Da luta por igualdade até o feminismo pós-moderno, conheça um breve histórico das ondas ou gerações de projetos feministas.
Um breve histórico das ondas ou gerações de projetos feministas
Primeira onda: igualdade
Entre fim do século 19 e começo do 20 – Neste momento, a luta era para que a mulher tivesse seu status de ser humano garantido por meio da igualdade civil, social, econômica e intelectual. As mobilizações femininas demandaram direitos políticos, como o voto, e iguais oportunidades, como de trabalho e estudos.
No Brasil – É criada a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, em 1922, dirigida por Bertha Lutz. Entre suas reivindicações estavam o voto feminino, a instrução da mulher, a proteção às mães e à infância, e uma legislação reguladora do trabalho feminino.
Segunda onda: sexo
Teve seu auge nos anos 1960 e 1970 – Buscou-se nesse período entender as estruturas que geram a opressão da mulher, bem como suas origens e as relações de poder nelas envolvidas, estendendo os estudos para o corpo, a moral, as identidades e subjetividades.
Uma vez entendido que a mulher é explorada por seu sexo e suas funções reprodutivas, as demandas passaram a girar em torno dos direitos reprodutivos e da livre expressão da sexualidade.
No Brasil – Em 1972 acontece um congresso do Conselho Nacional da Mulher e as primeiras reuniões de grupos feministas em São Paulo e no Rio. Em 1975 é criado o Movimento Feminino pela Anistia, pioneiro na luta pela anistia de presos políticos e exilados da ditadura.
Terceira onda: diferença
A partir do final dos anos 1980 – A rejeição às normas é a principal marca desse período, além da valorização da multiplicidade e da diferença. Isso se dá não apenas quanto a sexo, gênero e sexualidade mas também na política, ética, linguagem, nos corpos e mentes.
Admite-se que as normas são opressivas para os que estão às margens. Contestam-se as definições de feminilidade da onda anterior, pautadas pelas experiências de mulheres brancas intelectualizadas e, assim, evita-se universalizar o conceito de mulher e ganha força o feminismo interseccional, que leva em conta não apenas a diferença de gênero mas outras como de raça e classe social.
No Brasil – A partir dos anos 1980 são criadas as delegacias especializadas, visando combater a violência contra a mulher, e o Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher, que chama atenção para o planejamento familiar.
Nos anos 1990, com a pulverização do feminismo fora da universidade, que ganha ainda mais força com a popularização posterior da internet —uma quarta onda?—, há a criação de diversas ONGs que buscam dialogar com o poder público.
Algumas das vertentes ou escolas do pensamento feminista
Feminismo liberal
Pelas liberdades individuais
O liberalismo foi a base das primeiras a defenderem a participação da mulher na esfera pública. O mais importante para elas é a igualdade entre humanos. A desigualdade entre homens e mulheres é fruto, portanto, da disparidade de oportunidades e de direitos.
As soluções aventadas pelas liberais passam por direito ao trabalho e ao controle das finanças, à participação e à representação política, pelo acesso às universidades, equiparação salarial, acesso a locais e eventos unicamente masculinos, e pela ascensão de mulheres a posições de comando nos meios de comunicação e nas empresas.
Feminismo radical
Contra o patriarcado
A luta é contra o sistema de controle das mulheres pelos homens, que as identifica pelo sexo biológico e pelas capacidades reprodutivas. Para as feministas radicais —radical aqui vem de raiz e não de extremismo— a opressão da mulher se dá por seu sexo e porque é capaz de engravidar, o que as relega à esfera privada da família e da vida doméstica.
Um dos meios para a liberalização da mulher seria o fim da reprodução biológica, substituída pela tecnológica, com crianças gestadas em incubadoras, e o fim dos papéis determinados pelo sexo na sociedade.
Colocar o sexo como central leva à reflexão sobre como os corpos femininos são usados e representados, daí a rejeição da pornografia. Nos últimos anos ressurgem grupos de mulheres jovens que defendem essa vertente e se autodenominam “radfems”.
Feminismo marxista e feminismo socialista
Contra o capitalismo
Ao contrário do que acreditam as liberais, não são as barreiras legais que inibem a liberdade da mulher mas sim as condições de vida. O capitalismo é a causa da opressão feminina, pois ele depende de uma classe de pessoas que fazem o trabalho reprodutivo não remunerado.
Fazem parte deste trabalho, realizado pelas mulheres, não apenas gerar novos trabalhadores como também garantir sua alimentação, seu abrigo, seu repouso e seu prazer. A desvalorização do trabalho reprodutivo está ligada à posição social das mulheres.
A luta pelo salário para o trabalho doméstico é das mais importantes nesta vertente, mas a solução para a desigualdade está na abolição da sociedade de classes, da família como unidade econômica, e da propriedade privada. As feministas socialistas atacam não apenas o capitalismo, como as marxistas, mas também o patriarcado, como as radicais.
Feminismo interseccional
Somos múltiplas
Esta vertente defende que as vidas das mulheres individualmente não são afetadas apenas por seu sexo, mas também por sua raça, sexualidade e classe social, que também podem gerar estereótipos, violência, objetificação e sujeição.
Parte da opressão a que vários grupos estão sujeitos vem, segundo elas, da forma de pensar que categoriza pessoas em dois grupos exclusivos, como negros e brancos, homens e mulheres, já que tais grupos não estão em equilíbrio de condições. A solução está no fim de todo e qualquer tipo de desigualdade, dedicando-se, assim, a entender como as diferentes formas de opressão se conectam.
Feminismo negro
Também somos mulheres
Um dos marcos desta vertente é o discurso de Sojourner Truth, negra ex-escravizada, nos Estados Unidos. Na época, aconteciam as discussões sobre abolição e sobre o voto das mulheres. Em 1851, ela se perguntava “não sou eu uma mulher?”, desafiando as noções das feministas brancas de então e dos escravistas.
Esta vertente expõe como a experiência negra vem sendo excluída da construção da ideia de mulher no feminismo. Temas como a fragilidade feminina e a sexualização dos corpos passam a ser encarados de outra forma, pois são colocados de outra maneira para as mulheres negras. Além disso, ganham centralidade a luta contra o assassinato e encarceramento de jovens negros e pela liberdade religiosa.
Há também:
Feminismo pós-moderno
Ainda bastante acadêmico, explora a psicanálise, se contrapõe ao pensamento singular e à linguagem centrados no masculino, e enfatiza a diversidade e a diferença.
Feminismo pós-colonial
Aponta como raízes da opressão feminina o colonialismo, o imperialismo, e seus modos de exploração, além de sublinhar a luta pela sobrevivência e a pobreza como intensificadora da sujeição feminina.
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