Cantora Karina Buhr acusa babalorixá de extorsão e estupro

Famíla de Expedito Paula Neves, o Dito d'Oxóssi, que morreu em 15 de dezembro, disse que não tem nada a declarar

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Salvador

A cantora Karina Buhr afirmou nesta segunda-feira (23) ter sido  estuprada e extorquida ao longo de quatro anos pelo babalorixá Expedito Paula Neves, o Dito d'Oxóssi, líder de um dos mais conhecidos grupos religiosos do Nordeste.

Neves, que também era compositor e vocalista do afoxé Ylê de Egbá, morreu no dia 15 de dezembro, aos 58 anos, após parada cardiorrespiratória. Desde então vem sendo reverenciado por suas contribuições à cultura e difusão da musicalidade negra. 

O relato de Buhr foi publicado pela própria cantora na tarde desta segunda (23) na plataforma Medium. Ela afirma ter sido vítima do babalorixá de 1998 a 2002.

Procurada pela Folha, a famíla do babalorixá declarou que não tem nada a declarar por desconhecer o assunto. “Estamos em procedimentos religiosos e só poderemos nos pronunciar quando nos inteiramos do que se trata”, afirmou a filha do líder religioso.

Mulher loira de roupa preta, em frente a parede coberta de papel prateado
A cantora Karina Buhr - Iwi Onodera/UOL

Buhr afirma que decidiu trazer a história a público em dezembro do ano passado, quando surgiram dezenas de denúncias de abusos sexuais do médium João Teixeira de Faria, o João de Deus. O Ministério Público de Goiás diz ter recebido 350 relatos de abuso sexual do médium. Ele foi condenado nesta semana a 19 anos e 4 meses de prisão por crimes sexuais. 

A cantora diz que denunciou os estupros ao Ministério Público de Pernambuco há cerca de um ano, quando prestou depoimento para a promotora Henriqueta de Belli. Contudo, afirma não ter assinado o termo de declaração para dar entrada no processo por temer retaliações. 

Buhr escreve que passou a frequentar as apresentações do Ylê de Egbá em 1998, em Olinda, e acabou ingressando no afoxé. Com o tempo, começou a frequentar a sede e a participar de reuniões espirituais e cerimônias religiosas comandadas por Neves.

​Segundo a cantora, primeiro vieram as extorsões. “Coações, extorsões diárias, por anos, me mantiveram presas àquela estrutura que me escravizava o corpo, a mente e a alma. Eu via pessoas se aproximarem dele e se afastarem, mas eu não conseguia me afastar”, escreveu.  

Ela cita pedidos de dinheiro que supostamente viriam de entidades e que chegavam a R$ 5.000, além de dizer que teve que comprar objetos, joias e instrumentos.

“O sequestro da minha mente, não consigo falar de outra forma, era fomentado e fortalecido a cada dia, a ponto de eu não ter mais noção do que era certo e errado. [...] um ciclo de violência mental assustador”, afirmou. Buhr escreve que os estupros aconteceram três vezes. Na primeira, Neves teria ido até o seu prédio, supostamente incorporado pela entidade “Malandinho”.

Segundo a cantora, ele a levou para o quarto e a estuprou. Em seguida, afirma Buhr, ele teria passado a agir como se não tivesse mais incorporado e teria afirmado não entender como chegara ali. 

“Fiquei aturdida, paralisada de medo, de culpa, de vergonha, embora eu estivesse sendo vítima de algo que nem sabia ainda o que era. Não entendi nada, estava tudo errado de novo e de novo eu não ia conseguir reagir, aos prantos, desesperada”, diz a cantora. 

Nos outros dois casos, ainda segundo o relato da cantora, a situação foi semelhante, com o babalorixá alegando estar incorporado pela mesma entidade. Buhr ainda cita uma quarta situação, dentro do próprio terreiro, na qual teria ficado sem memória após ingerir uma bebida a pedido do babalorixá. 

Segundo ela, foi só com a morte de Neves que se sentiu segura para se manifestar.

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