Descrição de chapéu Alalaô

Carnaval de SP cresce e atinge todas subprefeituras com recorde de blocos

Três áreas concentram mais da metade dos desfiles, que acontecerão em cerca de 400 pontos

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São Paulo

O Carnaval de São Paulo se espalhou pelas bordas, terá recorde de blocos e pela primeira vez terá desfiles em todas as 32 subprefeituras da cidade. 

No ano passado, a capital paulista ultrapassou o Rio em número de blocos. Em 2020, o total de blocos cresceu 62% em relação ao ano passado, passando de 490 para 796 autorizados até o momento. Entre as novidades estará um desfile do bloco pernambucano Galo da Madrugada

A gestão Bruno Covas (PSDB) afirma que trouxe uma série de novidades para diminuir o impacto de todo esse público na cidade, como maior diálogo com órgãos como CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e Polícia Militar. 

Mulheres vestidas com trajes e adereços da tradição afro-brasileira fazem coreografia em meio a multidão
Desfile do bloco Ilu Obá de Mim nas comemorações do 466º aniversário de São Paulo, neste sábado (25) - Nelson Antoine 25.jan.20/UOL

A subprefeitura da Sé terá a maioria dos desfiles, 234, e a de Pinheiros vem atrás, com 138. 

A programação inclui também os extremos da cidade: Cidade Tiradentes (zona leste) terá quatro desfiles; Parelheiros (sul), dois; e Jaçanã/Tremembé (zona norte), 21.

Apesar disso, três subprefeituras (Sé, Pinheiros e Lapa) vão concentrar mais da metade de todos os desfiles de blocos na cidade (56%).

Os desfiles acontecerão em aproximadamente 400 pontos da cidade. 

No extremo da zona leste, apenas um grupo desfilará em São Mateus. O bloco São Mateus em Movimento participará pela primeira vez da programação oficial do Carnaval.

Fernando Rodrigo de Carvalho, o Nego Tinho, 39, presidente da organização cultural da qual faz parte o bloco, explica que o desfile, a ser realizado no dia 5 de fevereiro a partir do meio-dia, tratará de problemas próprios da região.

“Será um cortejo dividido em alas, falando de coisas que faltam à comunidade: primeiramente, coleta de lixo; depois, respeito entre as pessoas, ao papai e à mamãe; e, por fim, na ala-protesto, colocaremos nossas demandas ao poder público, como saneamento básico, escolas aos finais de semana”, afirma.

Carvalho explica que fazer o Carnaval na periferia é mais difícil porque os grandes patrocinadores não têm a mesma receptividade que apresentam aos grupos do centro e da zona oeste. 

Sem os conglomerados de cerveja, o São Mateus em Movimento desfilará com o apoio do comércio local.
“Somos um bloco familiar. Vamos homenagear o famoso berço do samba de São Mateus e trazer à tona o que nos falta, mostrando que nem tudo é festa”, conclui.

Eles farão o percurso atravessando a Favela Galeria, um museu a céu aberto com grafites que, como explica Carvalho, é “uma espécie de beco do Batman seis vezes maior.”

A prefeitura afirma que reestruturou o planejamento do evento para diminuir os transtornos causados pelas ruas fechadas e grande concentração de público.

Os trajetos foram todos aprovados por diversos órgãos, como CET, SPTrans (responsável pelos ônibus), polícia, GCM (Guarda Civil Metropolitana), entre outros, ao longo de 37 reuniões. Todos os órgãos tinham poder de veto. A avenida Gastão Vidigal, na Vila Leopoldina, por exemplo, ficou de fora após pedido da Ceagesp, que argumentou que o abastecimento da cidade poderia ser afetado. 

Em Pinheiros, um dos pontos mais tradicionais, o largo da Batata, foi retirado da programação após problemas de segurança no ano passado.

Nesta edição, a avenida Luiz Dumont Villares, na zona norte, será uma das principais novidades. 

A Secretaria de Cultura tem atuado para tentar fazer com que o centro, menos residencial, absorva o principal impacto. As mudanças envolveram negociação com cada bloco, trabalho feito pelos funcionários da Secretaria da Cultura.

