar uma ordem unida de apoio a Covas.

Uma pesquisa recente, à disposição de líderes, inclusive apontava caminhos para ele tentar reverter o mau desempenho: um "recall" positivo da memória de seu avô, o ex-prefeito e ex-governador Mário Covas (1930-2001), e avaliações favoráveis na área de saúde e educação.

Ainda assim, as dúvidas persistiam entre alguns caciques da sigla. Isso agora acabou: o prefeito terá a palavra final sobre sua candidatura.

Entre aliados, há até quem busque otimismo no exemplo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Em 2009, então ministra da Casa Civil, ela descobriu um câncer linfático quando já havia sido escolhida como candidata à sucessão por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Dilma não só superou o duro tratamento, como se elegeu em 2010, sendo reeleita em 2014. Mas a comparação para aí: o caso de Covas é bastante diverso do da petista.

O anúncio veio na sequência da turbulência envolvendo outra peça no tabuleiro municipal: a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP).

Na disputa que está destroçando o partido de Jair Bolsonaro, a deputada ficou na linha de tiro dos filhos do presidente. Isso inviabiliza seu principal ponto de venda, o apoio que tinha do mandatário máximo --ele inclusive a removeu da liderança do governo no Congresso.

Restará saber se ela terá a sigla para tentar concorrer, já que não se sabe quem manda no partido em São Paulo, se o grupo do cacique Luciano Bivar ou o filho presidencial Eduardo Bolsonaro.

Joice é próxima do governador João Doria (PSDB), o que já vinha lhe rendendo críticas de bolsonaristas. O tucano é um presidenciável natural para 2022, e troca farpas constantes com Bolsonaro.

Depois que ficaram evidentes as dúvidas sobre a candidatura de Covas, Doria posicionou-se em favor do seu ex-vice-prefeito, que herdou sua cadeira no ano passado.

O fez, entre outras coisas, para evitar a pecha de traidor que o acompanha na relação com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), que o lançou na política.

A Folha ouviu entre aliados do governador e entre integrantes da velha guarda tucana, que torcem o nariz para ele, a especulação de que Joice poderia acabar filiada ao PSDB caso Covas desista da disputa.

Para alguns adversários do tucanato na centro-direita, esse cenário é visto como ruim para o PSDB por considerarem inevitável a contestação interna da sigla a Joice, algo semelhante ao que ocorreu no episódio da filiação de Alexandre Frota ao partido. Projetam assim uma candidatura sem unidade partidária, algo complicado num cenário tão pulverizado de disputa.

Outro nome que voltou a circular é o de Alckmin, que já rejeitara a ideia de tentar a prefeitura antes a aliados. Ele, que não conseguiu nem ir ao segundo turno na disputa da capital em 2008, seria uma dor de cabeça para Doria por representar uma oposição interna ao governador.

Mas isso tudo depende do cronograma pessoal do prefeito, agora a chave do processo. O prazo para a mudança de partido antes do pleito é abril do ano que vem.

Na configuração atual, o governador está em situação confortável na capital. Tem pelo menos quatro candidatos que são seus aliados na disputa em 2020: Covas, Joice, Andrea Matarazzo (PSD) e Filipe Sabará (Novo).

Outros nomes, como Celso Russomanno (Republicanos) e José Luiz Datena (DEM), não soam como ameaças oposicionistas ao tucano --papel que caberá ao candidato do PT e, talvez, a Márcio França (PSB).

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