Para 46%, gestão de Bolsonaro em combate ao desmantamento na Amazônia é ruim ou péssima

Trabalho do presidente é mais mal avaliado que os de ministério, entidades civis e Forças Armadas, mostra Datafolha

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São Paulo

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem a pior avaliação dentre os entes responsáveis pelo combate ao desmatamento da Amazônia, como governos estaduais, o Ibama e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

Floresta cravejada de áreas abertas para mineração
Em sobrevoo realizado em maio de 2020, em Roraima, Greenpeace registrou invasão de garimpeiros na Terra Indígena Ianomâmi. O desmatamento nas terras indígenas aumentou 64% nos primeiros quatro meses de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019 - Chico Batata/Greenpeace

Para 46% dos brasileiros, o trabalho de Bolsonaro para impedir a derrubada da floresta é considerado ruim ou péssimo. Os governos estaduais são avaliados de forma negativa nesse quesito por 42% da população; Salles e o vice-presidente Hamilton Mourão, por 38%; o Ibama e a Funai, por 20%, e o Exército, por 19%.
Outros 27% avaliam a atuação de Bolsonaro como ótima ou boa, 25%, como regular e 2% não souberam responder.

Os resultados são de pesquisa Datafolha contratada pela ONG Greenpeace Brasil. Foram entrevistadas por telefone 1.524 pessoas acima de 16 anos, em todas as regiões, de 6 a 18 de agosto, e a margem de erro é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos.

A pesquisa mostra ainda que a maioria (87%) dos brasileiros considera muito importante preservar a Amazônia, e 93% afirmam ser possível ganhar dinheiro protegendo a floresta e incentivando atividades sem desmatamento.

Os entrevistados têm uma percepção condizente com a realidade quando o assunto é aumento da mata derrubada: 73% avaliam que o desmatamento sobe em 2020.

O desmatamento na região avança e deve ser pior em 2020 do que no primeiro ano sob Bolsonaro, quando já saltara. Foram 14 meses seguidos de aumento até julho, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Com dados somente até o dia 16 de outubro, o desmatamento já superou os números do mesmo mês inteiro de 2019 e pode atingir valor recorde.

Desde a época em que era candidato à Presidência, em 2018, Bolsonaro tem feito acenos ao agronegócio, recebido apoio da bancada ruralista e criticado a fiscalização do Ibama. Também já repetiu muitas vezes que o país tem um excesso de unidades de conservação e de terras indígenas.

“O governo tem uma visão atrasada de desenvolvimento”, afirma Cristiane Mazzetti, porta-voz do Greenpeace. “A avaliação de Bolsonaro é muito ruim e, ao mesmo tempo, ele é um ator ao qual as pessoas atribuem grande responsabilidade para combater o desmatamento. Temos uma responsabilidade que não tem sido bem executada.”

“O presidente é uma liderança. O que ele fala tem impacto grande. E o interessante é que a população está questionando esse tipo de discurso para a Amazônia”, afirma Suely Araújo, especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima, rede com mais de 50 ONGs, e ex-presidente do Ibama.

Ao mesmo tempo em que o trabalho de Bolsonaro tem a pior avaliação da pesquisa, povos indígenas, ONGs ambientais, o Exército e Ibama/Funai são positivamente classificados pelos entrevistados no combate ao desmatamento.

Os povos indígenas lideram —49% da população considera que eles fazem um bom ou ótimo trabalho para manter a floresta em pé. De fato, as terras indígenas apresentam taxas mais baixas de desmate.

Para 40% da população, o Exército também faz um trabalho bom ou ótimo. Na prática, porém, o trabalho das Forças Armadas não tem se refletido em diminuição de atos ilícitos. Os militares estão na Amazônia desde maio e, mesmo assim, queimadas e desmatamento ilegais continuam com números elevados.
“Fiscalização ambiental é um trabalho especializado”, diz Araújo sobre os resultados.

O Ibama e a Funai, o ministro do Meio Ambiente e o presidente têm a maior responsabilidade no combate ao desmatamento, segundo a pesquisa Datafolha: são considerados muito responsáveis por 77%, 75% e 72% da população brasileira, respectivamente.

Mas, se o trabalho de Bolsonaro é mal avaliado, 37% dos entrevistados consideram a atuação de Ibama e Funai boa ou ótima, e 41%, regular.

Para Araújo, apesar das críticas do presidente ao Ibama, está consolidada no ideário nacional a percepção de que quem cuida da Amazônia é o órgão. “Criou-se uma marca de fiscalização forte e rigorosa.”

Para 89% dos entrevistados madeireiros causam muito desmatamento; em seguida, vêm garimpeiros e grandes fazendeiros e criadores de gado.

Não há dúvidas de que as ações dos dois primeiros também impactam a floresta, mas pesquisas apontam que o agronegócio é o principal ator envolvido no desmatamento da Amazônia hoje.

Por fim, um dado chama a atenção: questionados sobre fontes de informação confiáveis em relação à Amazônia, 33% dos brasileiros afirmam confiar mais em cientistas, mas 18% dizem ter mais confiança em autoridades do governo Bolsonaro, mesma porcentagem que cita a imprensa.

Autoridades do governo e o próprio presidente têm distorcido dados científicos e desmerecido entidades de pesquisa nacional, como o Inpe.

“De toda forma”, diz Araújo, “a importância que a população dá à Amazônia pode ser útil na reformulação de posicionamento de governantes”.

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