Além do impacto no trânsito, o Carnaval paulistano tem registrado grande número de furtos. Na tentativa de melhorar a segurança, a prefeitura afirma que a principal novidade deve ser torres de observação, que serão usadas pela polícia e seguranças privados. 

Até o momento, a prefeitura conseguiu patrocínio de R$ 21,9 milhões para o Carnaval, cifra que ainda pode aumentar até o início do evento.

No ano passado, o valor foi de R$ 16 milhões e, estima a prefeitura, houve giro econômico de R$ 2,3 bilhões. 

O ápice da festa acontecerá um fim de semana antes do Carnaval oficial, que começa no dia 21 e termina no dia 26, a Quarta-Feira de Cinzas. No dia 15, haverá 141 desfiles. 

O pós-Carnaval também deve ser movimentado. No dia 29, haverá 109 desfiles.

Neste ano, como não haverá horário de verão, o encerramento dos festejos será, na maior parte das vezes, às 19h, com exceções pontuais negociadas previamente.

Carnaval se oporá ao obscurantismo, diz secretário

Responsável pelo Carnaval, o secretário municipal de Cultura, Alê Youssef, afirma que a tendência é de que a festa funcione como contraponto a ameaças à liberdade de expressão.

A gestão Covas já tem feito essa oposição aos posicionamentos da gestão Jair Bolsonaro na área da cultura.

Neste mês está sendo realizado na cidade o projeto Verão Sem Censura, com manifestações artísticas que foram barradas ou atacadas pelo governo federal. 

 

Com forte pegada política, o encerramento do festival contra a censura, com a peça “Roda Viva”, escrita por Chico Buarque e com direção de Zé Celso Martinez Corrêa, marcará transição para o Carnaval.

No dia 31, quando a encenação deixar o Theatro Municipal e partir para a praça Ramos de Azevedo, guiada pelos versos da música “Cordão” —“Ninguém vai me acorrentar/ Enquanto eu puder cantar/ Enquanto eu puder sorrir”—, se juntará a cortejos promovidos por blocos como A Espetacular Charanga do França, Tarado Ni Você e Minhoqueens, celebrando a passagem para a festa popular. 

“O governo federal já atacou o Carnaval, pelo episódio da generalização, daquela crítica do Bolsonaro que depois gerou o 'golden shower'. Já era uma crítica às liberdades e expressões do Carnaval, mas eu acho que o Carnaval nos une, o Carnaval une todos os tipos de pessoas”, diz Youssef. 

Para ele, a festa em São Paulo chega a um momento mais orgânico, com formação de um novo público através do crescimento de blocos infantis. E Youssef diz que a cidade está preparada para esse grande aumento de público. 

“São Paulo tem várias experiências de grandes eventos. A Virada Cultural, o Carnaval de 2019, o aniversário de São Paulo com 300 eventos simultâneos”, diz o secretário. 

O bloco fundado por Youssef, Acadêmicos do Baixo Augusta, apresentou-se no sábado (25) nos eventos do aniversário da cidade, assim como outros dos mais conhecidos da cidade, como Pagu, Agrada Gregos e Ilú Obá de Min. 

Pela relação histórica que teve com ele, explica Youssef, que deixou a direção do bloco assim que foi nomeado para a secretaria de Cultura, em janeiro de 2019, o Acadêmicos apresentou-se de graça, sem cobrar cachê.

Youssef apareceu em foto publicada nas redes sociais pelo bloco na semana passada com integrantes. Ele destaca que a visita foi como amigo, pois mantém relações com os organizadores do bloco na esfera pessoal.

“O Acadêmicos não participou de eventos grandes como a Virada Cultural e o Verão Sem Censura também para que não houvesse ilações ou divergências. Outros blocos participaram. Agora, no aniversário da cidade, pensamos no Acadêmicos como um representante da diversidade em São Paulo, assim como os demais blocos. E ele só pôde participar na condição de que não cobrasse”, afirma.

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