Crescem cursos que ensinam as mulheres como ter orgasmos

Aulas online e presenciais, com vibradores e massagens tântricas, têm aumento de procura em SP

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São Paulo

Cursos online e presenciais que ensinam as mulheres a conhecer o próprio corpo, ter mais prazer e se empoderar, para usar uma das palavras do momento, ganham cada vez mais adeptas no país e fora dele.

“Aqui trocamos informações sensíveis e transformadoras que não nos ensinaram na escola, em casa, na consulta ginecológica e nem mesmo em rodas de conversas mais íntimas”, diz a descrição do site do Prazerela, projeto da comunicóloga e psicanalista Mariana Stock, 35, e um dos que oferecem cursos do tipo.

Na Casa Prazerela, QG de Stock localizado na zona oeste de São Paulo, ela ensina mulheres a se deleitarem com e para elas mesmas, não só para o outro. 

“Isso ninguém ensina: ser boa para você antes de qualquer coisa”, diz a psicanalista. “A autonomia e a liberdade passam pelo resgate do corpo, das sensações e da autorização para sentir prazer.”

A economista Ana Carolina Zogno, 39, conheceu o núcleo em janeiro de 2018 e decidiu marcar uma consulta por curiosidade. Fez cinco sessões de terapia orgástica, definida por Stock como “uma experiência individual de ampliação de consciência”. Cada uma delas dura cerca de duas horas e inclui muita conversa, toques sutis pelo corpo para “acordá-lo” e massagem genital —às vezes, com ajuda de um vibrador.

“Foi sensacional. Tive umas sensações muito malucas”, conta. “Antes, tinha orgasmos que achava que eram legais, mas comecei a perceber que não eram. Descobri que tinha questões comigo mesma.”

Ana diz que tudo “flui muito naturalmente” nos encontros. A desconstrução da ideia de que é preciso ser “boa de cama” para o outro e a percepção de que o ato depende menos de fantasias do que de sensações físicas para ser bom foram algumas das lições que tirou no processo.

Os cursos online do Prazerela são outra frente de trabalho de Stock. A grande procura pela modalidade a distância das aulas levou a psicanalista a anunciar uma nova turma neste mês. A primeira, em novembro, teve cerca de 250 alunas.

O curso é composto de oito módulos de aulas, nos quais ela discorre sobre assuntos como a relação entre mente e prazer, tipos de orgasmo e pontos erógenos do corpo. 

Stock criou o Prazerela em 2017, após largar a carreira no mundo corporativo. Para ela, faltavam pessoas que levantassem a bandeira da sexualidade feminina positiva. Antes de mergulhar nos estudos sobre sexualidade, diz, o orgasmo “era uma loteria”.

A psicanalista também toca outros projetos, como educação sexual em escolas, cursos voltados para idosas e capacitação de ginecologistas —a primeira turma, com 15 mulheres, foi formada neste mês, e já há outro treinamento agendado para setembro.

“É um divisor de águas falar de saúde sexual da perspectiva positiva, do prazer, da potência, e não do ponto de vista patológico”, afirma. 

O I Love My Pussy (algo como “eu amo a minha vulva”) é outro curso do tipo em São Paulo. Criado há três anos pela escritora e filósofa Carol Teixeira, 39, tem como diferencial a abordagem espiritual e tântrica.

“Uma relação boa com nosso corpo e com nossos orgasmos leva a uma vida criativa, poderosa, de autoconfiança. O orgasmo cura”, diz a descrição do evento em um site. 

“Percebi que libertar uma mulher é levar empoderamento para o corpo. Não adianta ficar horas falando [sobre sexualidade], preciso ir a âmago dela”, diz Teixeira. 

A primeira parte do curso, que costuma reunir entre 40 e 60 mulheres, é de catarse, explica Teixeira. Consiste na desconstrução de crenças e na externalização de mágoas e traumas. “Não dá para resolver a questão da mulher que nunca teve um orgasmo indo apenas na genitália. É preciso percorrer um caminho.”

Em seguida, ensina técnicas de tantra e realiza um “ritual de autorização do prazer feminino”, no qual faz uma massagem em uma voluntária no centro de uma roda e estimula um orgasmo. A ativação do clitóris, afirma, evoca a kundalini, uma energia que representa a força criativa.

As alunas, então, ganham um vibrador para testar nelas mesmas. Enquanto isso, Teixeira explica como usar o item e em quais pontos tocar.

A filósofa explica, contudo, que atingir o orgasmo não é o objetivo central do curso. Se rolar orgasmo, ótimo. Mas há outras coisas a serem trabalhadas ao longo da imersão, que dura um dia inteiro.  

Segundo ela, a procura pelo curso aumentou em torno de 20% desde o ano passado. O próximo passo será levar os ensinamentos até Miami, nos Estados Unidos, e a Portugal.

Teixeira também capitaneia um retiro tântrico de quatro dias em Caraíva, na Bahia, duas vezes ao ano, para casais. A proposta é “harmonizar o masculino com o feminino”, incluindo os homens no processo de descoberta da potência sexual.

Há ainda no cardápio de cursos o OMGYes.com, espécie de Netflix do prazer feminino criado pelos americanos Lydia Daniller e Rob Perkins. A atriz Emma Watson, que em 2014 foi nomeada embaixadora da boa vontade da ONU Mulheres, é uma das embaixadoras da iniciativa.

O canal tem 62 vídeos, produzidos com base em uma pesquisa realizada com mais de mil mulheres sobre prazer. Ele foi criado em parceria com o Instituto Kinsey, baseado na Universidade de Indiana.

Os vídeos prometem ensinar técnicas de prazer que incluem lições sobre controle de orgasmo, maneiras de se concentrar e ritmo dos toques. Para ter acesso ao conteúdo, a usuária deve desembolsar US$ 25 (R$ 101).

O sucesso culminou em uma segunda temporada, lançada em abril, que tem 82 vídeos e é focada em “questões internas”, tais como penetração, ponto G e ejaculação feminina. Ainda não foi traduzida para o português. Uma terceira temporada está a caminho.

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