Damares ameaça entrar na Justiça após Folha revelar omissão de dados sobre violência infantil

Para ministra, jornal terá de reparar 'dano a credibilidade' de sistema de proteção

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Americana (SP)

A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, ameaçou nesta segunda-feira (24) entrar na Justiça após reportagem da Folha revelar a omissão de dados sobre violência infantil em relatório de direitos humanos divulgado por sua pasta.

"Amigos, a gerra [sic] contra o crime organizado que sustenta a pedofilia não é fácil. Vão inventar todo tipo de mentira possível para nos desacreditar. Avisamos que não seria fácil nossa luta", afirmou Damares na primeira de uma série de postagens no Twitter nesta manhã.

"Vejam que tudo o que temos feito é trabalhar para melhorar o atendimento. Antes, quem quisesse denunciar ficava até 50 minutos ao telefone. Hoje, é atendido em menos de um minuto. E pode realizar essa denúncia instantaneamente no app, site ou Telegram", acrescentou.

"Tudo o que fazemos é trabalhar para aperfeiçoar um sistema e uma rede de proteção que sempre foram falhas [sic]. E vem uma reportagem desses atribuiu a esta gestão problemas históricos."

E concluiu: "Não nos silenciaremos. Nossa resposta virá pela Justiça. Terão que reparar o dano causado à credibilidade deste que, muitas vezes, é o único refúgio das vítimas de violência".

A ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) - Pedro Ladeira - 29.jul.20/Folhapress

A reportagem da Folha mostrou que o relatório Disque Direitos Humanos omitiu as informações sobre o encaminhamento e as respostas dadas a todas as denúncias de violações recebidas, entre elas as de violência infantil, feitas aos órgãos de apuração e proteção. No caso da violência contra crianças e adolescentes, o total foi de 86.837 denúncias em 2019.

O maior volume de casos diz respeito a negligência (38%), enquanto a violência sexual representa 11% das denúncias. É computada ainda a incidência de violência psicológica (23%), violência física (21%), exploração do trabalho (3%), entre outras.

A questão é que não se sabe que encaminhamento foi dado às denúncias recebidas —nem mesmo se alguma providência foi tomada.

Nos relatórios dos anos anteriores, o índice de resposta é baixo. Em 2018, apenas 13% das denúncias encaminhadas tiveram resposta, na média dos diversos órgãos encarregados de receber e apurá-las, bem como de proteger os violados —como conselhos tutelares, órgãos de segurança pública , corregedorias e outros. Em 2017, 15% do total de denúncias recebidas tiveram resposta.

Questionado pela Folha na semana passada, o ministério de Damares respondeu que a exclusão dos dados foi uma "decisão editorial adotada pela ouvidoria", mas que todas as denúncias recebidas tanto pelo Disque 100 quanto pelo Ligue 190 (Central de Atendimento à Mulher) e a própria Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos são encaminhadas.

Afirmou ainda que a ouvidoria trabalha em um novo modelo de apresentação dos dados, que será apresentado ao público em setembro.

Por fim, afirmou, sobre os baixos índices de retorno dos anos anteriores, que "não há obrigatoriedade dos órgãos destinatários em realizar esse processo inverso".

Em nota publicada no site do governo federal, o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos afirma que "a omissão de dado em relatório está muitíssimo distante de representar desmonte de ações de combate ao abuso de crianças".

​"Adotando a mesma metodologia equivocada das gestões anteriores, contata-se que o total de encaminhamentos em 2019 foi 17,9% superior a 2018, representando 305.403 contatos junto aos órgãos da rede de proteção", diz a nota.

O ministério afirma que os números da Ouvidoria "são incongruentes e, por isso, não mereciam ainda fazer parte do relatório mencionado. Ainda, segundo o governo, esses dados "estão disponíveis e podem ser consultados por qualquer cidadão, mediante pedido de acesso à informação".

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