Após anulação na Justiça, Prefeitura de SP arquiva inquérito contra ex-diretor milionário

Hussain Aref Saab acumulou 106 imóveis; Justiça mandou prefeitura arquivar processo administrativo

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São Paulo

​A Prefeitura de São Paulo arquivou, sem punições, o inquérito administrativo que investigava as supostas irregularidades praticadas pelo ex-diretor Hussain Aref Saab, 75, famoso funcionário público municipal que acumulou uma centena de imóveis no período em que foi responsável pela aprovação de obras na capital.

O caso Aref, como ficou conhecido, foi revelado pela Folha em 2012, época da gestão de Gilberto Kassab (hoje no PSD), e provocou a abertura de uma série de investigações por parte da Promotoria e a instauração de um procedimento administrativo pela prefeitura, arquivado no último dia 9.

A Justiça determinou, porém, no início deste ano, a nulidade deste inquérito ao considerar prescritas as eventuais punições que essa investigação poderia eventualmente culminar. Com isso, Aref não teve punição determinada na esfera administrativa.

Segundo site da prefeitura, o inquérito arquivado foi aberto em 2014, na gestão Fernando Haddad (PT), investigava irregularidade na expedição de alvará de aprovação e execução de obra.

Entre as punições possíveis para o inquérito estaria a cassação da aposentadoria de Aref. No entanto, após recorrer a várias instâncias na Justiça, a prefeitura foi obrigada a arquivar o inquérito.

Conforme a Folha revelou em 2012, o diretor do Aprov (antigo setor responsável pela liberação de obras ligado à Secretaria de Habitação), Hussain Aref, foi acusado de comandar um esquema de liberação de construções de médio e grande porte depois de pagamento de propina.

Operação policial de busca e apreensão contra Hussain Aref Saab, realizada em 2012
Operação policial de busca e apreensão contra Hussain Aref Saab, realizada em 2012 - Luiz Carlos Murauskas/Folhapress/14-06-2012

Mesmo ganhando à época um salário bruto da prefeitura de R$ 9.400 (incluindo aposentadoria), e outros R$ 10 mil mensais com aluguéis, Aref conseguiu adquirir 106 imóveis nos pouco mais de sete anos em que permaneceu no cargo.

Réu em ações das áreas criminal e civil, Aref e sua mulher tiveram os bens bloqueados. Em 2013, a Justiça de SP arrecadava cerca de R$ 200 mil mensais só com os aluguéis dos imóveis administrados por ela.

Aref, que tem delicado estado de saúde, sustenta que é inocente. Segundo ele, o patrimônio foi construído honestamente e parte dos imóveis e herança de família.

De acordo com a gestão Bruno Covas (PSDB), a decisão judicial reconheceu nulidade do inquérito administrativo e não houve decisão por parte da prefeitura. “A administração cumpriu a decisão do Judiciário e arquivou o inquérito administrativo”.

O caso Aref serviu de motivação para a prefeitura criar um sistema em que os funcionários são obrigados a informar seu patrimônio. Em caso de suspeita de enriquecimento ilícito, os funcionários eram investigados e eram demitidos a bem do serviço público.

A primeira reportagem da Folha foi publicada no dia 14 de maio de 2012. No dia 17, o grupo especial do Ministério Público de São Paulo que investigava a lavagem de dinheiro abriu inquérito para apurar a origem dos bens de Aref.

Na época, a Promotoria disse que utilizaria na investigação os casos revelados pela Folha de suposta ligação entre imóveis adquiridos pelo servidor e aprovação de processos de responsabilidade do setor ligado a Aref.

  • No dia 14 de junho de 2012, uma ex-diretora financeira da BGE, empresa do grupo Brookfield, disse que a multinacional pagou, entre 2008 e 2010, R$ 1,6 milhão em propinas para liberar obras irregulares nos shoppings Higienópolis e Paulista, em SP.

Em entrevista à Folha, Daniela Gonzalez afirmou que a empresa que administra vários shoppings pagou propina a Aref.

Segundo Daniela, Aref recebeu suborno dos dois shoppings em vários momentos. Em um deles, no valor de R$ 133 mil, teria facilitado a liberação de obra no Higienópolis, apesar de o local não cumprir exigências legais.

O processo principal contra Aref segue correndo desde aquele período e, segundo a reportagem apurou, está próximo da fase da sentença.

Questionado sobre este processo, o Tribunal de Justiça afirmou que a ação por improbidade administrativa “seguiu seu curso normal, com citações, cumprimento de prazos, juntadas de documentos, intimações, manifestações, realização de perícias, interposição de recursos, entre outras movimentações processuais que foram constantes no curso da ação”.

“No momento, o feito aguarda decisão de agravo de instrumento que discute pedido de conexão desta ação com outro processo em andamento na 4ª Vara da Fazenda Pública”, diz o TJ, em nota.

A defesa de Aref foi procurada, mas não se manifestou.

Após a publicação desta reportagem, a Brookfield enviou nota em que afirma que as denúncias contra e empresa são infundadas e que foram feitas pela ex-diretora financeira da BGE ( Brookfield Gestão de Empreendimentos Ltda), Daniela Gonzalez, "como retaliação por ter sido demitida em razão de desvios de conduta e ilegalidades que praticou no exercício de suas funções".

"Além disso, depois de anos de investigação, nenhuma das denúncias contra a empresa foi efetivamente comprovada. Pelo contrário, diversos inquéritos civis e policiais já foram arquivados por ausência de provas, e Daniela Gonzalez, por sua vez, vem sendo derrotada, sistematicamente, em todas as demandas judiciais em que contende com a BGE", diz a empresa.

A nota afirma que o assunto é "objeto de ação penal proposta pelo Ministério Público de São Paulo e que, inclusive, foram determinantes para a ordem de expedição de mandado de prisão contra ela e seu marido, incluem o aproveitamento de cargo que tinha para obtenção de vantagem indevida e desvio de dinheiro, utilizando-se de terceiros para dificultar a identificação das irregularidades".

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