Descrição de chapéu Obituário Luiza Câmera (1945 - 2020)

Mortes: Botou na rua o bloco das pessoas com deficiência

'Aqui nós mandamos o nosso recado para o mundo', dizia Luiza sobre a folia baiana

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São Paulo

Fundado há 24 anos pela bibliotecária e ativista Luiza Câmera, o bloco carnavalesco Me Deixa à Vontade desfila todo ano pelas ruas do circuito Osmar, no centro de Salvador, como forma de abrir espaço para as pessoas com deficiências na Bahia.

Centenas de deficientes físicos, visuais, intelectuais e auditivos divertem-se ao lado de amigos e familiares e combatem o preconceito.

Fundadora do bloco, Luiza era também presidente da Abadef (Associação Baiana de Deficientes Físicos) e referência na busca pelos direitos dos deficientes físicos.

Mulher em cadeira de rodas no Carnaval
A ativista Luiza Câmera no Carnaval de 2019, no bloco que fundou para dar visibilidade às pessoas deficientes - Michele Brito / Ascom SJDHDS

"Aqui nós mandamos o nosso recado para o mundo”, costumava dizer sobre a presença marcante no Carnaval baiano.

Luiza morreu na quarta-feira (19), aos 75 anos, vítima de infecção pulmonar. Ela estava internada havia duas semanas no Hospital da Bahia. A ativista teve Covid-19, recebeu alta, mas voltou ao hospital por causa da infecção.

Nascida em Itabuna, no sul da Bahia, ela morava em Salvador desde criança.

Convivia com as deficiências físicas desde a juventude. Foram causadas pela doença de Still, que, em casos mais graves, pode levar à destruição das articulações devido a inflamações. Luiza perdeu os movimentos das pernas e usava uma cadeira de rodas.

Ao longo da vida, a ativista tinha orgulho em contar as suas conquistas, que transformava em incentivo para outras pessoas. Ela não aceitava, por exemplo, o fato de jovens com deficiência não terem a oportunidade de estudar.

Na década de 1980, fundou a Abadef, localizada no bairro Campo Grande, em Salvador, e não parou mais.

No movimento social, seu lema era mostrar que a deficiência não deve ser escondida e que ninguém precisa ter vergonha.

Ela casou, teve duas filhas e contou suas vivências em dois livros, "Não se Cria Filho com as Pernas" e "Mulher da Vida".

Manifestações públicas, protestos e pressão política fizeram parte da trajetória de Luiza na defesa dos direitos das pessoas deficientes. Em 2015, ela recebeu do Senado a comenda Dorina Nowill como personalidade que contribuiu para a causa.

A morte da ativista foi lamentada pelo governador da Bahia, Rui Costa (PT), que a chamou de guerreira.

"Lutou de forma incansável pelos direitos das pessoas com deficiência. Referência na Bahia e no Brasil, ela deixa um legado de muito trabalho por inclusão e respeito", disse.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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