Polícia de SP investiga milionária que registrou dois filhos no intervalo de oito meses

Suspeita é de que um dos bebês era de outra família; empresária nega irregularidades e diz ser vítima de calúnias

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São Paulo

A empresária e socialite Paola Mantegazza, 53, é alvo de uma investigação da Polícia Civil paulista sob a suspeita de ter registrado o filho de uma outra pessoa como se fosse dela.

O inquérito foi aberto após o recebimento de uma denúncia anônima, na qual o denunciante afirma que um menino que Paola registrou como seu filho é, na verdade, filho de uma mulher que morava em uma invasão que existiu em Guarulhos até 2016.

Não há detalhes sobre em quais as circunstâncias a empresária teria tomado posse da criança mas, por lei, só o registro falso de nascimento já é passível de reclusão de 2 a 6 anos.

Como já se passaram quase 20 anos do suposto crime, e assim, já prescrito por lei, a polícia continua a investigação para analisar em quais circunstâncias ocorreram o registro da criança e descartar, eventualmente, a possibilidade de outros crimes ainda passíveis de punição.

 
Modelo de uma certidão de nascimento brasileira
Modelo de uma certidão de nascimento brasileira - Divulgação

Paola é uma das herdeiras da família criadora da farmacêutica Mantecorp, comprada em 2010 pela Hypermarcas por um valor estimado em cerca de R$ 2,5 bilhões.

A polícia decidiu abrir a investigação por alguns motivos. Um deles é a diferença em relação a outro registro de nascimento feito pela empresária meses antes, também em São Paulo.

O registro investigado pela polícia ocorreu em 13 de novembro de 2000. Nessa data, Paola diz ter dado à luz o filho a quem deu o nome de David, nascido no hospital Sant Germany, em São Paulo.

O que chamou a atenção dos policiais é que a empresária havia registrado, em 2 de março do mesmo ano, o nascimento de outro filho, a quem deu o nome de Luca, este vindo ao mundo no Hospital Israelita Albert Einstein, também na capital paulista.

Assim, a diferença entre um nascimento e outro seria de 256 dias, ou oito meses. Mas a segunda criança só poderia ter nascido com, no máximo, seis meses de gestação, porque, segundo o especialista Renato Kalil, ginecologista e obstetra, quando a mãe está amamentando o nível de prolactina aumenta e isso inibe a ovulação, além de haver um período de recomposição do próprio útero.

O médico, no entanto, não considera impossível que os nascimentos tenham ocorrido dessa forma.

As suspeitas sobre tal nascimento aumentam em razão do hospital apontado por Paola no registro de nascimento, o Sant Germany. Em consulta ao Ministério da Saúde e Secretaria da Saúde do município, não existe registro de tal estabelecimento na capital paulista.

Procurada, Paola não soube dizer onde fica o hospital. “Eu não sei os hospitais. Cada filho meu nasceu em um hospital diferente”, disse. Ela nega qualquer irregularidade. “[Isso é] fofoca, maldade, para prejudicar meus filhos”, afirmou.

De acordo com a Secretaria de Segurança, foram solicitadas informações aos dois hospitais, Albert Einstein e Sant Germany. Além disso, também foi solicitado à Justiça que determine aos responsáveis pelo 28º Tabelião de Registro de Pessoas Naturais de São Paulo, onde as crianças foram registradas, que informe sobre as declarações de nascidos vivos ali arquivadas.

Para registrar o nascimento de criança nascida em um hospital, é necessário um documento fornecido pelo estabelecimento dando detalhes do parto.

Em razão de divergências nas informações recebidas, ainda segundo a polícia, os pais dos dois jovens serão ouvidos para explicação. O depoimento do pai, Usny Serafim, chegou a ser marcado e foi adiado a pedido do empresário. Uma nova data esta sendo marcada. Na sequência, deve ser ouvida Paola.

Outro lado

A empresária afirma que denúncia feita contra ela se explica devido a uma separação litigiosa na Justiça. “Toda essa confusão envolve um divórcio litigioso muito feio, de agressão, de uma coisa abusiva. Então, essas bobagens, essas fofocas, estão saindo dessa situação”, disse. “Não é a primeira vez que isso acontece. Você não é o primeiro a ter esse tipo de questão em mãos. Já passei por isso outras vezes.”

Sobre o hospital em que o filho David nasceu, ela disse não se lembrar onde fica. “Eu não tenho filhos há muito tempo, eu já passei da idade. Eu não sei os hospitais. Cada filho meu nasceu em um hospital diferente. Então eu não sei que fim teve o hospital. O único hospital mais conhecido é o Einstein. Eu tenho oito filhos e todos eles nasceram em lugares diferentes. Por isso, os detalhes dos hospitais eu não sei.”

Perguntada sobre se o filho nasceu prematuro, a empresária solicitou que seu advogado fosse procurado para comentar, mas o advogado também não deu detalhes.

“Nós não tivemos acesso à investigação, mas essa história é um absurdo completo. Não faz nenhum sentido”, afirmou o advogado Luiz Cintra. “Não [respondo sobre datas de nascimento]. Se tiver a investigação, vamos responder no curso da investigação.”

A Folha não conseguiu contato com Usny Serafim.

 
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